Geral
O conto chinês de um ex-escravo no Brasil
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10 anos atrásem

Traficado da China e explorado dos 15 aos 17 anos no Brasil, menino volta para casa um ano após fuga de pastelaria do Rio de Janeiro.
Quem luta contra a escravidão moderna abre os olhos para que a China não seja a nova África do Brasil. Operações recentes do Ministério do Trabalho têm desvendado uma imensa e complexa rede de tráfico de pessoas desde o sudeste da China até o sudeste do Brasil. Só nos últimos três anos, 10 chineses — todos jovens— foram resgatados da exploração em pastelarias do estado do Rio. A história a seguir é uma delas.
17 de agosto de 2014
Mangaratiba, Costa Verde do Rio de Janeiro
Já era noite de domingo quando ele não suportou mais trabalhar como escravo, 14 horas por dia, todos os dias do ano. Apanhou a chave da pastelaria, o telefone celular do patrão, dono da loja, e, certamente apavorado, fugiu. A pé, sabia que não chegaria à casa de sua família, na cidade de Shenzhen, província de Guangdong, no sudeste da China. De todo modo, aquela fuga rumava sim em direção ao seu lar, dali a um planeta Terra de distância. Na primeiríssima etapa desta jornada, desde o distrito de Muriqui, onde está a pastelaria, as finas pernas de 17 anos percorreram 21 quilômetros, venceram os limites do município de Mangaratiba e encontraram dois policiais civis da cidade vizinha de Itaguaí. Com a ajuda do tradutor do Google, o menino pediu socorro.
Julho de 2015
Quadra de basquete da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.
A melhor bola da pelada de basquete é a dele, amarela reluzente, perfeitamente calibrada para quicar ao gosto do próprio dono. Ou seja, em movimentos fortes, sem gingado, porém com intensa paixão pelo jogo. Perdido na marcação, o chinês faz, no ataque, o tipo arremessador. Quando recebe nas laterais do garrafão, não enrola na armação da jogada, raramente passa a bola para alguém. Prefere arriscar de média distância. Numa reflexão meio tática/meio alegórica, pode-se dizer que o jovem jogador de 18 anos aproveita ao máximo a liberdade de não ter, em quadra, uma pessoa sequer que lhe obrigue ou proíba de fazer algo.
Destreinado — culpa de tantas horas gastas com desânimo e temor longe das ruas — acertou poucos dos arremessos que tentou enquanto esteve comigo, em três emocionantes sessões de peladas. Suar ao seu lado e vê-lo sorrir pela boca, assim como já fazem seus olhos puxados, valiam muito mais que os pontos.
Junho de 2012
Aeroporto Internacional Tom Jobim, Rio de Janeiro
Vergonhosas transações no saguão de desembarque internacional do aeroporto do Rio tornaram a viagem deste chinês ao Brasil um suplício. Chegou com apenas 15 anos de idade, sem família, sem dinheiro e sem falar português. Mesmo assim, venceu as barreiras imigratórias da Polícia Federal. Auditores do Ministério do Trabalho (MTE), na superintendência fluminense, creem que apenas a corrupção seria capaz de carimbar o visto de turista para nosso personagem — à época, seguramente, com feições ainda mais infantis do que as que carrega hoje, três anos depois.
O esquema de pagamento de propina para policiais federais funcionaria ali mesmo no saguão, conforme descreve o MTE em denúncia entregue ao Ministério Público Federal (MPF) no final de julho deste ano. O documento relata o depoimento de uma testemunha do esquema. Para cada chinês liberado, seriam cobrados R$ 42 mil. O pagamento, a princípio, seria realizado pelo patrão-comprador. No entanto, o senhor cobraria a conta do próprio imigrante na moeda do trabalho extenuante por dois ou três anos, sem remuneração, em mais uma flagrante prática escravocrata. Para que os agentes federais não sejam identificados, é comum, ainda segundo o documento, que os passaportes sejam extraviados ou que tenham a página com o carimbo arrancada.
O nosso personagem era o mais jovem entre os seis chineses, desconhecidos entre si, que chegaram ao Rio em um mesmo grupo naquele dia. Se todos carregam a mesma história do caçula, já haviam pago caro pela viagem a agentes aliciadores na China. Segundo relatos de chineses resgatados, cartazes espalhados pelas ruas de Shenzhen expõem as “oportunidades” de emprego no Brasil. Na nossa história, a fiadora da viagem foi a mãe da criança, uma pequena agricultora, embora não se possa ter certeza qual era sua intenção ao enviar o mais velho de seus dois filhos para tão longe, em situação tão perigosa. Talvez o desespero de uma vida pobre, talvez o engano de algum traficante de pessoas.
No aeroporto, um homem, também chinês, já esperava o grupo. Dali rumaram a uma casa, onde foram divididos em dois carros, que levaria cada um a uma pastelaria. O jovem nunca mais viu os demais, que podem estar sendo escravizados ainda neste momento.
Todos os personagens desta história até aqui — fora as vítimas e eu, como companheiro de basquete — são traficantes de seres humanos, conforme o quarto parágrafo do segundo artigo da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
“A intermediação, promoção ou facilitação do recrutamento, do transporte, da transferência, do alojamento ou do acolhimento de pessoas para fins de exploração também configura tráfico de pessoas”. Tal sentença independe do consentimento da vítima. Pouco importa se o jovem ou sua família desejavam deixar a China. Ninguém pode negociar pessoas nessas condições.
450 anos de história
Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
Maldito poder do dinheiro que corrompe e permite que estrangeiros, inclusive crianças, sejam escravizados no Brasil. Deplorável em si, o crime ocorre justamente na cidade que mais importou seres humanos escravizados em toda a história da América — talvez em toda a história do mundo. Durante os mais de 350 anos de escravidão negra regulamentar, segundo cálculos recém atualizados pelo slavevoyages.org, os portos do sudeste brasileiro (com especial ênfase ao porto carioca, a pouco mais de 15 quilômetros de onde hoje está o aeroporto_ receberam mais de dois milhões de pessoas roubadas da África. Entre elas, imensas levas de crianças, especialmente nos anos finais de escravidão no país, quando as leis foram dificultando a chegada de escravos. Para se ter uma ideia, contando números do Brasil inteiro, entre 1820 e 1850, a porcentagem de crianças pode ter superado os 50% do total de seres humanos desembarcados como cativos no Brasil.
Felizmente, 125 anos depois, a legislação brasileira e outros diversos tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro — como o de Palermo, no ano de 2000 — proíbem o tráfico de pessoas. Infelizmente, os números da escravidão brasileira, agora ilegal, no entanto, são um mistério. A mão de obra chinesa, que se aloca em quantidade aparentemente crescente de pastelarias do Estado do Rio, está sob suspeição das autoridades trabalhistas. Os números do fluxo migratório de chineses para o Brasil no ano de 2014, fornecidos pela Polícia Federal, também sob suspeição, registram 72.470 entradas e 71.517 saídas.
18 de agosto de 2014
Itaguaí, Região Metropolitana do Rio de Janeiro
No dia seguinte à fuga da pastelaria, na sede do Ministério Público de Itaguaí, uma mulher, também chinesa, residente do país desde 1994, procurou a Promotora de Justiça da Vara da Infância e se disse tia do menino. O suposto sobrinho, segundo a suposta tia, estaria a turismo no Brasil, porém teria perdido seus documentos, o que o forçara a permanecer de maneira ilegal no país. Em relatório do Ministério do Trabalho e Emprego, os auditores prosseguem a história com as seguintes palavras: “Esclarecemos que a tia, segundo nos informou a Promotora de Justiça, estava acompanhada de um senhor que se declarou ligado à associação chinesa. Cabe apontar que a associação citada (com endereço no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro) já figura, de algum modo, em caso anterior de trabalho escravo envolvendo chineses. (…) Na ocasião (na sede do MP), frisa a promotora, a senhora sequer soube informar o contato dos genitores e solicitou autorização para visitar o adolescente na entidade de acolhimento. A autorização foi concedida, mas a visita foi acompanhada por uma assessora da promotora, que declarou que, assim que o jovem avistou a senhora, demonstrou forte temor e disse que ela não era sua parente”, registra o relatório.
Novos detalhes, descritos no mesmo documento, podem sugerir por que nosso personagem estremeceu de medo. Ainda no mesmo dia, a suposta tia retornou à sede do MP com o passaporte do adolescente, que estaria perdido, em mãos. Pior: quando ela apresentou o seu próprio passaporte, as autoridades perceberam que a data de expedição do documento da mulher (22/07/2010) era exatamente a mesma do gerente recém contratado da pastelaria. A naturalidade de ambos também era coincidente, Guangdong, no sudeste chinês. “Ao que tudo indica”, segue o relatório, “o gerente da empresa tem estreita ligação com a suposta tia do jovem, porque ambos passaportes foram expedidos na mesma data, o que pode nos fazer crer que foram juntos cuidar do documento e que se conhecem (pelo menos) desde 2010”.
O caso da suspeita tia pode parecer minúcia da história, mas é mais um dos fortes indícios que fazem a auditora do trabalho Márcia Albernaz crer que exista uma rede de tráfico de pessoas ligando China e Brasil.
“É muito grave o problema. Não se trata nem só de um crime de escravidão, é um crime de tráfico de pessoas. São agentes que estão operando lá na China em conluio com pessoas aqui no Brasil, traficando essas pessoas que ficam triplamente vulneráveis, pelos fatores econômico, geográfico e do idioma”,
diz Albernaz, com convicção.

Junho de 2012 a agosto de 2014
Pastelaria de Muriqui
Foram mais de dois anos de uma cruel exploração infantil, sem documentos e sem salário. Mais de dois anos trabalhando das 8h às 22h, sem folga, em uma pastelaria da Rodovia Rio-Santos, perto de onde o distrito de Muriqui ergue um portal de boas-vindas, a poucos metros do mar e da Serra do Mar. Em um dos anos deste suplício, conta ele mesmo, houve descanso apenas no dia de Natal. O jovem não frequentava o espaçoso salão da pastelaria, onde estavam os clientes. Trabalhava no segundo andar do prédio, na cozinha, preparando os pratos e lavando a louça, entre outras funções proibidas para jovens menores de 18 anos no Brasil. A vida de escravizado ainda lidava com o frio de poucas cobertas em um apertado alojamento, fora dos padrões estabelecidos pela lei, neste mesmo andar, dividido com outros três chineses. Não havia correntes ou trancas, violência ou tortura, pelo menos.
A “prisão” se dava pela vulnerabilidade do jovem, ingênuo, incapaz de se comunicar em português — ou mesmo em inglês ou espanhol — e sem dinheiro para comprar comida própria ou encontrar um abrigo independente de seu empregador.
As violações das leis trabalhistas prosseguiam na lanchonete com a discriminação por etnia. O patrão chinês tratava distintamente os três brasileiros dos três chineses, mesmo que todos trabalhassem na cozinha. Os orientais sofriam com a jornada exaustiva e sem registro de ponto, enquanto os nacionais trabalhavam menos e tinham formalização do vínculo na carteira de trabalho.
Como já se sabe, o caso do jovem de Muriqui não é isolado. Já são várias pastelarias chinesas do Estado do Rio de Janeiro autuadas por irregularidades trabalhistas. Muitas delas carece, por exemplo, de registro profissional adequado. No último mês de abril, o Ministério do Trabalho e o Procon-RJ fizeram operação conjunta para fiscalizar esses estabelecimentos. O nome da operação foi polêmico, ‘Yulin’, cidade da China famosa por realizar, anualmente, o maior festival de pratos com carne de cachorro. Foi uma alusão ao boato que circulou na cidade de que algumas pastelarias poderiam estar utilizando carne de cães em seus recheios. O caso do cachorro ganhou repercussão nas redes sociais e forçou a Vigilância Sanitária do município do Rio a recolher amostras para testes. Embora diversas incorreções sanitárias tenham sido descobertas — o que gerou interdições — nenhuma carne de cachorro foi encontrada.
Curiosamente, as irregularidades trabalhistas e mesmo os casos de escravidão não ganharam a mesma repercussão, embora comprovados. No acúmulo das operações, o Ministério do Trabalho descobriu que os chineses escravizados no Rio vêm de uma mesma região da China, Guangdong, uma das mais populosas do país asiático, com mais de 100 milhões de pessoas. A região, muito próxima a Hong Kong, também é conhecida como Cantão e é por isso que, em muitas pastelarias do Rio, a língua corrente é o cantonês, antes mesmo do Mandarim. Os cantoneses têm uma longa tradição emigratória para a América — especialmente, para Canadá e Estados Unidos nos séculos XIX e XX.
Já são, pelo menos, cinco casos de escravidão em pastelarias flagrados nos
últimos três anos no Estado do Rio.
O primeiro e mais violento foi descoberto em 2013, em Parada de Lucas, na zona norte da capital fluminense. Um chinês trabalhava 17 horas por dia e era agredido pelo seu primo e patrão, também da China. No hospital, apresentou queimaduras provocadas por cigarros e foi fotografado com as costas dilaceradas de tanta violência. Resgatado, ele não quis voltar para a China e, escondido, ainda leva uma dura vida para sobreviver no Brasil. O agressor foi condenado a dois anos e meio de prisão e ainda cumpre pena.
O segundo caso é o do jovem de Muriqui, reportado aqui. Em 2015, mais três casos graves foram descobertos. Em Copacabana, na zona sul do Rio, três jovens chineses que entraram no Brasil durante a Copa do Mundo revelaram que o patrão chinês, entre outras irregularidades, retinha o salário combinado e só repassava parte da quantia, sem periodicidade, o que também é ilegal no Brasil. Recentemente, no pequeno bairro de Vista Alegre, na zona norte carioca, uma operação conjunta da Polícia Rodoviária Federal, do PROCON, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego, constatou um empregado que trabalhava em um ambiente de flagrante “degradância”, explorado por jornada exaustiva. Não havia comprovação da quitação de salários — o que indica a servidão por dívida. Também na zona norte, a última operação, revelada nessa semana, descobriu quatro chineses — uma mulher e três homens de 20 a 27 anos — em condições análogas à escravidão. Parte dos salários era retida pelo dono da pastelaria, também chinês. Além disso, todos viviam num alojamento sobre o estabelecimento, sem condições de higiene.
Não há dados oficiais que apontem quantas pastelarias chinesas existem hoje na cidade do Rio, mas o número é estimado pela Vigilância Sanitária em 150. Não existem pastelarias na China.
Algo que também tem chamado atenção na investigação do MTE é que, em muitos casos, os donos formais dessas pastelarias — na maioria, chineses — também sofrem com as baixas condições de trabalho, ao dormir em alojamentos e ter pouco dinheiro para si. Parte deles não consegue nem mesmo se comunicar em português. O dono de uma pastelaria em Vila Isabel revelou que não consegue ficar com dinheiro algum após pagar, mensalmente, R$5 mil para quem estaria arrendando o ponto. Estive em uma das audiências no MTE onde as autoridades pediam explicações para este dono sobre a irregular condição de outros dois chineses. Sem tradutores na sala, era quase impossível compreendê-lo. É difícil acreditar que este chinês teria capacidade administrativa de liderar um empreendimento comercial no emaranhado da burocracia brasileira. Os fatos levam a crer que há auxílio de brasileiros no esquema. Neste caso, por exemplo, os chineses foram acompanhados de um brasileiro que se dizia “amigo” do chinês, mas que não sabia nem mesmo dizer o nome do estrangeiro.
A suspeita é que os donos dos estabelecimento também possam estar sendo explorados, embora em uma posição hierárquica superior a dos pasteleiros e salgadeiros. Não seria o caso do dono da pastelaria de Muriqui, reportada nesta matéria. Ele, chinês residente no Canadá, segundo mais uma vez o Ministério do Trabalho, tem em seu nome mais de uma dezena de estabelecimentos como esse.
Os indícios supõem uma complexa organização, portanto. Em um caso em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, os auditores do MTE disseram que chineses fugiram em uma camionete luxuosa após a chegada da fiscalização.
Novas ações que poderiam vir a desvendar outros casos de escravidão estão suspensas. Os auditores do MTE, personagens centrais de todas essas descobertas, estão em greve desde a metade de agosto. Cobram, entre outras coisas, melhores condições de trabalho e aumento de salários.
Procurado para falar sobre os casos em pastelarias, o Consulado-Geral da China na cidade do Rio de Janeiro pediu para a reportagem procurar a Embaixada em Brasília, que, por sua vez, pediu para entrarmos em contato com o Consulado. Autoridades e ativistas de organizações que protegem os chineses recuperados de regimes de escravidão relatam que não há auxílio dessas duas entidades na proteção ou na investigação dos casos.
Agosto de 2014 a fevereiro de 2015
Abrigo de Itaguaí, Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Não demorou para que, logo após a fuga, o jovem chinês — pelo menos, oficialmente — fosse protegido pelo Estado brasileiro. Como indica a Consolidação das Leis do Trabalho, o trabalhador resgatado da escravidão, mesmo sem formalização anterior, assinou a Rescisão de Contrato. Uma carteira de trabalho foi expedida em seu nome, além da guia de recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Um novo passaporte, emergencial, também foi expedido. De uma hora para outra, de escravo, ele passou a ser um imigrante formalizado e legalizado. Tão importante quanto tudo isso — por requisição do Ministério do Trabalho e do Ministério Público Estadual — uma conta judicial foi aberta em nome do jovem, para onde uma boa quantia — referente a todo o tempo trabalhado — foi transferida por parte do empregador. O dinheiro, no entanto, demoraria ainda muitos meses para ficar à disposição de seu dono.
O chinês, ainda menor de idade, foi encaminhado então ao pequeno abrigo de jovens da cidade de Itaguaí. A ONG Movimento Humanos Direitos, reconhecida pelo trabalho do padre Ricardo Resende, que também coordena, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo, se aproximou do caso. O padre e sua equipe, especialmente uma arquiteta, também engajada na ONG, viraram o que mais próximo podemos chamar de uma família brasileira para o jovem. Mensalmente, a mulher visitava o menino no abrigo. No fim do ano passado, não aguentou de dó e o chamou para passar o Natal com sua família, na zona sul do Rio.
Os dias passavam demoradamente no abrigo. Quem tinha algum contato com ele — como os auditores do MTE, alguns servidores da Secretaria de Direitos Humanos do Governo do Rio e, especialmente, os ativistas da ONG — relatavam que uma depressão poderia estar o acometendo. Sem CPF e uma conta bancária própria para onde o dinheiro em juízo poderia ser depositado, a estadia do jovem no Brasil se arrastava na burocracia e no despreparo do Governo do Estado do Rio em lidar com a situação incomum. Para piorar, quando, em fevereiro, chegou ao seu décimo oitavo ano de vida, o jovem foi obrigado a deixar o abrigo, exclusivo para menores.
Em uma audiência formal, liderada pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio (SEASDH-RJ), acompanhada por uma tradutora juramentada, o jovem chinês, agora maior de idade, subscreveu sua vontade de encerrar sua lamentável viagem ao Brasil e retornar para a casa de sua família na China. A operação, todos sabiam, seria perigosa. Era preciso guardar sigilo para evitar que alguém do esquema o abordasse na saída do Brasil ou na chegada na China. Para isso, segundo Miguel Mesquita, da SEASDH-RJ, a Polícia Federal e mesmo a Interpol estariam encarregadas de levar o chinês até a porta de sua casa em Shenzhen. Agora, com o documento assinado, era preciso “apenas” aguardar os trâmites bancários para garantir que o jovem voltasse para a China não apenas com os traumas da escravidão, mas também com um bom dinheiro para começar uma nova vida por lá.
O destino natural da espera era o abrigo para adultos de Itaguaí, dividindo o espaço com tantos outros graves problemas sociais brasileiros. Foi o limite para a ativista da ONG. Enquanto ele permanecesse no Rio, seria no espaçoso apartamento dela, em Ipanema, que o chinês viveria.
Fevereiro a agosto de 2015
Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro
Foi nesse imóvel, muito perto de onde Tom Jobim escreveu Garota de Ipanema, que fui recebido pela a arquiteta e ativista da ONG e pelo meu novo parceiro de basquete, embora eu tenha tentado começar nossa relação pelo futebol.
– Prazer, nice to meet you…. — tentei.
– Ih, não adianta… como seria bom se ele falasse inglês! — desencorajou-me a dona da casa, pedindo licença por dois minutos e me acomodando na ampla sala, embelezada por livros e fotos de Sebastião Salgado e repleta de obras de arte de muito bom gosto.
Era a primeira vez que eu apertava a mão de um ex-escravo e isso me angustiava o peito. “Futebol?”, perguntei, apostando na capacidade amistosa do esporte, na universidade da palavra e na força da mímica que me ajudava ao chutar uma bola imaginária.
– Basquet!! — ele exclamou, apontando para uma bola da Nike que repousava perto de seus pés. Educado, risonho, fechou o laptop, pegou a bola nas mãos e se juntou a mim na sala.
Quando a arquiteta voltou, ainda antes de esmiuçar seu altruísmo, logo mostrou cansaço com a jornada.
– Você já viu Um conto Chinês? É aquilo! Só que eu não sou tão mal educada quanto o cara do filme, mas tô quase ali.
– Você fala do filme argentino, né? Um que conta a história de um chinês que caiu do céu?
– É muito bom, é muito bom. E é o que tá acontecendo! Burocracia! Quando você faz a coisa direito, um ano….
A arquiteta se referia a demora para conseguir embarcar seu “afilhado” de volta para a China. Sempre criticando o despreparo das autoridades brasileiras — especialmente, as fluminenses — em lidar com o caso, contou que “foi uma vitória” conseguir resgatar o dinheiro do FGTS, depois de seis idas ao banco, mas que persistia a ingrata batalha de abrir uma conta num banco internacional para que o dinheiro pudesse ser resgatado por ele lá na China. No momento em que conversamos, já fazia 11 meses que o jovem havia fugido da escravidão. Durante uma longa entrevista, ela, que já havia auxiliado o chinês torturado pelo seu primo em Parada de Lucas, relatou mais detalhes do que sabe sobre a realidade dos escravos chineses no Brasil.
– Normalmente, as pessoas se endividam para comprar essas passagens para o Brasil. A proposta é vir trabalhar duro por três anos. E depois você vai estar livre.
– Trabalhar duro significa não receber?
– Não é só não receber. Trabalhando duro, 14h-16horas por dia. Ele mesmo trabalhou dois anos seguidos. Só folgou uma vez, num 25 de dezembro.
– Isso ele mesmo conseguiu falar para você?
– Ele falou. E muitos não aguentam ficar três anos assim. Ou a pessoa entra em depressão ou pira ou mata o chefe, foge, se mata. E ele fugiu, dois anos e pouco depois. Depois, houve uma reunião. Miguel (SEASDH-RJ-RJ) estava, eu estava e mais uma tradutora juramentada, tudo direitinho. Explicamos para ele a situação. ‘Você sabe o perigo que você corre aqui no Brasil? Você sabe o perigo que você corre chegando lá? Você sabe qual perigo sua mãe pode correr se ela pegou esse dinheiro emprestado? A gente vai te levar até lá, depois não sabe o que vai acontecer. Não quer ficar no Brasil?’ ‘Não quero ficar no Brasil’, disse ela, como se fosse ele.
Como o jovem decidiu por ir embora, também fez questão de não aprender o português. Segundo hipótese de algumas das pessoas da rede de apoio, pode ser para evitar memórias brasileiras. O fato dificultou a relação dos dois dentro de casa. No dia em que estive lá, a arquiteta estava nervosa para deletar softwares chineses que o jovem instalou em seu computador, reclamava sentada no escritório, embora com uma imensa complacência no olhar.
A comunicação se dava pela internet, portanto. Um aplicativo de chat chinês, o QQ, ajudava na tarefa, traduzindo o que o menino escrevia em chinês para ela. Quando não se entendiam, usavam emoticons, aquelas figurinhas dos teclados. Ela riu alto ao me mostrar a mensagem de um raro pedido dele para andar de bicicleta na lagoa. Na maioria dos dias, ele ficava em casa. Não curtia a praia que podia ver da janela, não tinha amigos de sua idade. “Para ser sincera, de abril para cá, ele só saiu uma vez sozinho”. Foi a deixa para eu tentar me comunicar por mímica com o menino, que estava sentado ao meu lado, possivelmente, curioso com a nossa conversa.
– Nadar? Gosta? — tentava perguntar, ao dar braçadas imaginárias e fazer positivo com o dedão.
– Não!! — balançou ele com a cabeça e os olhos esbugalhados.
– Basquete? Sim?
– Positivo!! — animou-se!
Naquele momento, fui rapidamente forçado a refletir sobre meu papel como jornalista naquela sala. Deveria utilizar o aplicativo para entrevistá-lo sobre sua triste história no Brasil ou para falar sobre o basquete, provavelmente, único interesse em comum entre a gente? Escolhi a segunda opção. Descobri que ele era torcedor do Houston Rockets (equipe do primeiro e mais famoso chinês na história da NBA, Yao Ming). Jogava basquete na escola, desde os cinco anos de idade. Mais umas perguntas para lá, respostas não entendidas para cá, e o aplicativo me trouxe a mais forte das mensagens do que veio a ser quatro semanas de algum contato em quadra e no QQ, justamente as últimas dele no Brasil:
– Eu amo jogar basquete!
A frase me deu um soco no estômago. Ex-escravo, 18 anos, sem amigos no Brasil, ainda conseguia dizer que amava algo. Não havia mais o que fazer naquela sala. 20 minutos depois, já estávamos dividindo a quadra mais próxima dali com todos os tipos de cariocas basqueteiros. Conseguimos trocar algumas palavras em português, mas como não estava mais claro o que era reportagem e o que era amizade, deixo suas respostas fora daqui.
No dia seguinte, repetimos a pelada. Dessa vez, ao fim da sessão, o menino, todo suado, era esperado por Vera Araújo, repórter dO’ Globo e Cezar Loureiro, fotógrafo, que estavam acompanhados da arquiteta, a tutora informal do jovem. A pauta emplacada fora “sugestão” da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, que estava interessada em promover a Semana Nacional de Combate ao Tráfico de Pessoas e, claro, se promover também, como fica claro no texto da matéria, que trouxe em sua manchete “Chinês que trabalhava como escravo em pastelaria de Mangaratiba vai voltar para casa”.

A matéria foi publicada justamente no dia em que estava marcado o voo de retorno, justamente no dia em que a secretaria fluminense participaria em Brasília de cerimônia alusiva ao combate ao tráfico de pessoas. Foi uma coincidência de fatores — ou uma jogada de marketing — de gosto duvidoso, até porque o menino, embora já tivesse agora uma conta bancária própria, ainda não tinha o cartão do banco para manejar seu dinheiro lá na China. Afobada, a secretaria queria assinar uma procuração que deixaria para uma funcionária do órgão a responsabilidade de exigir do banco, aqui no Brasil, a remessa prometida do cartão para sua casa na China. Os ativistas da ONG não concordaram com a situação absurda e fizeram o jovem voltar para casa, já com as malas prontas. Seria a última decepção dele no Brasil.
Justamente nesses derradeiros momentos, eu deixei o Rio, mas, nos dias seguintes, o fotógrafo Bruno Bou também teve uma relação intensa com nosso frágil herói.
Conta Bruno:
“Na segunda vez que eu o encontrei, já não achava que seu suor, pelo seu passado, era diferente do meu. Jogamos basquete e, neste novo dia, já não era impossível acertar um arremesso de três pontos. Nesta vez, se é verdade que perdemos a partida de dois contra dois, foi escutando música pop chinesa que ficamos felizes.
Cansados e com fome, pedalamos até sua casa. Enquanto ele subia e deixava suas coisas, eu comi algo na padaria. Já tinha o convencido a ir a praia. Tinha cismado em levá-lo, talvez por acreditar que uma pessoa a uma quadra da praia deva se banhar todos os dias. Ele mal sabia nadar e, aliada a essa insegurança, um espaço de grande circulação possivelmente lhe assuste também.
Convencê-lo — nem em cantonês, nem em mandarim, nem em português — foi difícil. Eu lhe prometi ensinar o surfe de peito, o jacaré, quando me disse que podia nadar. O mar estava forte. Se quisesse fazer as fotos dele no mar, em um ambiente símbolo da democracia e da liberdade, devíamos mergulhar enquanto nossos corpos estavam quentes da atividade física. E assim fomos. Rimos e cansamos. Ele não conseguia sair da arrebentação, eu não podia me desgrudar dele, mesmo que ainda déssemos pé…
…Agora ele já está em casa. E eu torço que o oceano que banha sua cidade por lá inspire a liberdade do rapaz. Todos merecem. Do Brasil a China”

