Fronteira final. O vírus torna em brado retumbante, o sussurro fatal da intimidade brasileira. Desde as eleições de 2018, soam essas ameaças? Não, antes. No princípio, era o verbo: morrerás. Mais indigesta que a aterrissagem do alienígena é aceitar que ele sempre esteve aqui. É família. O novo normal é o gosto de água sanitária dessa cordialidade.
Estacionamos entre nossas paredes. Não me movo, mas parece que afundo. Afundamos em um país-pântano de ódios movediços. Os índices raciais dos óbitos pandêmicos, os números da violência doméstica, dos feminicídios, os de cima subindo e os de baixo descendo, indicam que os corpos mais matáveis ainda são os mesmos.
O ódio nacional é pornográfico porque é explícito. Face shields e pronunciamentos presidenciais dão o tom mezzo ficção científica mezzo chanchada à narrativa. Ora, ora, ora, um perdigoto descarrila o mundo e vocês pensando que irão para Marte…
Não há lado positivo, não há “aquilo de melhor que vou levar desse momento”. Há a lembrança (para quem pode dar-se ao luxo de esquecer) de que a fronteira final é a corpa. Sua capacidade de (re)produzir, sua ousadia de ser improdutiva. Esta guerra é sobre isso. Todas.
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Ficha técnica
Texto: Monalisa Silva
Criação e fotografia: Kabila Aruanda (@kabilaaruanda)
Performers: Juliana Lourenção (@julourencao), Monalisa Silva (@silva_monalisa_), Marina Medeiros (@marinamedeiros09)
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Conheça mais o trabalho do artista
https://www.instagram.com/kabilaaruanda/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente