“Please, allow me to introduce myself
I’m a man of wealth and taste,
I’ve around for a long long year
stole many a man’s soul and taste”
Todo mundo conhece essa música do Stones, os belos solos de guitarra e as vozes de fundo com os “ooo who” arrepiantes. O ouvinte é apresentado ao demônio, um sujeito que, na voz de Jagger, assume vários disfarces ao longo da História: tentou Cristo, convenceu Pilatos a lavar as mãos, matou o czar russo e a sua família, pilotou tanques na guerra com a patente de general e finalmente assassinou os Kennedy.
O demônio de que vou lhes falar não tem traços de animalidade: nem barba de bode, tampouco orelhas peludas e muito menos, dentes pontudos. Este demônio não tem cauda, nem pés fendidos e nem se faz preceder por um odor pestilencial. Tampouco assume a forma do cão! O demônio que eu conheço não tem os olhos excessivamente brilhantes nem fala várias línguas mortas. Ao contrário, fala a última flor do Lácio, tão cara a Saramago e a Guimarães Rosas. Esse diabo específico usa perfume francês, ternos ingleses, gravatas e sapatos italianos.
Robert Muchembled, professor de História na Universidade Paris XIII, no livro “A História do Diabo”, conta a história do Maligno entre os séculos XII e XX e pergunta se o Gênio do Mal permaneceu o mesmo através dos séculos. Certamente não. A partir do século XIII, a teologia cristã criou um duplo mito: por um lado, o de um assombroso inferno de fogo e enxofre, dirigido pelo príncipe Lúcifer, com o auxílio de um exército demoníaco e, por outro, o da besta imunda que habitava a alma do pecador e que estava sempre pronta para conduzi-lo à perdição.
Desde o início do cristianismo, os padres da Igreja tiveram que dar um sentido coerente às diversas tradições de narrativas diabólicas, casando a história da serpente com a do rebelde, do tirano, do tentador, do sedutor concupiscente e do dragão todo poderoso. Cristo, ao final dos tempos, será o libertador potencial da humanidade sempre tentada por Satã. Os séculos XVI e XVII conhecerão o sabbat das feiticeiras, com as fogueiras e a tentativa sistemática de exterminar os membros de uma pretensa associação satânica.
A Europa do Iluminismo conheceu o crepúsculo do Diabo e a sua substituição por uma interiorização do Mal. A literatura da época enxergava o sobrenatural com respeito, mas sem descartá-lo completamente. No século XX, o sujeito torna-se cada vez mais liberto de Satã, mas, paulatinamente mais emaranhado nas suas emoções e na construção de seu estilo próprio de vida. O sujeito desconfia de si mesmo. Depois que Freud e Lacan derrubaram as muralhas da razão transparente de Descartes, o Diabo se tornou apenas o resultado de pulsões mórbidas.
No século XX, desenvolve-se um imaginário diabólico: cinema, histórias em quadrinhos, publicidade, músicas, etc. Entre centenas de filmes com temas diabólicos, infernais, citamos O bebê de Rosemary ou O Exorcista, por exemplo. Importa compreender que o temor do Diabo recuou, na medida mesma em que existe um certo fracasso das Igrejas instituídas. O Maligno não é mais infinitamente temível, mas torna-se um personagem de ficção que assusta enquanto o vemos no cinema. Mas quando eu saio do cinema, digo logo: o Diabo não existe! Será?
“Pleased to meet you,
hope you guess my name.
But what is puzzling you is the nature of my game”.
O Diabo muda de face, muda de pele, muda de tom, muda de terno, só não muda a sua malévola intenção: a de levar a nossa alma para o inferno para passar o resto da eternidade sem ar condicionado, levando garfadas dos demônios auxiliares.
“Tell me sweetie, what´s my name?
I tell you one time,you are to blame”
O Maligno tem muitos nomes e se você não souber o nome dele, não irá reconhecê-lo, quando, no século XXI, ele assumir a forma do Presidente da Câmara dos Deputados do seu país e comandar processos de condenação de inocentes e ainda gastar dinheiro roubado e depositado em contas correntes na Suiça e viver feliz para sempre na companhia de sua linda esposa de olhos sempre arregalados.
EXCLUSIVO – Em 2015, após Cunha ser citado em esquemas de corrupção, os Jornalistas Livres encontraram o presidente da Câmara, numa de suas visitas à Assembleia Legislativa de São Paulo. Veja o vídeo
Se você não souber o nome do Diabo, ele zombará eternamente de sua ingenuidade, fará mesuras, jurará inocência, rirá alto, invocará o nome de Deus e, na pele de um pastor evangélico, ensinará os incautos que nele creem a orar por ele e pagar um dízimo para afastar as maldades do mundo.
“If you meet me
have some sympathy
and some taste
Use all your well learned politesse
Or I ‘ll lay your soul to waste”
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