Itinerante. Essa palavra ecoou na minha cabeça, editando as imagens da fumaça na vegetação e mata no Pantanal. As pessoas se chocam com animais mortos. Fogo. Mas o preto e branco traz um tom brando e uma tristeza silenciosa que o amarelo e o laranja do fogo gritariam no tema.
Estava refletindo e editando essas imagens que fiz na Transpantaneira de dentro do carro na madrugada, onde só se avistavam vultos da vegetação, ou andando pelos caminhos em brasa por onde passava. Fumaça e cinzas. Silêncio. Fantasmas do que já se foram. Esqueletos.
Pensei muito na palavra Êxodo.
Como se as árvores e os animais estivessem de mudança ou tivessem sido expulsos de sua terra. E não é verdade? É uma fuga de um ditador burro. Ignorante. A fuga de uma mão tirana. Só o que ele pensa é no pasto para o seu gado. Fazendeiros. Gente estúpida que brinca com fogo. Êxodo.
Depois da raiva, me veio à cabeça a palavra Itinerante. Tem mais a ver com nosso Brasil. Aquele que viaja. Que se desloca. Nesse caso, por obrigação.
No final da edição, na frente do computador, bate a tristeza de saber que as imagens bonitas que transmitem paz e reflexão, são na verdade o retrato do inferno monocromático a que um povo e um bioma vêm sendo submetidos. É o inferno sim. É o fogo. O fogo é o Itinerante. É aquele que se muda e que se desloca pela mão do homem maligno. Do homem bicho. Monstro.
Só quem não arreda o pé é a dor. A dor não é itinerante. A dor é o fogo. E o fogo é constante. Só que o fogo Itinerante causa a fuga. A fuga daquilo que foi vivo ou quer se manter. Daquilo que nunca mais vai ser o mesmo.
Êxodo.
Minibio
Fotógrafo freelancer documental e publicitário, nascido em Abaetetuba, morando em Belém do Pará.
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente