“Quem disse que morto fala?”, diz militante espancada em Manaus

Por Ana Luisa Mariátegui

Essa foi a frase que Taly Nayandra, 23, bióloga e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) ouvia enquanto era espancada na noite de sábado (25), dentro do 24º DIP, centro de Manaus. A militante que compõe o movimento “Não ao Aumento da Tarifa” – movimento composto por militantes partidários, movimentos sociais e sindicais, que estão desde janeiro deste ano em Manaus, lutando contra o reajuste da tarifa de ônibus que já passa pelo seu segundo aumento em menos de um ano.

A militante contou que estava saindo de um bar próximo a Praça da Saudade com um grupo de colegas quando ouviu tiros disparados em direção ao grupo vindo de dois homens e uma mulher que não estavam trajando a farda da polícia militar. “Estávamos indo embora juntos, indo pra parada de ônibus. Ao todo éramos sete pessoas. Do nada ouvimos esses tiros, alguns para o alto, outros em nossa direção. Saímos correndo, cada um para um lado. Depois, eu vi uma viatura da polícia militar vindo à minha direção. Polícias desceram de lá armados, me colocaram dentro do camburão da polícia junto com aqueles que não conseguiram correr”, relatou a militante.

Taly foi levada para o 24º DIP, que aos fins de semana não tem expediente. Quando chegou à delegacia, Taly foi levada para uma sala junto com outro rapaz que também tivera sido preso junto com ela. Taly contou que perguntou aos polícias do porquê de sua prisão, a justificativa dada por eles era que o grupo estava pixando. “Eles disseram que nós estávamos pixando, mas isso não é verdade. Nós estávamos indo para casa, andando na calçada”, explicou Taly.

Taly contou que foi separa do rapaz que também havia sido preso com ela. Ela ainda conta que viu ele apanhar muito sem nenhuma razão para isso. Taly foi separada de seu colega e levada para uma sala onde só havia ela e mais dois policiais. Nesse momento a sessão de tortura se iniciou. “Eu não sei o nome dos policiais, mas um deles eu lembro bem: era careca, branco e alto. Ele me deu primeiro um tapa no ouvido, depois me deu socos nas costas e chutes. Fez isso por cerca de uma hora. Lembro que ele só parava quando ia comer, depois voltava para me bater”. Taly chegou a desmaiar após os espancamentos.

Mas a tortura não foi somente física, mas psicológica também. “Ele ficava dizendo: “Fala alguma coisa agora, sua comunista filha da puta”, disse a militante que há quatro anos integra o quadro do partido Comunista Brasileiro (PCB) e o movimento da União da Juventude Comunista (UJC). Na última eleição, Taly Nayandra foi candidata à vice-prefeita da cidade de Manaus pela coligação ‘Manaus por nós: construindo o poder popular’, junto com o candidato professor Queiroz (Psol – AM).

A militante comunista após a sessão de espancamento foi colocada dentro da viatura da polícia e levada para próximo à ponte do bairro São Raimundo. No carro, mais uma vez, nenhuma mulher policial. Somente homens, dois homens. Chegando lá, houve mais uma sessão de tortura. ”Quando eu desci do carro, eles pegaram meu celular, tiraram o chip e quebraram. Depois me disseram: Morto não fala, não é? Eu achava que ia morrer, porque os policiais quem me soltaram estavam armados e toda hora ficavam dizendo isso”, afirmou Taly.
Os policiais soltaram Taly Nayandra em uma rua escura, já se passava das 23 horas. Não havia ninguém por perto. A rua estava deserta. Ao descer do carro, os policiais pediram para ela correr e não olhar para trás. Taly correu o máximo que pôde e, como já tivera sido alertada, não olhou para trás.

Aumento da Tarifa
Desde janeiro deste ano, a tarifa do transporte público da cidade de Manaus já passa pelo seu segundo reajuste em menos de um ano. No dia 23 de janeiro, o vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta (PMDB), em uma entrevista para uma emissora de televisão local, comunicou que a Prefeitura iria reajustar o valor da tarifa do transporte coletivo da capital Amazonense. Passados menos de um mês do primeiro reajuste, o prefeito de Manaus, Artur Virgílio (PSDB), anunciou na tarde de 21 de fevereiro, que o valor da passagem de ônibus iria ser reajustado para R$ 3,80.

Nós do coletivo Jornalistas Livres, nos solidarizamos com a militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Taly Nayandra. Repudiamos toda e qualquer forma de repressão e retaliação a toda e qualquer pessoa que luta em prol do coletivo. Repudiamos toda forma de manifestação do coronelismo, autoritarismo, e de atitudes que lembram um Brasil de 1964, que viveu por 21 anos debaixo de dura repressão a toda e qualquer pessoa que se manifestasse contra os que um dia geriram este país.

Fora Temer!
Abaixo a repressão!
Pela Democracia e liberdade de expressão política!
Lutar não é crime!
Todo Poder ao Povo!

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS