Diário do Bolso: a rainha do gado

José Roberto Torero*

Diário, me apaixonei!

A Michelle vai ficar chateada, mas eu me apaixonei. Fazer o quê? O coração é um bêbado saindo de um bar: você nunca sabe pra que lado ele vai. Nem ele.

E sabe me apaixonei por quem? Pela Regina Duarte!

Ontem, quando eu vi a entrevista dela na CNN, pensei: “Essa mulher foi feita pra mim. É minha Rainha do Gado.”

Quem mais ia falar com toda aquela cara de pau que “sempre houve tortura no mundo”?

Quem mais ia falar que não importa o que eu fiz no passado?

Quem mais vai falar que “não interessa o que aconteceu nos anos 60, 70 e 80, a gente tem é que olhar para a frente”?

Quem mais ia pegar o “pra frente” da frase anterior e começar a cantar “Pra frente Brasil, salve a seleção, de repente é aquela corrente…”?

Quem mais ia dançar na frente da câmera e dizer com cara de ai-que-saudade-da-ditadura: “Não era bom quando a gente cantava isso?”

Quem mais ia ter um chilique daqueles na tevê e ia chamar a Maitê Proença (aquela traidora!) de cadáver?

Quem mais ia dizer que “a covid está trazendo uma morbidez insuportável. Isso é perigoso para a cabeça das pessoas. Não tá legal, não tá legal…”

Ah, Diário, ela tem um pouco da loucura da Damares, um pouco da do Ernesto, um pouco da do Weintraub.

Fazer o quê? Apaixonei…

Sei que hoje devia escrever sobre o ataque-surpresaa que eu fiz no STF, levando um monte de empresário para imprensar o Toffoli. Mas é difícil. Só penso nela…

Sei que devia contar como foi genial aquele empresário que disse que vão morrer muitos CNPJs se a crise continuar. E devia tirar sarro dosdelicadinhosque reclamaram dizendo que os CPFs são mais importantes, e que já morreram mais de nove milpessoas e eu não invadi o STF por causa deles.

Pô, mas o quê esses canhotopatas queriam que eu fizesse?  Os CPFs vão pagar minha campanha em 2022? Não vão. Vão pagar milhões de zapsfakes pra mim? Não vão. Então que se lasquem, pô!

Ah, Diário…, daqui a dois anos vou me reeleger como rei, a Regina vai ser minha rainha e juntos nós vamos cantar: “Noventa milhões em ação…”

E até lá a música vai estar certa de novo, porque vai morrer mais da metade do país, kkk!

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

@diariodobolso

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