Entre a devastação e a contaminação
Entre o fim da cidade e o começo da mata
Depois do urbano, do periférico e do rural
Lá onde não vemos e nem queremos ver
Lá onde os morros são devastados para dar origem a novas ruas e bairros
Lá onde almeja-se o desenvolvimento
Lá-aqui para milhões de pessoas, minerais, animais e vegetais
É lá para onde é arrastado um rastro sem igual
Um rastro de lixo, de plástico, de gente e seus eventos
Seus cotidianos e celebrações
Que vão sendo depositados pouco a pouco, dia a dia, um a um, no solo
Na água, no ar, dentro da terra da folha da alface
Que o agricultor orgânico planta
O rastro desse lixo contamina fungos, bactérias, pessoas
Que trabalham para ter acesso ao consumo deste mesmo plástico
E depois descartá-lo
Que protestam pelo fim dos agrotóxicos mas pegam aviões
Que são vegetarianos mas usam adesivos
Que jogam seus restos na lixeira correta e acreditam que ele será reciclado
Que não tem como deixar, em suas vidas, de consumir e destruir tudo a sua volta
Que fingem que acreditam
Eles sou eu
Somos este conjunto de predadores ensimesmados e ávidos por lembrancinhas
Souvenirs, festinha personalizada, papel de presente, lojinha de 1 real cenografias
Tememos nossa morte e gastaremos quanto plástico for preciso para salvar nossas vidas
Mas todos os outros seres não precisam ficar, só nossa miséria melancólica tem importância
Que morram todos, que se destrua a cadeia alimentar
Precisamos – e vamos – manter nossa superioridade e alegria material-tecnológica em suposta evolução
Só não esqueçamos depois, diante da asfixia de toda a Terra, que são também e ainda eles que nos mantém de pé.
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Conheça mais o trabalho do artista
https://www.instagram.com/bolellireboucas/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente