Entre a devastação e a contaminação Entre o fim da cidade e o começo da mata Depois do urbano, do periférico e do rural Lá onde não vemos e nem queremos ver Lá onde os morros são devastados para dar origem a novas ruas e bairros Lá onde almeja-se o desenvolvimento Lá-aqui para milhões de pessoas, minerais, animais e vegetais É lá para onde é arrastado um rastro sem igual Um rastro de lixo, de plástico, de gente e seus eventos Seus cotidianos e celebrações Que vão sendo depositados pouco a pouco, dia a dia, um a um, no solo Na água, no ar, dentro da terra da folha da alface Que o agricultor orgânico planta O rastro desse lixo contamina fungos, bactérias, pessoas Que trabalham para ter acesso ao consumo deste mesmo plástico E depois descartá-lo Que protestam pelo fim dos agrotóxicos mas pegam aviões Que são vegetarianos mas usam adesivos Que jogam seus restos na lixeira correta e acreditam que ele será reciclado Que não tem como deixar, em suas vidas, de consumir e destruir tudo a sua volta Que fingem que acreditam Eles sou eu Somos este conjunto de predadores ensimesmados e ávidos por lembrancinhas Souvenirs, festinha personalizada, papel de presente, lojinha de 1 real cenografias Tememos nossa morte e gastaremos quanto plástico for preciso para salvar nossas vidas Mas todos os outros seres não precisam ficar, só nossa miséria melancólica tem importância Que morram todos, que se destrua a cadeia alimentar Precisamos – e vamos – manter nossa superioridade e alegria material-tecnológica em suposta evolução Só não esqueçamos depois, diante da asfixia de toda a Terra, que são também e ainda eles que nos mantém de pé.
O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.