O show do Los Hermanos em Curitiba

Por Matheus Placha Chequim, especial para os Jornalistas Livres, com fotos de Isabella Lanave (R.U.A Foto Coletivo)

Chego na Pedreira Paulo Leminski cerca de uma hora antes do show. “Será que dá tempo de ver a banda que vai abrir?”, pergunto para dois ou três amigos que encontro no longo trajeto entre o meu carro e o amontoado de catracas que organizam a entrada de pessoas. Ninguém sabe me dizer ao certo.

O movimento é significativo, mas não há tumulto ou fila pra entrar, o que casa bem com a ideia que o Los Hermanos se tornou a banda de massa com o público mais “seletivo” do rock nacional.

Faz sentido. A trajetória do grupo carioca é deveras consistente. Dos quatro discos lançados entre 1999 e 2005, pelo menos os três últimos são grandes sucessos de crítica. O único que não é unânime — o de estreia — acabou se firmando como um patinho feio charmoso da discografia da banda, musicalmente mais cru, emocionalmente tão carregado quanto os seguintes.

Meus amigos logo atrás de mim, todos na área VIP, trazem confetes. Vejo um ou dois figurões vestidos de Pierrô, de traje completo e maquiagem impecável. “Imagina se perder de um namorado de barbudo por aqui”, é um comentário que surge ao redor, seguido de risos. Até aqui, tudo dentro das expectativas.

O show começa poucos minutos passados do horário previsto. “O Vencedor” e “Retrato pra Iaiá” são, sem muita surpresa, as duas primeiras. É, de certa forma, impressionante como as pessoas não apenas cantam as músicas do começo ao fim, mas também cantarolam as notas de trompete, trombone e seja lá qual instrumento de sopro estiver mais evidente em cada música.

Não há muito que reclamar da execução das músicas, tudo transcorre certinho, a banda continua muito entrosada. Gosto que não esqueceram de “Do Sétimo Andar”, faixa pela qual tenho um apreço especial. É difícil detectar alguma reação mais entusiasmada por parte do público com relação a alguma música. A empolgação é quase linear.

A música que causa comoção um pouco maior que a média é justamente a deixada para o final: Pierrot. Mais uma vez, não surpreende. Mas fico pensando como uma banda que não lança nada inédito há dez anos faria pra surpreender.

Fico pensando também se o público deseja ser surpreendido.

Depois que termina “Pierrot”, me parece que todos estão satisfeitos. O setlist foi bastante abrangente, teve músicas dos quatro discos, teve até “Anna Júlia”, e é um ótimo resumo do que foi a carreira do Los Hermanos. Me ponho a pensar se o show todo não seria um saudosismo precoce.

O Los Hermanos é, hoje, um plano de carreira interessante. Muito se fala da parte financeira que as já não tão esporádicas reuniões do grupo têm rendido, mas talvez seja um ganho de mesma proporção a manutenção do “espírito Los Hermanos”, caso um dia a banda queira lançar algo novo.

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