Por: Raynna Nicolas, para o HNT Hipernotícias
Um estabelecimento de vidros e molduras em Cuiabá foi palco de uma ação racista nesta quinta-feira (27). A loja, localizada no centro da Capital, tornou branca a tinta escura, utilizada na tela para retratar uma pessoa negra.
O quadro foi levado à Vidroplan – Acessórios para Vidros e Molduras pelo advogado César Henrique Sampaio na última quinta-feira (20). A intenção era emoldurar a obra, de autoria da artista plástica Clarice Rodrigues. No entanto, ao receber a tela, a surpresa desagradável: O personagem preto, agora era branco.
“Eu reparei que o quadro estava diferente. Olhei de forma aproximada e vi que a pele do sujeito, que era negra, estava branca e aí eu entendi tudo”, contou o advogado.
De acordo com César, ao questionar o estabelecimento, ele ainda foi tratado com desdém. Segundo a loja, não havia alteração alguma, ainda que a mudança fosse evidente.
Em seguida, o advogado procurou a autora da obra para que pudessem encontrar uma solução. Clarice, por sua vez, relatou que, no primeiro momento, levou um susto. Ela recebeu a notícia com enorme tristeza.
“Eu pensei que a tinta poderia ter mofado. Pedi ao Henrique que trouxesse para eu ver. Quando vi, parecia uma brincadeira de criança. Não foi algo escondido, foi para que a gente visse. Fiquei muito triste”, afirmou.
Felizmente, a substância branca que cobria a tinta negra foi retirada com facilidade pela artista. “Eu pensei que pudesse sair com água e saiu. Eu acredito que era pasta de dente ou giz”, declarou.
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Racismo
Tanto o advogado quanto a artista relataram surpresa com a atitude da loja, uma vez que se trata de um estabelecimento tradicional em Cuiabá. “É um local de renome que, além de ter cometido racismo a um nível pessoal, foi racista com toda a nossa cultura”, pontuou Clarice.
A artista também comentou que a situação foi “um tapa na cara”. “Eu não acreditava que o racismo poderia ser tanto assim, eu achava que não era tudo isso, hoje foi um choque para mim”, disse.
Clarice classificou a atitude como grotesca, isso porque, além de racista, o estabelecimento desrespeitou uma obra de arte. “Eles nem sabiam o valor que poderia ter”, comentou.
Para ela, os proprietários colocaram o racismo à frente do estabelecimento. Já o advogado César Henrique Sampaio afirmou que irá ingressar com uma ação indenizatória contra o local.
“Foi uma violação muito forte, não só a mim e a Clarice, mas a toda as pessoas pretas e à arte preta”, asseverou César.
Artista
Clarice ingressou no universo das artes plásticas há dois anos por sentir uma deficiência de artes com temática africana no mercado. “Eu queria comprar, procurava nas galerias e não achava, então decidi começar a pintar para mim, inicialmente”, contou.
Logo no princípio de sua carreira, Clarice fez um presente ao amigo advogado. Uma Deusa da Justiça negra, que é exibido no escritório de César, uma simbologia muito forte para o jurista.
Com a pandemia, a Clarice Rodrigues decidiu empreender com sua arte e passou a vender os quadros.
“Eu decidi começar a divulgar, se vendesse seria bom, mas se não, eu continuaria fazendo para mim, para os meus amigos”, disse.
A representante da arte afro pode ser encontrada por meio do Instagram @afrorustic ou pelo Facebook Clarice Rodrigues Coronel.
Outro lado
A Vidroplan – Acessórios para Vidros e Molduras afirmou ao HNT/HiperNotícias que a obra deixou o estabelecimento sem qualquer alteração. Segundo o que foi informado, o advogado só teria comunicado da alteração duas horas depois de retirar a tela da loja.
A Vidroplan também reiterou que, em 40 anos de atuação, nunca fez qualquer intervenção nas obras recebidas por eles. O estabelecimento ainda disse que não há material de pintura no local, apenas molduras.
Matéria original disponível em: https://www.hnt.com.br/cidades/advogado-de-cuiaba-leva-quadro-para-emoldurar-e-personagem-negro-volta-branco/183268
Uma resposta
Esse é o país q está sendo construído desde 2018…