Embora pequenos, os aumentos recentes no emprego, no Brasil, deveriam gerar um otimismo maior do que temos verificado. As vendas no varejo continuam apresentando volumes decepcionantes: o trimestre terminado em setembro ficou estável em relação ao trimestre anterior, ou seja, as vendas não cresceram, nem caíram. Em 12 meses, o varejo ainda cai 0,6%.
Da mesma forma, o setor de serviços não traz boas novas: caiu em julho (0,8%), em agosto (1,0%) e em setembro (0,3%), além de acumular queda de 3,7% no ano de 2017. Como explicar o desânimo revelado por esses números do varejo e do setor de serviços?
O gráfico acima nos dá uma ideia precisa: embora os dados do IBGE venham indicando pequenas quedas no desemprego, há um contingente expressivo de pessoas, acima da casa dos 6 milhões, que trabalha menos horas do que poderiam e gostariam. Há, ainda, 7,5 milhões de pessoas, que compõem a força de trabalho potencial, cuja força de trabalho é igualmente subutilizada.
Vamos destrinchar os indicadores que compõem esse gráfico
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda que os países utilizem três indicadores para que consigamos visualizar um quadro mais completo da situação do trabalho e da subutilização da força de trabalho.
O primeiro indicador já é bastante conhecido entre nós: pessoas desocupadas. São pessoas, de 14 anos ou mais, que estavam sem trabalho na semana pesquisada, mas que estavam disponíveis para trabalhar e tentaram conseguir um trabalho. No terceiro trimestre de 2017 (julho-agosto-setembro), havia 12 milhões e 961 mil pessoas desocupadas no Brasil.
O segundo indicador é composto por aquelas pessoas que gostariam de trabalhar 40 horas por semana, mas só conseguem trabalho por períodos menores. São pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas. Havia, no Brasil, 6 milhões e 276 mil pessoas nessa condição, no 3o trimestre de 2017.
O terceiro indicador, recomendado pela OIT, é chamado de força de trabalho potencial são pessoas que gostariam de trabalhar, estavam disponíveis, mas não procuraram trabalho, somadas às pessoas que buscaram trabalho, mas não estavam disponíveis para trabalhar na semana pesquisada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo IBGE nesse 3o trimestre de 2017, revelou que a força de trabalho potencial era composta por 7 milhões e 525 mil pessoas.
No quadro abaixo podemos identificar os três indicadores os desocupados (letra D), os subocupados por insuficiência de horas (letra H) e a força de trabalho potencial (letra E). Ao somarmos os três indicadores chegamos à subutilização da força de trabalho: 26 milhões e 762 mil pessoas.
Somando o número de ocupados, de desocupados e a força de trabalho potencial chegamos à Força de Trabalho Ampliada, que nessa pesquisa somou 111 milhões e 783 mil pessoas.
A Taxa Composta da subutilização da Força de Trabalho é a divisão da subutilização da força de trabalho (subocupados por insuficiência de horas + desocupados + força de trabalho potencial) pela Força de Trabalho Ampliada. A pesquisa do IBGE revela, assim, que 23,9% dos trabalhadores brasileiros estão desocupados, subocupados ou fazem parte da força de trabalho potencial.
Em resumo, a economia brasileira não está sendo capaz de utilizar a força de trabalho total disponível de um em cada quatro trabalhadores ou trabalhadoras.
Nota:
1 Para ver o relatório do IBGE: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18012-pnad-continua-taxa-de-subutilizacao-da-forca-de-trabalho-fica-em-23-9-no-3-trimestre-2017.html
2 Para ver os dados do varejo: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/17935-em-setembro-vendas-no-varejo-crescem-0-5.html
3 Para os dados do setor de serviços: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18014-em-setembro-setor-de-servicos-varia-0-3-frente-a-agosto.html