O ódio de homens do Brasil continua assassinando pessoas trans

Foto de Lorena. Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo pessoal
Por Kátia Passos e Lucas Martins

Lorena Vicente, do extremo sul de São Paulo, uma jovem negra trans que tentava sobreviver, em meio ao ódio e insegurança oriundos dos preconceitos e hipocrisias de uma considerável parcela do povo brasileiro. Essa história pode parecer tirada de um enredo comum, mas não é.

Em meio aos dados de expectativa de vida dessa população que é de 35 anos, Lorena “já” havia chegado aos 23 anos de vida, mas não a deixaram passar da segunda década de vivências, quando foi cruelmente assassinada. A psicanálise tenta explicar essa motivação: motores de ódio ligados a questões íntimas do agressor ou assassino.

A jovem trans estava prestes se formar neste ano. Ela fazia o 3o ano do ensino médio no EJA, Ensino de Jovens e Adultos, na escola E.E. Reverendo Jacque,s no Jardim São Luís, e ao contrário de ser um corpo indesejável no prédio da escola, ali, talvez, fosse o único lugar público, onde realmente Lorena era querida por alunos e professores. Sua família a acolhia, a defendia. Tanto é que, dois anos antes, Lorena perdera um irmão, a motivação: o rapaz tentou defende-la de bulliyng com horríveis xingamentos e foi espancado por um homem, na sua frente, até ser morto, na sua frente. Segundo seu professor de História, Severino Honorato, “ela carregava essa culpa, essa dor, essa tragédia”.

Foto de Lorena. Arquivo Pessoal
Foto: arquivo pessoal

Dentro de uma realidade completamente absurda como essa, o que resta para pessoas trans e travestis?  Muitas acabam se envolvendo com drogas e jogadas às violências das noites das cidades. Daí, o dado de expectativa de vida dessas pessoas ser tão absurdo: apenas 35 anos, ou seja, metade do tempo de vida da média nacional, segundo divulgacão da Agência Senado.

Somente ações de sobrevivência mudam essa realidade. E essas movimentações não são poucas. A população trans tem estado cada dia mais presente nos espaços, seja no Parlamento, com por exemplo, a deputada estadual Érica Malunguinho (PSOL/SP), a primeira mulher trans a ser eleita parlamentar na Alesp, seja nos esportes, no campo do Direito e em outros territórios. Ainda assim, essa realidade não abraça a maioria, mas têm sido muito importante para a qualificação do debate entre iguais e diferentes, mas sobretudo, no reconhecimento de que todos têm direito à vida. Mas o Brasil, ainda é o líder mundial de violência contra transgêneros.

Entre janeiro de 2008 e dezembro de 2014, foram registrados 1.731 homicídios, dado divulgado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, durante um julgamento de caso de violência contra trans em 2015. Lorena é mais uma pessoa trans que infelizmente, se soma ao dado divulgado pelo ministro Barroso.

No último dia 14 de outubro, por volta de 15h, numa praça pública, próximo de sua casa, Lorena tentava amparar a sobrinha de seu assassino, que passava mal pelo uso de entorpecentes. Segundo a tia, Janete, no momento em que ajudava a jovem, Lorena foi surpreendida por Paulo Alves, tio da menina que passava mal e que ao ver a cena, acusou a jovem trans de ser a responsável pela entrega de entorpecentes a sua sobrinha.

Em seguida as agressões começaram. Muitos golpes na cabeça, até que Lorena caiu e no chão permaneceu inconsciente. Ainda assim, as agressões continuaram. Levada desacordada para o Hospital do Campo Limpo, ficou na unidade de terapia intensiva. Lorena faleceu na madrugada de 15 de outubro, dia dos professores. A causa da morte, na declaração de óbito: infarto agudo e edema cerebral. O ódio e as questões íntimas de maldade do assassino, que continua foragido,  nunca morrerão

Veja uma apresentação de Lorena em sua escola:

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Lorena Vicente, do extremo sul de São Paulo, uma jovem negra trans que tentava sobreviver, em meio ao ódio e insegurança oriundos dos preconceitos e hipocrisias de uma considerável parcela do povo brasileiro. Essa história pode parecer tirada de um enredo comum, mas não é. A jovem trans estava prestes se formar neste ano. Ela fazia o 3° ano do ensino médio no EJA, Ensino de Jovens e Adultos, na escola EE Reverendo Jacques, no Jardim São Luís e ao contrário de ser um corpo indesejável no prédio da escola, ali, talvez, fosse o único lugar público, onde realmente Lorena era querida por alunos e professores. Sua família a acolhia, a defendia. Tanto é que, dois anos antes, Lorena perdera um irmão, a motivação: o rapaz tentou defende-la de bulliyng com horríveis xingamentos e foi espancado por um homem, na sua frente, até ser morto, na sua frente. Segundo seu professor de História, Severino Honorato, “ela carregava essa culpa, essa dor, essa tragédia”. Na imagem, Lorena durante uma apresentação em sua escola.

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