* O nome do menino, da arquiteta que o protegeu, dos donos da pastelaria e das próprias pastelarias foram mantidos em sigilo por questão de segurança — tanto deles, quanto do repórter. A Procuradoria da República, da seccional do Rio de Janeiro, confirma que existe uma investigação em andamento sobre o tráfico de chineses para o Brasil, mas prefere manter o caso em sigilo. Que façam um bom trabalho, que descubram todos os envolvidos e que a escravidão desapareça deste e de outros países.
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O caso Mariana Ferrer, por Honoré de Balzac
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
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5 anos atrásem
07/11/20O caso Mariana Ferrer por Honoré de Balzac
Por Dirce Waltrick do Amarante*
Quando o escritor francês Honoré de Balzac teve acesso ao vídeo da audiência de Mariana Ferrer, ele decidiu escrever o Código dos homens honestos, isso nos idos de 1875, mas só agora estou tornando públicas suas palavras, que estavam sob segredo de justiça.
Em uma análise bastante rigorosa, Balzac lembra, em primeiro lugar, que sabemos perfeitamente bem que “em princípio, ficou estabelecido que a justiça seria para todos, mas […]” . A tradução é de Léa Novaes, pois Balzac tinha dificuldade em escrever em português.
Dito isso, ele fala da figura do procurador. Em tempos idos, diz Balzac, os procuradores “levavam tão a sério o interesse de um cliente que chegavam a morrer por eles”. Além disso, eles “nunca frequentavam a sociedade”, e se a frequentassem eram vistos como “monstros”, mas hoje, “hoje tudo está monetarizado: já não se diz que Fulano foi nomeado procurador-geral, vai defender os interesses de sua província […]. Não, nada disso; o senhor Fulano acaba de conquistar um belo posto, procurador-geral, o que equivale a honorários de vinte mil francos […]”.
Balzac ia falar da figura do juiz e do defensor público, mas depois de tudo que assistiu ficou sem as palavras justas para descrevê-los.
Então, o escritor francês decidiu se debruçar sobre o papel do advogado, que “frequenta bailes, festas […] despreza tudo o que não é elegante”. E, diz Balzac, “Justiça seja feita aos advogados […]! São os decanos, os chefes, os santos, os deuses da arte de fazer fortuna com rapidez e com uma sagacidade que os torna merecedores de muitos elogios”.
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
Não citei na íntegra o texto do Balzac, porque foram esses os únicos fragmentos aos quais tive acesso, os outros foram apagados.
*Formada em Direito, em 1992, na Universidade Federal de Santa Catarina
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O show de Trump: renovação ou cancelamento?
A eleição nos EUA e o destino da democracia na condição atualista
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06/11/20por
Aloisio MoraisNos EUA voto popular não significa vitória. Biden terá mais votos do que Trump e ainda assim o resultado da eleição continuará indefinido por algum tempo. Apesar dos descalabros que marcaram a gestão Trump antes e durante a pandemia, o seu desempenho na atual corrida eleitoral será muito forte.
Mateus Pereira, Valdei Araujo e Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana, MG
A disputa está sendo muito mais acirrada do que era inicialmente previsto pela maior parte dos institutos de pesquisa e da mídia americana, embora a cautela e o medo nunca deixaram de estar presentes. Sob esse ponto de vista, as eleições deste ano são como uma repetição do que vimos em 2016, ainda que o resultado possa ser a derrota eleitoral para Trump. Em 2016 foram os democratas que denunciaram a interferência russa, agora é o presidente-agitador que se apressa em questionar a legitimidade do pleito, sem mostrar nenhuma prova. Sabemos que no ambiente do atualismo provas têm como base apenas convicções.
Um sistema eleitoral que sobreviveu por séculos, sem grandes mudanças, pode ter se tornado obsoleto desde a eleição de Bush, em 2000. Um lembrete do possível declínio da democracia americana: das últimas oito eleições presidenciais desde 1992, os democratas venceram no voto popular as últimas sete, mas em apenas quatro ocasiões ganharam o colégio eleitoral e fizeram o presidente.

