Direito à dignidade

 

Boletim Nº1 do grupo de trabalho de Formação dos Jornalistas Livres

Car@s companheir@s,
Estamos vivendo um momento muito triste. A violência policial ultrapassou há tempos o limite do suportável. Só que agora acertou a cabeça de um menino de 10 anos — e todo mundo viu. Há raiva, revolta, medo. Mas há também uma força gigante que move mães, pais, irmãos, avós, tios, tias e envolve todos nós na busca pela esperança.

A constatação de que a justiça é seletiva, de que o extermínio da juventude negra e pobre é uma escolha da polícia, uma diretriz de segurança pública e, portanto, uma responsabilidade do Estado, nos impõe, enquanto rede de veículos de jornalismo independente focado em direitos humanos e democracia, o dever de assumir uma posição.

Estamos do lado de quem é mais oprimido. De todas essas mulheres que não param de velar seus jovens. Somos parte do enfrentamento e da luta, não só no Alemão, mas junto com todos que passam diariamente por essas graves violações de direitos humanos. Diante disso, precisamos fazer o nosso trabalho com a maior qualidade possível.

Ao mesmo tempo, como é uma situação de comoção coletiva, é fácil ultrapassarmos a linha tênue que divide jornalismo e sensacionalismo. Como estamos lidando com vida e morte, com violência e muita dor, precisamos ser cuidadosos na cobertura. Nesta cobertura e em tudo o que diz respeito aos direitos humanos. Ainda mais quando há crianças envolvidas.

É preciso estar atento e forte.

Por conta da nossa natureza, sabemos cobrir bem o ao vivo, as manifestações. Essa é uma parte fundamental do nosso trabalho. Registrar o ponto de vista de quem está no chão, na caminhada. E obrigar a que essa história esteja contada. Isso é muito bom. Estamos também nos preparando para aprofundar nas reportagens, para mostrar o contexto em que as violações acontecem, como se dão, onde nascem, a responsabilidade das forças de segurança do Estado, as políticas públicas, as histórias das pessoas, os dados, as opiniões. A maneira com que faremos essa narrativa é igualmente importante.

Tudo isso nos dá a oportunidade de estabelecer novos padrões de cobertura. Se todos estiverem de acordo, gostaríamos de iniciar este crucial debate propondo três deles para hoje e os próximos dias:

• Jornalistas Livres não publicam imagens em que pessoas — especialmente crianças — são retratadas em situações degradantes.

• As exceções se impõem quando essas imagens forem denúncias e única prova de que determinada injustiça ocorreu. No entanto, se o vídeo ou a foto já estiver circulando pela rede (ou se a Globo, ou outra TV, já tiver exibido), não nos interessa. De qualquer maneira, essas imagens precisam necessariamente de cuidado, tratamento, contexto. Sabemos que é uma contra-mão da dinâmica de rede. Mas é importante assumir esse cuidado.

• Nenhuma vida vale mais que outra. Não faremos comparativo entre o assassinato do menino Eduardo e a morte do filho do governador, essa última tratada com muito mais cuidado pela mídia convencional. Não colocaremos uma em contraposição à outra. Porém, a morte causada por um agente do Estado é nosso foco de cobertura. Trataremos dela.

Devemos ser coletivamente responsáveis diante das graves violações de direitos humanos, agindo como ombudsmans uns dos outros e, sobretudo, de nós mesmos. Acreditamos no debate franco e aberto entre nós e com o público leitor, como instrumento de aprendizado coletivo.

Lembramos que nesta segunda-feira, dia 6 de abril, às 20h, acontecerá a oficina sobre a cobertura de “adolescentes em conflito com a lei/maioridade penal”. Muitos aspectos acerca dessas questões poderão ser abordados nessa conversa. E assim vamos alinhando a cobertura e imprimindo a nossa identidade. A oficina será transmitida ao vivo via internet, pel@s canais d@s #JornalistasLivres.

@s integrantes do GT de Formação se colocam à disposição para qualquer diálogo a respeito desses temas. Um abraço a tod@s.

Força, coragem e alegria para nós.

GT de Formação

 

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

Cultura não é perfumaria

Cultura não é vagabundagem

No extinto Reino de Internetlândia, então dividido em castas, gente fazedora de arte e tratadas como vagabundas, decidem entrar em greve.

Na frequência do ódio

Na frequência do ódio

O Café com Muriçoca, que passa a ser toda quinta-feira, reflete sobre a perseguição política e o cerceamento ideológico a quem rejeita a riqueza como estilo de vida aceitável.

As crianças e o genocídio na Palestina

As crianças são as mais vulneráveis, além de constituem metade da população que compõem a Faixa de Gaza, território considerado a maior prisão a céu