A gestão de Doria Jr (PSDB), governador de SP desativa os aparelhos de assistência à moradores em situação de rua na região da luz. São unidades do Atendimento Diário Emergencial (Atende). Já nesta quinta (22), a Secretaria de Segurança Pública realizou mais uma operação higienista na Cracolândia. A razão para tanto é a entrega de um condomínio popular que já entregou 916 apartamentos e pretende chegar aos 1130 nas próximas semanas.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que o Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (DENARC) deflagrou “na manhã desta quinta-feira (22), a Operação de Campo de Polícia Judiciária Cracolândia 2019” que conta com “566 agentes de segurança, entre policiais civis, Dope e Demarco, policiais militares do patrulhamento de área, do Trânsito e BAEP, ALÉM DE guardas civis metropolitanos, com apoio de cerca de 140 viaturas e uma aeronave da Polícia Civil “, para impretar “20 mandados de busca e apreensão e 21 de prisão na região”.
O coletivo A Craco Resiste, que defende a redução de danos, se manifestou por nota: “uma semana depois do governador João Doria admitir que pretende deslocar a Cracolândia para a zona norte, a Polícia Civil realiza uma grande operação na região da Luz. O motivo alegado da ação, que envolve ainda a PM e a GCM, é combater o tráfico. É importante lembrar que a operação de hoje acontece após o fechamento da maior parte dos serviços de atendimento às pessoas com uso abusivo de droga e em situação de rua. Há um esforço conjunto da Prefeitura e do Governo Estadual para esconder a aglomeração de gente pobre na região da Armênia” Leia a nota na integra https://www.facebook.com/1780530862198286/posts/2301919416726092/
Os usuários de drogas que estão na região da Luz, historicamente, desde os anos 2000 (aproximadamente) e que já tiveram uma série de políticas públicas que tratavam a questão como um problema de saúde, através do programa “De Braços Abertos”, da gestão do ex-prefeito, Fernando Haddad, sempre foram sistematicamente atacadas por ações violentas, veja lista mais abaixo das matérias feitas pelos Jornalistas Livres.
Segundo a população do entorno do fluxo, o real caráter da operação é remover, espontaneamente ou compulsoriamente, os usuários para uma outra área da Av. Zaki Narchi, região norte da capital, o que se concretizado, deverá ser o novo endereço da Cracolândia em São Paulo.
Com essa informação, de quem habita o território e presencia diariamente massivas e truculentas ações da Secretaria de Segurança Pública, dá para concluir claramente que depois de 2017, nada mudou: a Prefeitura de Bruno Covas e Governo de João Doria Junior não sabem lidar com a situação e tratam mais uma vez as pessoas pobres e vulneráveis como lixo, assim como moradores da região para poderem entregar promover a especulação imobiliária na cidade e agradarem seus amigos, donos de grandes construtoras.
A Guarda Civil Metropolitana atacou com bombas uma fila de pessoas que aguardava a distribuição de marmitas, por um grupo de voluntários na Cracolândia hoje (23/4).
Depois de fecharem todos os equipamentos de atendimento à população vulnerável na região, Covas e Doria aumentaram a repressão policial na Luz. A ordem é matar de fome, de sede e de doença.
Esta poesia que dá luz a realidade da população em situação de rua, é de Fábio Rodrigues (@prazer.poeta) – poeta e morador do território da Cracolândia.
Fábio decidiu viver de sua poesia, – poesia de rua, do fluxo. E agora, em tempos de pandemia, vê-se em quarentena a força criadora da poesia. Sem poder transitar e manguear, sua sobrevivência está em xeque.
O poeta necessita do apoio de corações carinhosos para que possa continuar ajudando, escrevendo e sobrevivendo em meio ao caos.
“Qual a saída para o poeta
que prioritariamente se apoia no comunicar,
se o momento pede distância –
até pelo simples ato de falar.