Acreditamos que as eleições nos EUA são um exemplo do confronto entre duas estratégias e duas concepções sobre fazer política: de um lado, Trump e sua promessa de eterna atualização da atualidade em modo nostálgico; e Biden, com sua aposta moderada no cansaço na agitação atualista que seu adversário republicano encarna e radicaliza, e a retomada da política em moldes liberais. Essa retomada é feita sem uma crítica efetiva ao modelo neoliberal abraçado pela cúpula do partido democrata. Uma aposta radical, como Sanders, teria se saído melhor? É difícil dizer, mas tudo leva a crer que não, tendo em vista o complicado xadrez do voto estado a estado.
A escolha entre as duas estratégias/concepções se mostrou muito mais difícil e apertada do que se imaginava. A tal “onda azul” anunciada por parte da imprensa estadunidense esteve longe de acontecer. De fato, Trump se mostrou eleitoralmente muito mais forte do que os analistas supunham. Considerando que esta não é a primeira vez que os institutos de pesquisa falharam em captar esse movimento no eleitorado americano, e considerando também que fenômeno semelhante ocorreu no Brasil em 2018, coloca-se a questão de saber se as tradicionais pesquisas de opinião tornaram-se de alguma forma obsoletas em um mundo atualista. Esse quadro muda pouco, mesmo com uma eventual vitória de Biden ou pior, com uma inconveniente reeleição de Trump.
São vários fatores que devem ser considerados para avaliar essa questão. Os próprios institutos se apressaram a ensaiar algumas explicações ao público. O diretor da Trafalgar Group, Robert Cahaly, afirmou que muitos eleitores “esconderam”, como já havia acontecido, sua preferência por Trump por algum receio ou constrangimento social.[1] Não podemos desconsiderar algum tipo de boicote/sabotagem dos eleitores republicanos, já que na retórica do trumpismo as pesquisas de opinião fazem parte da mídia vendida. Outros recorreram à justificativa de que as pesquisas anteriores representavam apenas fotografias do momento específico em que as entrevistas foram feitas, e não o que se poderia esperar na eleição propriamente dita. Isso poderia ter sido de fato observado pela tendência de redução da vantagem de Biden nos últimos 15 dias. Afinal, o episódio da contaminação de Trump e sua rápida recuperação pode ter tido um saldo positivo, ao menos na mobilização de sua base, como já havíamos especulado em coluna anterior.
Aceite-se ou não essas justificativas, fato é que os institutos de pesquisa sairão dessas eleições com sua credibilidade e imagem pública mais arranhadas, sobretudo diante das especificidades do sistema eleitoral americano. Como afirmamos, muitos fatores concorrem para esse desgaste. Um deles está relacionado à condição atualista que caracteriza o nosso presente e como cada um dos candidatos se coloca frente a tal condição.

Trump é um político bastante sintonizado com o ambiente da comunicação atualista onde as provas dispensam comprovação factual. Seja nas redes sociais, seja em seus concorridos comícios, o presidente se revela um comunicador difícil de ser batido. Dentre os aspectos associados à condição atualista, destacamos a intensidade e velocidade sem precedentes do fluxo de notícias, em detrimento dos protocolos de verificação e checagem da informação veiculada. Esse ambiente infodêmico[2] é particularmente fértil para a produção de desinformação e sua disseminação como misinformação.[3] Além das informações imprecisas, para não dizer apenas falsas, que a infodemia trumpista ajuda a difundir, é preciso levar em consideração a agitação/ativação que produz. É como se a oposição se agitasse confusamente e a base trumpista se ativasse a cada um de seus comentários polêmicos. Assim, o uso constante das redes sociais para disseminar fake news ou comentários faz com que, seja de modo positivo ou negativo, o presidente esteja sempre no foco da mídia. O acúmulo de notícias sobre suas falas ou atos inconsequentes faz com que seja difícil recuperar qual foi o absurdo dito ou feito na semana anterior. Na condição atualista há um valor excepcional em estar mais atualizado (e exposto) que o seu adversário.
Ainda assim, a manipulação das fake news como ferramenta política supõe uma linguagem organizada para se tornar eficaz. Essa afirmação pode soar chocante à primeira vista: como podemos atribuir coerência a um discurso fundamentado em desinformação e que frequentemente e sem o menor pudor afirma hoje o contrário do que disse ontem, como o exemplo do uso de máscaras na pandemia?[4] O ponto aqui é que a condição atualista coloca muitos obstáculos para que o passado, mesmo o mais recente, seja trazido à reflexão. Assim, quando confrontados com suas próprias contradições, políticos atualistas como Trump e Bolsonaro simplesmente atualizam suas narrativas e afirmações quando as anteriores se tornam insustentáveis. Com muita frequência, os seus discursos mudam em função da conveniência da atualidade, sem a mínima necessidade de se prestar conta da contradição com o que eles mesmos diziam no dia anterior.
Essa estrutura atualista do discurso político só se torna eficaz, porém, no interior de uma linguagem organizada e facilmente identificável pelo público que a compartilha, no interior de uma condição material de reorganização do mundo do trabalho e do capital. A crise de 2008, concentração de renda, neoliberalismo, capitalismo de vigilância e a formação do atual “precariado” são elementos, dentre outros, fundamentais para entender a emergência de líderes que governam e são eleitos por pequenas maiorias mobilizadas pela historicidade e ideologia atualista. Só assim podemos entender a força de Trump na eleição independente do resultado final, ainda que sua derrota interesse a todos os democratas do mundo.

Trump lança mão de artifícios retóricos quando confrontado com suas afirmações evidentemente baseadas em mentiras e contradições, de tal maneira que ele consegue, mesmo em tais situações, transmitir e reforçar o código entre o seu público. O código se estrutura em uma lógica antagonista, na qual o portador é sempre vítima de perseguição por parte do establishment e da imprensa vendida para a “esquerda corrupta” ou as corporações globalistas.
O ponto principal a ser considerado é que para ser politicamente eficaz não é necessário que o código seja compartilhado por todos; mas que seja continuamente ativado junto aqueles que já o compartilham. Por mais que esteja sustentado em desinformações, o fato é que o código é bastante poderoso na ativação de afetos políticos centrais como o medo, ódio e ansiedade, vetores de forte engajamento e agitação política que Trump e Bolsonaro sabem tão bem promover.
O sucesso dessa estratégia se coaduna com a popularização das redes sociais e dos smartphones, bem como das novas tecnologias de processamento de dados manipulados para fins políticos. Nesse contexto, tornou-se possível criar e difundir mensagens sob medida para cada tipo de público, cada indivíduo ou grupo formula suas próprias percepções sobre o mundo a partir de narrativas (códigos) que não mais precisam ser expostos publicamente a todos para serem eficazes. Após alguns reconhecimentos iniciais, os algoritmos se encarregam de abastecer-nos das notícias que nos mobilizam, sempre com o mesmo teor e formato. Reforça-se, assim, o fenômeno das “bolhas”.[5] Esses códigos podem circular de forma subterrânea, de tal modo que o que parece absurdo e chocante para uns, é perfeitamente aceitável e normalizado para outros.
Esse ambiente de circulação de notícias e códigos é condizente com a ordem atualista de nosso tempo e, ao nosso ver, é um fator importante a ser considerado no desempenho surpreendente de Trump nestas eleições. E um dos preços a se pagar para tal sucesso é a radicalização do clima de agitação que tem marcado a nossa época. Esse quadro tem resultado inclusive em distúrbios psicológicos cada vez mais comuns, como o “transtorno do estresse eleitoral”, que segundo estimativas afeta sete em cada dez cidadãos estadunidenses.[6]

Os políticos atualistas claramente não se importam em pagar esse preço, na verdade eles têm lucrado com isso. Mas, ao fim e ao cabo, eles não podem evitar completamente os efeitos colaterais de suas apostas. Agitação e dispersão geram também cansaço no eleitorado. Biden e os democratas tomaram esse efeito como vetor de suas estratégias para estas eleições. Frente à irrefreável agitação de Trump, Biden se vendeu como a opção mais “centrista”, de moderação e convergência. A divergência entre as duas estratégias foi mais uma vez demonstrada logo após o fechamento da votação: enquanto Trump se apressou em declarar-se vencedor e dizer que irá judicializar a eleição em caso de derrota, Biden classificou tal postura como “ultrajante” e pregou calma aos seus apoiadores[7].
Mesmo que a vitória do democrata seja confirmada, é inegável que o preço desse lance foi bastante alto. A imprensa americana noticiou como parcelas importantes do eleitorado negro, que o próprio Biden afirmou ser “a chave para a vitória”, relataram estarem pouco motivados a votarem no candidato democrata.[8] O mesmo ocorreu entre parte do eleitorado hispânico, em especial na Flórida e no Texas. O conservadorismo nos costumes, a adesão a denominações evangélicas que tem crescido entre hispânicos e a tradição anticomunista dos cubanos, e agora também venezuelanos, na Flórida, são fenômenos a serem considerados. Enquanto fechamos essa coluna Trump ainda lidera na Pensilvânia, estado no qual o operariado branco migrou dos democratas para o trumpismo. No último debate, Biden acabou por reconhecer que teria que acabar com a exploração do altamente poluente gás de xisto, o que foi imediatamente explorado por Trump: “Eis uma declaração importante”, ironizou o presidente. Caso perca por margem apertada na Pensilvânia, onde os trabalhadores dessa indústria são amplamente sensíveis ao tema, talvez essa declaração tenha custado a eleição.
Para entender melhor essas flutuações teríamos que fazer algo pouco praticado durante a campanha, uma avaliação retrospectiva fundada em boa informação acerca das políticas públicas implementadas por democratas e republicanos, em especial nos governos Obama e Trump. O apoio ao republicano não é apenas resultado da mágica da comunicação, deriva também da tibieza das políticas democratas e dos acertos de Trump. Reforma do sistema criminal, política externa menos intervencionista, foco na economia e na criação de empregos, com bons resultados, ao menos até a pandemia.
A decisão das eleições primárias do Partido Democrata em nomear um candidato “centrista” para concorrer nessas eleições – ao contrário de uma opção mais radical do populismo de esquerda como Bernie Sanders – foi importante para unificar o partido (em especial o seu establishment) e angariar o apoio do eleitorado “cansado” da agitação radicalizada. Por outro lado, a figura moderada de Biden não se mostrou capaz de promover um grau de engajamento e mobilização do público à altura do seu adversário agitador, nem está claro ainda se seu discurso de união nacional conseguiu atrair eleitores de Trump. Essa diferença é importante em um contexto onde o voto não é obrigatório e, no caso particular das eleições deste ano, ainda mais desencorajado pela pandemia do coronavírus.
Mesmo assim, a moderação pode ter sido eficaz para para derrotar a agitação, mas não para desativá-la. E ainda não podemos assegurar como os EUA sairá dessas eleições, pois Trump continua sendo quem é. Há ainda o risco de o agitador perder e não aceitar sair, e as consequências disso poderão ser catastróficas. E mesmo que ele saia, o trumpismo – o negacionismo, o anti-esquerdismo, o desejo de retorno a um passado glorioso e mítico – ainda permanecerá em parcelas consideráveis da população.

O que tudo isso ensina para o campo democrático brasileiro, que tem de enfrentar a sua própria versão de agitador atualista? Desde o início da votação nos EUA, Bolsonaro disparou freneticamente uma série de tweets ressoando as alegações infundadas de seu ídolo sobre as eleições serem “fraudadas” a favor dos democratas, o que seria um risco para a “liberdade” e para o Brasil. Afinal, nosso agitador atualista tupiniquim sabe bem que a permanência de Trump é uma força de sustentação fundamental para ele. As relações entre EUA e Brasil deixaram de ser uma relação entre Estados, mas sim uma relação de “amizade” (leia-se emulação e, do nosso ponto de vista, subserviência) entre os chefes de turno da Casa Branca e do Palácio do Planalto.
Assim, e seguindo o estilo atualista de fazer política, Bolsonaro ressoa as afirmações sem fundamento de Trump, sem se preocupar com a veracidade e desprezando o princípio diplomático básico da impessoalidade. Mas Bolsonaro também tem seu próprio código “alternativo”, cujo enfrentamento é a tarefa prioritária das forças democráticas no Brasil, que deverá avaliar e tomar suas próprias escolhas para vencer o confronto. Assim como o trumpismo, nos Estados Unidos, o bolsonarismo é um fenômeno que não necessariamente depende da permanência de Bolsonaro no poder: ele mobiliza parcelas consideráveis da população através de seus discursos, que defendem o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia, a luta contra “o sistema”, a religião e a admiração pelo militarismo.
Será que a aposta moderada e centrista será suficiente para derrotar o bolsonarismo aqui? Mesmo que por pouco? Ou, em nosso contexto particular, faz-se necessário redobrar a aposta na radicalização pela via da esquerda? Mesmo que a vitória de Biden seja confirmada, ainda não está claro qual das duas vias parece a mais indicada para o Brasil. Enfim, tudo indica um destino trágico da democracia liberal de “pequenas maiorias” em tempos de agitação atualista. Sem negar a nossa atual realidade, cabe a nós pensar e imaginar alternativas, por mais difícil que pareça ser em nosso atual nevoeiro e impregnados por uma sensação de asfixia. Além disso, a lentidão com que a apuração avança em alguns estados decisivos promete nos deixar hipnotizados pelos mapas eleitorais na expectativa da atualização decisiva.
(*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Ambos são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana (MG). Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e ao grupo Proprietas pelo apoio e interlocução nesse projeto.
[1] https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/11/04/o-eleitor-oculto-de-trump-e-o-novo-erro-dos-institutos-de-pesquisa.htm
[2] PEREIRA, Mateus; MARQUES, Mayra; ARAUJO, Valdei. Almanaque da COVID-19: 150 dias para não esquecer, ou a história do encontro entre um presidente fake e um vírus real. Vitória: Editora Milfontes, 2020.
[3] Usamos aqui um neologismo para dar conta da diferença que em inglês é mais clara entre a produção deliberada de notícias falsas (disinformation) e sua disseminação involuntária (misinformation).
[4] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/07/20/trump-muda-discurso-e-agora-diz-que-usar-mascara-e-patriotico.htm
[5] EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algorítimos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Vestígio, 2019.
[6] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/quase-sete-em-cada-dez-americanos-relatam-transtorno-do-estresse-eleitoral.shtml
[7] https://br.noticias.yahoo.com/em-pronunciamentos-biden-prega-calma-e-trump-faz-acusacao-de-roubo-065922289.html
[8] https://www.aljazeera.com/news/2020/9/12/biden-battles-trump-lack-of-enthusiasm-among-black-voters
Geral
Mulheres candidatas discutem violência jurídica e estupro em Florianópolis
Julgamento que humilhou vítima de estupro na capital está no foco do “Democracia e cidades: eleições 2020 em Santa Catarina” desta sexta-feira, 6, às 20 horas, que entrevista mulheres.
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5 anos atrásem
05/11/20por
Raquel WandelliJulgamento que humilhou vítima de estupro na capital está no foco do “Democracia e cidades: eleições 2020 em Santa Catarina” desta sexta-feira, 6, às 20 horas, que entrevista mulheres.
Quatro mulheres candidatas pela Frente Democrática por Florianópolis a uma vaga na Câmara Municipal são as entrevistadas desta sexta-feira, 6 de novembro, às 20 horas, no quadro “Democracia e cidades: eleições em Santa Catarina”. Na quarta rodada da série, Jornalistas Livres enfocam especialmente o tema da violência jurídica contra a mulher a partir da denúncia do julgamento (assista aqui o júri completo) que absolveu André de Camargo Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer na festa de abertura do verão do Café de la Musique, em Jurerê Internacional, onde ela teria sido dopada. Discutem ainda a reação da denúncia de estupro e assédio sexual apresentada por umaex-servidora contra o prefeito Gean Loureiro, candidato favorito à reeleição.Acompanhe as entrevistas pelas plataformas dos Jornalistas Livres no Youtube, Facebook, Instagram e Twitter.
Participam da entrevista quatro mulheres, as candidatas feministas, Cirene Cândido, militante em defesa dos direitos da mulher negra pelo PT; Elaine Sallas, professora e artivista negra e lésbica, militante popular do PSoL; Fafá Capela, socióloga e cientista política da UFSC, militante do PCdoB e Júlia Andrade, psicóloga, jovem integrante do Movimento pela Moradia e presidenta da Unidade Popular (UP).Dois fatos tornaram a capital o epicentro das discussões feministas: há uma semana, o prefeito Gean Loureiro, candidato favorito à reeleição, foi denunciado por sua ex-subalterna, a servidora Rosana Ferrari por estupro e assédio sexual. Nesta semana, viralizou em todo o Brasil o vídeo completo com o julgamento em primeira instância de André Aranha, 43 anos, empresário paulista do ramo de esporte, acusado de estupro de incapaz. O júri ocorreu em setembro passado, mas só agora o conteúdo misógino da sessão saiu do âmbito da imprensa local, depois de reportagem de Shirlei Alves publicada pelo The Intercept .

Enfrentada por um júri formado por quatro homens, o promotor do Ministério Público, o juiz, o advogado de defesa eo réu, Mariana Ferrer viu seu acusado ser absolvido pelo juiz Hudson Marcos, sob a alegação sem precedentes de que “se houve estupro foi sem a intenção de estuprar”, embora as perícias tenham comprovado a sêmen de Aranha na vítima. O réu Aranhafoi tratado com toda deferência pelo júri, tendo tempo livre para lançar suposições não provadas contra Mariana e lamentar livremente as consequências da denúncia em sua vida profissional e pessoal. Enquanto isso, Mariana Ferrer, 23 anos, foi psicologicamente torturada, intimidada, insultada e humilhada pelo advogadode defesa Carlos Gastão da Rosa Filhoe proibida de fazer avaliações subjetivas pelo juizRudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis.

Entidades de defesa dos direitos humanos assinalaram a conivência do juiz e do próprio promotor público Thiago Carriço de Oliveira, que deveria defendê-la e não tentou impedimento do advogado nem mesmo quando ele a tratou como uma vagabunda fingida e golpista, mostrando fotos sensuais que justificariam o estupro e foram apagadas do seu Instagram. Diversas autoridades jurídicas do país, como o ministro Gilmar Mendes do STF do país, CNJ, OAB, Conselho Nacional do Ministério Público e até o Ministério da Cidadania, se manifestaram pela anulação do júri e pediram esclarecimentos ao Ministério Público. Uma das sentenças do advogado não impedidas pelo juiz que barbarizaram a opinião pública foram: “Deus me livre ter uma filha do seu nível”. Ele também implorou a deus que nunca seu filho se envolva com alguém da laia dela.
Enquanto o caso de Mariana Ferrer, que era virgem e tinha 21 anos quando foi estuprada, ganhou ampla comoção nacional, com engajamento de mulheres em atos públicos que começam a se espalhar por todoo país, a denúncia de Rosana Ferrari se voltou contra ela. Fotos e vídeo do flagrante, que deveriam ser mantidas em sigilo, vazaram da Delegacia da Mulher, onde a queixa foi apresentada, expondo a mulher e o acusado no encontro com o prefeito durante o erário público e no gabinete da Prefeitura.
Em vez de prevalecer a falta de decoro no exercício de cargo público, que seria motivo para impeachment, as cenas viraram alvo de um coliseu que não cessa de apedrejar a servidora. Nas redes sociais, Rosana éxingada moralmente, difamada e agredida pelos defensores do prefeito Gean Loureiro e acusada de golpe por ter flagrado com o celular o que seria o próprio estupro. Até mesmo opositores do prefeito consideram que as fotos demonstram que houve relação sexual com o seu consentimento. Em seu depoimento à delegacia, aex-servidoraargumenta que fez o flagrante porque já era assediada há dois anos e armou a câmera quando foi avisada de que o prefeito estava chegando ao gabinete da Secretaria de Turismo, onde estava encarregada de fazer a arrumação da sala.
A diferença de repercussão entre os dois casos na opinião pública de Santa Catarina, o primeiro da vítima perfeita, da menina virginal, o segundo da mulher de meia idade, casada, que não corresponde ao imaginário coletivo de inocente, será avaliada pelas candidatas feministas. Estão em questão a incidência de crimes de gênero – ou crimes da ordem política do patriarcado, como prefere a socióloga Rita Segatto -, no Estado e na capital e as propostas para combater a violência contra a mulher. Inclusive a avalanche de testemunhos de jovens que sofreram estupro ou ameaças a partir do golpe do Boa noite Cinderela na mesma boate onde Mariana trabalhava como influencer, espécie de promoter que faz a recepção dos convidados.
Com esses quadros de entrevistas que compõem o programa geral “Eleições 2020: o que está em jogo”, os Jornalistas Livres pretendem contribuir para o processo democrático municipal em todo o Brasil.Até o dia 12 de novembro, a equipe de profissionais dos JL de todo o país estará ajudando seu público a ter acesso a informações, posicionamentos ideológicos, projetos para a cidade e perfis políticos que o qualifiquem melhor para exercer o direito de escolha de seus candidatos. Acompanhe as entrevistas pelas plataformas dos Jornalistas Livres no Youtube, Facebook, Instagram e Twitter.
CANDIDATOS ENTREVISTADOS NESTA SEXTA-FEIRA (6de novembro)
CIRENE CÂNDIDO, candidata a vereadora pelo PT, número 13456, é formada em Gestão Ambiental, técnica em Segurança do Trabalho e militante feminista pelos direitos das mulheres negras. Já atuou como assessora parlamentar, agente comunitária de saúde, empregada doméstica, trabalhadora rural (boia fria), atendente de loja e telefonista. É empreendedora, colunista,mãe solo e eventualmente trabalha como diarista.

ELAINE SALLAS, candidata a vereadora pelo PSoL, número 50333, é mestre em teatro pela UDESC e especialista em Arte no Campo, é militante popular, periférica, negra, gorda, a(r)tivista, professora, arte-educadora, lésbica e umbandista. Foi conselheira no Conselho Municipal de Políticas Culturais e tem uma expressiva trajetória de luta pela educação gratuita, pública e de qualidade, pela cultura, por políticas públicas que são nossas por direito.

FAFÁ CAPELA, candidata a vereadora pelo PCdoB, número 65650, tem 28 anos, nasceu e cresceu em Florianópolis. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Sociologia e Ciência Política e doutoranda em Ciência Política, também pela UFSC. O feminismo abriu seus olhos para a necessidade de mudança: em quase 300 anos de existência da Câmara Municipal, apenas 7 mulheres foram eleitas. Por isso se dispôs a ser candidata a vereadora e a apresentar perspectivas que sorriam para todas e todos.

JÚLIA ANDRADE écandidataa vereadora pela Unidade Popular em Florianópolis (UP), número 80.000.Psicóloga formada pela UFSC, militante popular em organizações como o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB) e o Movimento de Mulheres Olga Benario.Júlia é Presidenta Estadual da UP, o partido mais jovem registrado no TRE, que trabalha com os movimentos populares em período eleitoral ou fora dele.


#JustiçaParaMariFerrer
MANIFESTAÇÃO POR ESTADO:

Em reunião virtual organizada pelo 8M Santa Catarina, uma rede nacional de mulheres definiu o desencadeamento de atos #JustiçaParaMarianaFerrer em todo o país sob o lema do “Fim da Cultura do Estupro” e “A culpa não é da vítima”. Em Florianópolis, vários atos já foram realizados e o próximo está marcado para o dia 7 de novembro, sábado, às 14 horas, no Centro de Florianópolis.
SÃO PAULO – SP
- 08/11 (domingo)
- 13hrs
- Vão Livre do MASP
BRASÍLIA – DF
- 04/11 (quarta-feira)
- 19h
- Praça dos 3 poderes
RIO DE JANEIRO – RJ
- 08/11 (DOMINGO)
- 14 horas
- Cinelandia
BELÉM DO PARÁ – PA
- 08/11 (domingo)
-14 hrs
-Can (em frente a basílica de Nazaré)
BELO HORIZONTE – MG
- 07/11 (Sábado)
- 15:00
- Praça 7 de Setembro
MANAUS- AM
- 08/11 (domingo)
- 13:00
- TEATRO AMAZONAS
RIBEIRÃO PRETO /SP
- 06/11 (sexta-feira)
- 13:00
- TEATRO PEDRO II
UBERLÂNDIA – MG
- 08/11 (domingo)
- 13:00
- PRAÇA TUBAL VILELA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP
- 07/11 (sábado)
- 10h
Praça Afonso Pena
PORTO ALEGRE – RS
- 08/11 (domingo)
- 15h
Redenção
CURITIBA – PR
- 07/11 (sábado)
- 14:30
- Santos Andrade
FLORIANÓPOLIS – SC
- -04/11 (quarta-feira) -17h -Em frente ao Tribunal de Justiça de SC e
- dia 07/11 (sábado)
- 15h
- Beira mar
BALNEÁRIO CAMBORIÚ – SC
- 08/11 (domingo)
- 13h
- Ponto de encontro R. 1500 esquina com a praia, saída até a praça Tamandaré
CRICIÚMA – SC
07/11 (sábado) – 10h – Pça Nereu Ramos -08/11 (domingo) -14:30 -Forum
ITAJAÍ – SC
Local: Igreja Matriz de Itajaí
Data: 08/11/2020
Horário : 13hrs
SALVADOR – BA
- 07/11 (sábado)
- 15h
- OAB BA, rua portão da piededade
FORTALEZA – CE
- 07/11 (sábado)
- 15h
- Praça da OAB/CE
JUIZ DE FORA – MG
- 07/11 (sábado)
- 15h
- Parque halfeld
VITÓRIA – ES
- 08/11 (domingo)
- 15h
- Em frente à Assembleia Legislativaj Teresina – Piauí
Dia: 07/11
Local: Parque da Cidadania
Horário: 16hs Natal- RN* - 07/11 (sábado)
- 15:00h
- Mydway Mal (shopping)

Veja a nota do 8M Brasil – SC
JUNTAS PELO FIM DA CULTURA DO ESTUPRO!
Chega! Não aceitamos essa cultura que nos explora, oprime e violenta nossos corpos. Não naturalizamos a impunidade seletiva e culpabilização das vítimas!As imagens da audiência que inocentou André de Camargo Aranha com o argumento absurdo de “estupro culposo” alegando falta de provas, são revoltantes. As agressões do advogado, promotor e juiz contra Mari Ferrer, escancaram de que lado está a justiça e por que é tão difícil para as mulheres denunciarem. Sabemos que provas é o que não faltam! Não existe estupro culposo! Repudiamos a exposição e culpabilização das mulheres vítimas de violência sexual. Como no caso da denúncia contra o Prefeito Gean Loureiro por estupro. Para ele, a consequência até agora foi zero, não foi afastado do cargo até que o caso seja julgado e segue na corrida pela reeleição, condenando a vítima publicamente.Chega! Queremos dignidade e respeito!Vamos pra rua!Próximo sábado, dia 07/11 #JustiçaPorMariFerrer e por todas nós!Exigimos a anulação dessa sentença e punição a todos os agressores.#DeuPraTiGeanA culpa nunca é da vítima!É pelo fim da cultura do estupro!#EleNão#ForaBolsonaro#NossasVidasImportam
Evento no FB do ato dia 07/11:
https://fb.me/e/1CH1B9k56
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