Convivência. Projeções em prédios vizinhos. 2020
Convivência. Ação para tempos de isolamento
A palavra é um elemento substancial em meu trabalho, aparece em várias obras em diversos formatos, e é, ainda, instrumento de articulação dos contatos que estabeleço com desconhecidos em minhas ações urbanas.
No meu trabalho mais recente, que aqui apresento, as palavras foram lançadas no espaço. Projetadas, ganham corpo e aparecem como uma espécie de tatuagem sobre a pele dos prédios.
Durante a pandemia, as janelas têm sido um dos nossos meios de contato com o exterior, com o outro, o desconhecido que também está em sua janela buscando contato.
Comecei o trabalho usando palavras pensadas especificamente para este tempo de isolamento, como Calma, Fique Em Casa… Em seguida, comecei a escolher frases que me assombram ou comovem, retiradas da literatura, da filosofia, da música, de artistas que admiro e com os quais convivo virtual ou tangivelmente. Acredito que o assombro pode ser estendido a quem vê as projeções e, de alguma maneira, nos conectamos por meio dele.
Apropriei-me de frases de textos recentes de Eliane Brum, Ailton Krenak e Bruno Latour; fiz parcerias com Drummond, Chico, Gil, Caetano, Leminski e artistas visuais, como Lívia Aquino, Jorge Menna Barreto e Yoko Ono. Usei textos do projeto @reliquia.rum da antropóloga Débora Diniz e frases de meu neto de 4 anos.
Selecionar as palavras a serem projetadas é buscar contato também, é abrir espaço para o outro, em mim e no mundo.
Tenho recebido alguns retornos emocionados sobre as projeções, não de vizinhos reais, mas de vizinhos do espaço virtual, que veem as imagens que público nas redes sociais. O contato se estabelece. A convivência acontece, mesmo que à distância.
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Mini-bio
Ana Teixeira é artista visual, formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e mestra em Poéticas Visuais pela mesma escola. Seu trabalho transita por diferentes meios, com interesse particular pelo desenho e pelas intervenções em espaços públicos, tendo a literatura e o cinema como suas principais referências. Grande parte de sua produção nos últimos vinte anos teve a cidade e seus habitantes/passantes como elementos substanciais; mas também suas obras de ateliê – como desenhos, esculturas, objetos e vídeos – revelam que sua matéria-prima é o ser humano. Seu trabalho foca-se na ideia da arte como uma possibilidade de encontros, que podem ser, antes de tudo, enfrentamentos entre os sujeitos participantes de suas ações e eles próprios.
Publicou os livros: Minhas duas avós (infantil) e Para que algo aconteça, um apanhado de vinte anos de seu trabalho, com textos críticos de curadores e historiadores da arte.
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Conheça mais o trabalho da artista:
https://www.instagram.com/anateixeira.arte/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente