O SUS é necessário! Saúde não é produto pra encher bolso de empresário!

Por Aline Barbosa, especial para os Jornalistas Livres

Ato denuncia desmonte do Hospital São Paulo por  corte de verbas do Ministério da Saúde. Dos 740 leitos, apenas 300 funcionam. Há pacientes esperando cirurgia urgente há meses por falta de material básico. O pronto-socorro fechou as portas, só atende quem chega de ambulância – e nem isso é garantia de operação

Cerca de 400 estudantes da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), nesta quinta (08/06), manifestaram contra a decisão do Ministério da Saúde de cortar as verbas do REHUF (Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários); afim de lograr aumento de orçamento do Hospital São Paulo, localizado na Vila Clementino, zona sul de São Paulo. Os alunos foram às ruas com cartazes e com o grito de guerra “o SUS, o SUS, o SUS é necessário, saúde não é produto pra encher bolso de empresário”.

O hospital tem passado por problemas com o acúmulo de dívidas altíssimas, que chegam a R$ 149 milhões com bancos e R$ 11 milhões com fornecedores. Diante do corte da verba REHUF, a unidade está em situação de falência e pode estar prestes à fechar. O pronto socorro teve que suspender seus procedimentos básicos e desde abril está atendendo apenas situações de emergência pela falta de insumos. A situação preocupa os pacientes que em sua maioria são atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e estudantes que utilizam o prédio como uma instituição escolar.

A paciente Clarice de Morais, 64, aposentada por invalidez de visão, relatou que está à espera de uma cirurgia ocular há 1 ano, e que esta foi adiada pela quarta vez. “Já é a quarta vez que eu venho arrumar essa papelada para a cirurgia.” Clarice declarou ainda estar com silicone pós-cirúrgico em um de seus olhos e que deveria ter sido tirado ano passado. “O médico disse que eu deveria tirar o silicone com 3 ou 4 meses, mas até hoje estou angustiada pela espera do procedimento”, diz. “Era para ter sido operada dia 11 do mês passado, mas novamente foi cancelada sem uma nova data prevista.”

 

A falta de recursos financeiros e materiais do Hospital São Paulo implica na sobrecarga de outros hospitais públicos devido ao grande fluxo de pessoas, em pacientes com longos períodos de espera por atendimento e na estagnação do desenvolvimento das pesquisas acadêmicas.

A aluna Camila Bianchi Matiuzzi, veterana do terceiro ano de medicina e integrante da Comissão de Mobilização da Graduação contou: “A gente tem 740 leitos, 300 estão funcionando; tem paciente esperando cirurgia urgente há meses e não fazem porque não tem material básico. O pronto socorro fechou as portas, ou seja, só atende quem chega de ambulância e muitos casos de cirurgia do pronto socorro não são operados”.

Segundo o diretor-superintendente do hospital universitário, José Roberto Ferraro, “a situação é um descompasso orçamentário grave, chegou a um limite, nisso pedimos um recurso adicional, como muitas outras vezes; e além deste recurso não vir, o Governo Federal cortou outro, então ficou uma situação hipergrave”. Diante disso ele apoiou a manifestação. “Nós vamos lutar, nós vamos buscar orçamento pra funcionar. Mesmo ele cheio, ainda faltam leitos para a população brasileira; imagine ele com metade dos leitos funcionando”, concluiu.

O Hospital São Paulo é gerenciado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Além de universitário, é considerado filantrópico por atender pacientes de outros bairros, cidades e estados. É ainda o segundo maior hospital público da cidade e o maior universitário da rede federal de ensino do país.

A concentração do ato em defesa do Hospital São Paulo começou às 9h em frente à Unifesp; às 10h os manifestantes seguiram em direção à ALESP (Assembleia Legislativa de São Paulo) para entregar um documento aos deputados falando da importância do Hospital, que possui mais de 700 leitos e atende pacientes há mais de 84 anos. O ato terminou às 14h e o deputado Carlos Neder recebeu o grupo.

 

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