Que histórias capturam você?

As histórias, não importa se imaginárias ou não, determinam as ações, as opiniões, os apoios, as discordâncias e muito mais. Determinam em quem se vota, quais leis se quer ver aprovadas. Tornam certos crimes naturais e crimes certos fatos naturais. George Monbiot, colunista do jornal The Guardian, chega a afirmar que “aqueles que contam as histórias dominam pelo mundo.”

O poder das narrativas, até mesmo daquelas que são frutos puros da imaginação, tem ficado ainda mais evidente nesses tempos de intensa atividade nas redes sociais virtuais. Falsas ou verdadeiras, certas narrativas pessoais conseguem repercussões e alcances antes restritos aos meios de comunicação de massa, que, por vezes, também publicavam, e ainda publicam, suas versões infundadas.

Em seu novo livro, Out of the Wreckage: A New Politics for an Age of Crisis (Para fora do naufrágio: Uma nova política para uma era de crise), George Monbiot discute, exatamente, esse atributo das narrativas.

Em sua visão:

“Você não pode tirar a história de alguém sem lhe dar uma nova. Não basta desafiar uma narrativa antiga, por mais desatualizada e desacreditada que seja. A mudança ocorre apenas quando você a substitui por outra. Quando desenvolvemos a história correta e aprendemos a contá-la, ela contagiará as mentes das pessoas por todo o espectro político.”

Ele acredita que adquirimos e mantemos nossas crenças através das histórias que nos são contadas e que internalizamos. “Histórias são os meios pelos quais navegamos pelo mundo. Elas nos permitem interpretar seus sinais complexos e contraditórios. Todos nós possuímos um instinto narrativo: uma disposição inata para darmos conta de quem somos e onde estamos”, pondera.

Como, então, tentar convencer as pessoas de nossas ideias? Uma vez incutidas, as crenças serão imutáveis para cada um? Monbiot sublinha que “a única coisa que pode deslocar uma história é uma história. Histórias efetivas tendem a possuir uma série de elementos comuns. Eles são fáceis de entender. Eles podem ser resumidos e rapidamente memorizados. Eles são internamente consistentes. Eles dizem respeito a personagens ou grupos particulares. Existe uma conexão direta entre causa e efeito. Eles descrevem um progresso – desde o início, passando pelo meio e chegando até o fim. O final resolve a situação encontrada no início, com uma conclusão positiva e inspiradora.”

Voltando seu olhar para a política, Monbiot assegura que “na política, há uma história recorrente que capta nossa atenção. É assim que funciona: a desordem aflige a terra, causada por forças poderosas e nefastas que trabalham contra os interesses da humanidade. O herói – que pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas – revolta-se contra esta desordem, combate as forças nefastas, supera-as apesar de grandes chances contrárias e restaura a ordem”.

Ele prossegue com duas histórias sobre a conduta adotada pelos países na economia. Em primeiro lugar aborda sua visão da história social-democrata que prevaleceu da Grande Depressão de 1929 até o final dos anos 1970.

“A história social-democrata explica que o mundo caiu em desordem – caracterizada pela Grande Depressão – por causa do comportamento egocêntrico de uma elite incontida. A captura, pela elite, tanto da riqueza mundial quanto do sistema político, resultou no empobrecimento e na insegurança dos trabalhadores. Ao se unirem para defender seus interesses comuns, as pessoas do mundo poderiam derrubar o poder desta elite, desapossá-los de ganhos ilícitos e reunir a riqueza resultante para o bem de todos. A ordem e a segurança serão restauradas sob a forma de um estado protetor e paternalista, investindo em projetos públicos para o bem público, gerando riqueza que garanta um futuro próspero para todos. As pessoas comuns da terra – os heróis da história – triunfariam sobre aqueles que as oprimiam.”

Em seguida descreve a história neoliberal que prepondera, desde o final dos anos 1970, até hoje.

“A história neoliberal explica que o mundo caiu em desordem como resultado das tendências coletivistas do estado supermoderno, exemplificado pelas monstruosidades do estalinismo e nazismo, mas evidente em todas as formas de planejamento estatal e todas as tentativas de construir resultados sociais. O coletivismo esmaga a liberdade, o individualismo e a oportunidade. Empresários heroicos, mobilizando o poder redentor do mercado, combateriam essa conformidade forçada, liberando a sociedade da escravidão do estado. A ordem seria restaurada sob a forma de mercados livres, oferecendo riqueza e oportunidade, garantindo um futuro próspero para todos. As pessoas comuns da terra, lançadas pelos heróis da história (os empresários que buscam a liberdade) triunfariam sobre aqueles que os oprimiam.”

Fatos, evidências, valores, crenças são subjugadas por histórias, pontua Monbiot. Por quais histórias você está capturado? Qual será nossa capacidade de formular uma nova história?

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