IBGE vai contabilizar quilombolas em seu censo pela primeira vez

Através da mobilização da Conaq, IBGE contabilizará, pela primeira vez, a população quilombola. Pesquisa dará visibilidade para a comunidade
Comunidade Quilombola garante sua representação no Censo 2022 - Foto: Conaq

O Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai, pela primeira vez, contabilizar a população quilombola do país. A pesquisa foi iniciada na quarta-feira (17), quando os recenseadores começaram a recolher os dados. Através de um formulário com 77 perguntas, o levantamento vai mostrar como a comunidade se organiza e sua riqueza cultural. O IBGE estima que, até 2019, havia cerca de 5.972 comunidades quilombolas no país. 

A pesquisa ajudará a estabelecer políticas públicas para a população. De acordo com Maryellen Crisóstomo, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), o Censo ajudará para que se enfrente invisibilidade estatística da população quilombola no Brasil, que, desde o processo legal da escravidão, não possui dados oficiais do quantitativo de pessoas negras que foram trazidas passadas de África existentes nativos. 

“Tivemos o processo dito de abolição mas não proporcionou nenhum direito efetivo para a população negra quilombola. Somente com a Constituição Cidadã que foi reconhecida a população quilombola como sujeito de direito, mas políticas públicas efetivas ainda não são uma realidade para a maioria dos territórios.” afirmou Crisóstomo. Relata também que sempre que há tentativas de formular políticas públicas para a comunidade, esbarra na questão quantitativa que define quantas pessoas precisam ser abrangidas. 

Além disso, a falta de um censo colabora para problemas em relação ao território que ocupam, pois não são reconhecidos dentro de seus municípios e, hoje, sofrem com um processo de invasão. “As prefeituras não reconhecem, os estados não reconhecem, a própria União tem dificuldade de reconhecer. Então se o Estado tem na Constituição Cidadã assegurado o direito ao território e reconhece que existem povos quilombolas no Brasil, que seja ele a dizer a quantas pessoas essa política se destina. E isso só é possível por meio do censo”, conta Crisóstomo. 

No entanto, ela ainda ressalta que essa não é uma iniciativa voluntária do IBGE, mas sim resultado da luta da Conaq para a realização da pesquisa nas comunidades quilombolas. “A gente fez um um trabalho meio braçal, em 2019, de mobilizar as lideranças quilombolas para enviar a localização de seus territórios. [Com a] mobilização da Conaq, foram mapeadas 5.972 localidades quilombolas no Brasil em 1674 municípios”, afirmou Crisóstomo, que contou como colaborou para a preparação dos recenseadores para abordar os indivíduos da comunidade. A orientação foi desde como se portar dentro da comunidade e evitar vocabulários técnicos que afastem o entrevistado até  a diversidade que precisará ser representada.

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