E o mais urgente premente,
onde poder recluso ficar,
se esse mesmo poeta,
por sinal mambembe
não dispõe do advento de um lar”
Ajude Fábio na caminhada, por mais poesia e informação nas ruas.
Qualquer quantia é válida!
Conta:
Pedro Bernardino Martine S
Bradesco: 237
Agência: 1236
C/c: 4603-5
CPF: 391.666.828/51
A Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, desfechou hoje mais uma ação com o propósito de “limpar” a região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack. Assim, cerca de 160 seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos, foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. Outras 50 pessoas preferiram ir a pé, seguindo para o mesmo endereço dos primeiros: Rua Prefeito Passos, 25, em um dos bairros mais degradados da cidade, região de cortiços, alta concentração de moradores de rua, de imigrantes e refugiados. O Glicério fica a dois quilômetros de distância da atual Cracolândia.
Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O atual governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma delas e que ficaram feridas. Covas aproveita-se do fato de todos estarem focados na pandemia de Covid-19 para tentar mais uma vez.
Chama-se “gentrificação” o processo de transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes. A idéia é expulsar a população de baixa renda e substituí-la por moradores de camadas mais ricas. É isso o que está em curso no centro de São Paulo: Gen-tri-fi-ca-ção.
Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje – Foto de Lina Marinelli
Para acabar de uma vez com a Cracolândia, a idéia dos “geniais” urbanistas que trabalham para a Prefeitura foi simples: retiraram de lá o único equipamento ainda existente para acolhimento, higiene, alimentação e encaminhamento médico para dependentes químicos vivendo em situação de rua no centro da cidade. Era chamado de Atende-2, e ficava na rua Helvétia, epicentro dos usuários de crack.
Crueldade das crueldades, fecharam o Atende-2, que atendia 185 pessoas, e fizeram isso em plena pandemia de Covid-19. Nem uma pia restou para lavar as mãos naquele pedaço. Segundo a Prefeitura, o mesmo serviço que era feito pelo Atende-2 será oferecido na Baixada do Glicério, agora rebatizado de Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).
Resta saber se o tráfico de drogas, que acontece hoje nas barbas das polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Metropolitana e do Corpo de Bombeiros, todos com bases no território da Cracolândia, topará também migrar seu negócio milionário para o Glicério. Se não topar, se continuar havendo oferta de drogas baratas nas ruas da Cracolândia, o fluxo de usuários certamente voltará para lá –agora, sem banho, sem lugar para dormir, sem pia, sem médicos. E isso em plena pandemia, quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Será morticínio certo.
Se o tráfico topar mudar o rolê para o Glicério, haverá alguma chance de que se torne realidade o sonho tucano de restaurar um pouco que seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território onde hoje se situa a Cracolândia.
Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois, “limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como “vencedores”.
A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes. Só terão mudado de endereço. Em vez do Centro, a várzea invisível. Mais do que Doria e Covas gostariam de admitir, o futuro do território onde está a Cracolândia depende muito mais do tráfico de drogas do que do poder público. E é o tráfico o próximo a jogar os dados…
EM TEMPO:
Quando essa reportagem estava concluída, a juíza Celina Kiyomi Toyoshima decidiu liminarmente impedir o fechamento da unidade Atende-2, situada na rua Helvétia. Ela determinou o restabelecimento das atividades na unidade fechada. A Prefeitura ainda pode pedir a revisão dessa decisão.
Aqui a decisão da juíza:
“Tendo em vista que o estabelecimento em questão é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis, e tendo em vista o perigo da demora, já que a medida está prevista para a data de hoje, defiro por ora a liminar, para que não sejam tomadas quaisquer medidas visando o fechamento da unidade ATENDE, localizado na Rua Helvétia, nº 57. Caso já tenha se iniciado o fechamento, as atividades deverão ser, por ora, reestabelecidas. Oficie-se. Após a vinda da contestação, a medida poderá ser revista.”