Sonhos Pandêmicos.
Seriam os idosos os primeiros a serem atirados ao mar para aliviar o peso do barco?
Pois é assim que sinto que está sendo com minha mãe nessa pandemia. Tanto na esfera pessoal, familiar, quanto nas falas do presidente do Brasil, quando afirmou que a Covid-19 só matava velhinhos e, portanto, não precisávamos nos preocupar.
Há alguns anos, venho desenvolvendo um trabalho performático com minha mãe sobre como nossa sociedade ocidental descarta os idosos. Baseado inicialmente no filme A Balada de Narayama, de Keisuke Kinoshita, onde, em uma pequena vila, com recursos muito escassos, um filho executa o tradicional ritual de levar sua mãe para o topo da montanha, para encontrar os deuses, e no conceito do antropoceno, onde o ser humano estaria afetando o planeta de tal forma, que passaria a ser considerado estarmos vivendo em uma nova era geológica.
Nesse sentido, o paradoxo entre deixar espaço para o novo e eliminar o antigo, mas, ao mesmo tempo, o futuro não poder existir sem o passado, é proposto como uma questão fortemente evidenciada durante a atual crise. Uma questão pulsante do aqui e agora. Do presente.
Os valores atuais, baseados em neoliberalismo, capitalismo e outros ismos, não servem se são exclusivos. Precisamos incluir e não excluir. O conceito de exclusividade se torna extremamente obsoleto, antiquado e indo mais além, antiético, diante das feridas expostas e das máscaras caídas nessa pandemia.
De forma lúdica, essa série fotográfica reflete sobre a fragilidade, a vulnerabilidade, mas também, sobre a força da rebeldia em tempos sombrios e de valores invertidos, e sobre a compaixão e solidariedade que são capazes de florescer, mesmo quando o ar está rarefeito, a luz é escassa e o espaço limitado.
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Minibio
Iara Guedes é uma artista multimidia vivendo essa pandemia com sua mãe e parceira artistica.
Conheça mais o trabalho da artista:
https://www.instagram.com/iara.guedes.art/
https://www.instagram.com/spirited.away.heroes/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente