Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #18 – Hélio Carlos Mello: Da Idade da Terra

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Da Idade da Terra

 

Meu amigo brasileiro, que parece japonês, me pede para dizer do presente, o passado que resiste, e não sei se há futuro dizível, mostro o que está ao alcance da mão.

Invento o canto que a solidão me dá nesse momento, relendo arquivos, nomeando fotos dos indíos, meu trabalho diário, na saúde indígena entre a equipe da universidade em que trabalho.

De repente fiquei em casa, no tal home office imposto aos que correm risco pelas safenas no peito. O trabalho caseiro, mesmo que a fotografia me revele o quanto esse país é grande e preciso, diverso, decidi mostrar os cantos de minha casa, pois é aqui que o futuro se impõe ao que vou fazer e suas soluções.

Inventar sempre foi um rumo, nessa terra árida, para quem à arte está condenado. Sinto que esse isolamento é chão, espaço comum do artista, talvez nisso resida na gente a resistência. Coisa de ferro de passar, chuveiro, aquecedores, torradeiras, filete de ferro em brasa.

Sigo acompanhando tantos que morrem, indígenas ou não, e tantos outros que seguem sendo mortos, de paulada, tiro, e com a fome de nós mesmos se metem em covas. Aqui seus algozes prosseguem.

De tudo fica um pouco, em cada canto, vestígios, marcas indeléveis. Apenas porque são rastos, insistem, tiram o sono.

Tão isolado fico, encabulado. Abro as pernas, é cocar, é borduna, são ossos. É a pedra e o caminho.

_

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

Hélio Carlos Mello

_

Para conhecer mais o trabalho do artista:

https://www.facebook.com/heliocarlos.mello

_

O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

POSTS RELACIONADOS

A poeta e o monstro

A poeta e o monstro

“A poeta e o monstro” é o primeiro texto de uma série de contos de terror em que o Café com Muriçoca te desafia a descobrir o que é memória e o que é autoficção nas histórias contadas pela autora. Te convidamos também a refletir sobre o que pode ser mais assustador na vida de uma criança: monstros comedores de cérebro ou o rondar da fome, lobisomens ou maus tratos a animais, fantasmas ou abusadores infantis?

110 anos de Carolina Maria de Jesus

O Café com Muriçoca de hoje celebra os 110 anos de nascimento da grande escritora Carolina Maria de Jesus e faz a seguinte pergunta: o que vocês diriam a ela?

Quem vê corpo não vê coração. Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental na classe trabalhadora.

Desigualdade social e doença mental

Quem vê corpo não vê coração.
Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental. Sobre como a população pobre brasileira vem sofrendo com a fome, a má distribuição de renda e os efeitos disso tudo em nossa saúde.

Cultura não é perfumaria

Cultura não é vagabundagem

No extinto Reino de Internetlândia, então dividido em castas, gente fazedora de arte e tratadas como vagabundas, decidem entrar em greve.

Macetando e nocegando no apocalipse

Macetando e nocegando

O Café com Muriçoca de hoje volta ao extinto Reino de Internetlândia e descobre que foi macetando e nocegando que boa parte do povo, afinal, sobreviveu ao apocalipse.