O MST do Paraná esclareceu na manhã desta sexta (8/4) que os sem terra atacados em emboscada pela Polícia Militar ontem em Quedas do Iguaçu foram atingidos pelas costas, o que desmente cabalmente as versões do governo de Beto Richa (PSDB) de emboscada ou confronto por iniciativa dos moradores do Acampamento Dom Tomás Balduíno na tarde de ontem.
Os sem terra ocupam parte das terras da fazenda Rio das Cobras desde maio de 2015. Moram no acampamento cerca de 1,5 mil pessoas. A região foi grilada ilegalmente pela madeireira Araupel. Em dezembro do ano passado o juiz da 2ª Vara Federal de Cascavel, Leonardo Cacau Santos, declarou a área ocupada como de domínio da União para fins de reforma agrária.
Os sem terra foram atacados por uma força conjunta integrada por soldados da PM, seguranças da Araupel e capangas por ela contratados. Informa o MST que foram assassinados os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixa esposa gravida de nove meses. “Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois foram detidos para depor e já foram liberados.”, diz a nota do movimento.
As fotos a seguir são de um veículo dos acampados perfurado por tiros da PM e pessoas diante do IML em Quedas do Iguaçu – fotos cedidas pelo MST-PR:
O relato das vítimas na nota do MST da manhã de hoje:
“Não houve confronto algum segundo o relato das vítimas do ataque. A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete e motocicleta, a 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policias e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, que para se proteger, correram mato adentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. Em relato a PM admite que os dois corpos foram recolhidos de dentro da mata. Todas as vítimas foram baleadas pelas costas o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças.”
O local da chacina foi isolado pela PM por mais de duas horas, impedindo o socorro às vítimas e o acesso de qualquer pessoa, mesmo advogados. Os mortos foram removidos da cena do crime, assim como os objetos, sem a presença do IML ou da Polícia Técnica. Familiares, advogados e jornalistas que se aproximaram do local foram ameaçados gravemente.
Relata o MST do Paraná em sua nota: “A Policia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomando as ruas, cercando a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, impedindo qualquer contato das vitimas com familiares, advogados e imprensa.”
O ataque aos sem terra aconteceu pouco depois de o deputado Valdir Rossoni (PSDB) assumir a chefia da Casa Civil do Paraná. Em 01 de abril, ele, mais o secretario de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, e representantes das cúpulas da policia do Paraná estiveram em Quedas do Iguaçu numa reunião que já preparava a ofensiva contra o Acampamento Dom Tomás Balduíno. Segundo informa reportagem da Ninja (veja aqui), Rossoni não coincidentemente recebeu R$ 50 mil da madeireira grileira Araupel em sua campanha eleitoral.
O governo do Paraná, conhecido internacionalmente pelo massacre perpetrado pelo governador Beto Richa contra os professores do Estado, em abril de 2015, divulgou uma versão segundo a qual a PM e os seguranças e capangas da Araupel teriam sido emboscados pelos sem terra quando iam apagar um incêndio na mata. A versão tem três problemas graves:
- Porque uma tropa de elite da PM (a Rotam) estaria participando de combate a incêndio?
- Se a tropa da PM foi emboscada, é verossímil que apenas os sem terra tenham sido feridos e mortos?
- Como os sem terra que teriam realizado a emboscada teriam sido atingidos em tiros pelas costas?
Na manhã desta sexta, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, mandou ofício a Beto Richa na manhã desta sexta exigindo providências e lembrando que o Brasil já foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos por assassinato de sem terra no Paraná.
Amanhã, sábado, haverá um ato em Quedas do Iguaçu com a presença de sem terra do Paraná e de todo o país, de advogados e representantes de movimentos dos direitos humanos. O clima é de enorme tensão no Paraná.
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Mais uma da “República Fascistóide Paranaense”!