Quatro pessoas foram detidas pela Polícia Militar durante uma manifestação ocorrida na Avenida Paulista na manhã desta sexta-feira (9), em São Paulo (SP). Um professor, dois estudantes e um profissional de imprensa foram encaminhados à delegacia.
Os manifestantes — estudantes, professores e pais — protestavam contra a proposta de “reorganização” da rede estadual de ensino, anunciada no fim do mês passado pela Secretaria de Educação, do Governo Geraldo Alckmin (PSDB). O ato, o segundo do ano sobre o tema, começou por volta das 8h e fechou as duas vias da Paulista.
Repressão
A atuação da PM contra a manifestação começou quando um policial abordou um rapaz negro que cobria o rosto, atraindo outros manifestantes que pretendiam impedir que o jovem fosse encaminhado à delegacia. P.N., estudante do ensino médio de uma escola da região central da capital, que acompanhava a manifestação, afirma que, após a abordagem ao rapaz, “a polícia distribuiu cacetadas nos que estavam em volta, e muita gente saiu machucada”.
P.N., como a maior parte dos presentes, não pertence a nenhum partido e compõe o Grupo Autônomo Secundarista, uma “organização independente”, segundo o estudante. De acordo com seu relato, no momento da abordagem da polícia, o jovem com pano no rosto “não fazia nada”. Um vídeo postado no Facebook, em uma página chama Território Livre, mostra o momento do ocorrido.
A atuação da Polícia resultou em quatro detidos, entre eles Caio Castor, fotojornalista do Coletivo Comboio. Rafael Vilela, fotojornalista da Mídia Ninja e dos Jornalistas Livres, concorda com a versão de P.N.. “A PM fez de tudo pra tirar eles [jovens com o rosto coberto], mesmo não tendo qualquer tipo de depredação”, afirma.
“A sensação que tive é que eles queriam tentar acabar com o ato na base do medo”, afirma Vilela, que ainda disse que as prisões por ele acompanhadas — de Caio e do professor Luiz Carlos, docente da escola Raul Fonseca, localizada no bairro da Saúde — foram “completamente sem razão”.
O próprio Vilela teve a sua atuação profissional limitada: “Eu tive dois momentos. No primeiro, fui impedido fisicamente de documentar a prisão do professor, com uso de violência, e, na sequência, sofri represália por conta do capitão Santos, que me atacou num momento de calmaria com um cassetete, atingindo a minha [lente fotográfica] objetiva, que foi quebrada”, relata.
Todos os detidos foram liberados na delegacia.
Proposta
A Secretaria de Educação anunciou no final de setembro um projeto de “reorganização” da estrutura escolar no estado. A pasta não liberou mais informações, mas, segundo dados obtidos pelo portal G1, mais de 400 escolas devem ser fechadas em todo o estado e mais de um milhão de alunos transferidos de unidade.
Para o estudante secundarista P.N., “se trata de uma medida meramente técnica e orçamentária, não pedagógica, que prejudica alunos e professores”. “A reorganização é só uma maneira de fazer os filhos da classe trabalhadora pagarem pela crise”.
Na opinião de Leonardo da Vincci, 19, aluno de EJA na escola Clara Montério, no bairro do Belém, região leste da capital, a medida afeta toda a “comunidade escolar”. Da Vincci é um dos criadores da página de Facebook “Não Fechem a Minha Escola”, que reúne relatos e manifestações de todo o estado.
“Alckmin afirma que vai reduzir a lotação das salas, gostaria de entender como isso é possível fechando escolas e cortando períodos”, questiona da Vincci. Segundo ele, cerca de 50 escolas na capital estão mobilizadas.
Carolina Ariar, professora de línguas e mãe de uma estudante do 9º ano na escola Américo Brasiliense, em Santo André, se mobilizou junto à filha contra as mudanças. “A reorganização das escolas em São Paulo nunca considerou os interesses dos estudantes”, afirma.
Ariar ressalta a ausência de diálogo com os estudantes, “as propostas de mudanças devem vir dos e das estudantes, que passam seis horas diárias trancados em estabelecimentos precários. Ao sair das escolas, não há qualquer perspectiva para o futuro”.
Um novo ato está previsto para o dia 15 de outubro, em frente ao Palácio dos Bandeirantes. No dia 20, batizado de Dia-E, mobilizações locais ocorrerão por todo o estado.
Resposta
A Secretaria Estadual de Educação informou à reportagem do Brasil de Fatoque ainda não há nenhuma confirmação de fechamento de escolas. A secretaria anunciou que estuda um remanejamento para as unidades escolar atenderem somente a um dos ciclos de ensino e que os pais dos alunos que passarem por esse remanejamento serão informados até novembro.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública questionando os métodos e as razões da atuação da PM, mas não obteve resposta.