Não temos tempo a perder

A notícia de que o tempo de TV de Bolsonaro será menor até mesmo de que o tempo que Enéias dispunha nas eleições de 1989 é interessante, e me levou a fazer uma breve reflexão.

Com esses 8 segundos, Bolsonaro conseguirá dizer apenas “meu nome é Bozo”.


Isso até parece engraçado, e certamente renderá material para vários memes e piadas.


Mas ele dizer isso já é o bastante, e eleição é coisa séria.


É o nosso futuro, é o futuro de todo um país que está em jogo.


Então antes de rir da piada devemos levar em consideração que a base eleitoral de Bolsonaro está sendo construída há anos, fortemente alicerçada nas redes sociais.

Ou seja, que ele não dependerá essencialmente da TV para fortalecer a musculatura de sua campanha eleitoral.

Sua campanha tem bastante capilaridade, é horizontal na estrutura, é vertical no discurso e tem grande homogeneidade e simplicidade ideológica.

Bolsonaro fala aquilo que parte do povão gosta e quer ouvir.

Seu discurso tosco e violento dialoga com parte da massa, com uma parcela da população que está preocupada apenas em chegar em casa sem ser assaltada, sem ter o celular roubado ou a filha violentada.

Uma parcela da população que é amedrontada diuturnamente por programas policialescos de TV, pela criminalidade informal e pela bandidagem oficial, aquela que usa farda, anda de viatura e a oprime nas favelas e periferias por todo o Brasil.

Não que Bolsonaro apresente proposta sobre esses ou quaisquer outros temas nacionais, muito pelo contrário.

Bolsonaro finge que apresenta propostas factíveis, só que ele finge muito bem.

Usando de um simulacro de discurso tão rústico quanto objetivo, Bolsonaro fala o que quer para quem quer, enquanto a esquerda se preocupa com a problematização de pautas distantes da realidade imediata e objetiva da população.

Como as pautas identitárias, apenas para dar um exemplo.

Como a preocupação em escrever discursos tendo o cuidado de substituir vogais por @ ou x, ou forçadamente se referir a seus ouvintes como “TODOS e TODAS”.

Esse tipo de discurso agrada alguns segmentos da população, recortes de classe de um todo, mas nem de longe alcança o todo e o que é pior, esse discurso não deseja agradar o todo.

Esse discurso intencionalmente passa bem longe do todo.

Só que o povo mesmo não está preocupado com tais pautas.

Não agora.

O povo mesmo, o povão da periferia, está preocupado com a violência que bate à sua porta, direta ou indiretamente, violência agravada com o golpe e com a crise que o maldito golpe trouxe em seu bojo.

E Bolsonaro, espertamente, explora o medo dessa violência, prometendo combater fogo usando gasolina.

Os 8 segundos que Bolsonaro terá na TV não serão decisivos para sua campanha, mas o ajudarão a aumentar o estrago que ele faz há muito tempo nas redes sociais.

E nós sabemos que as eleições não serão decididas na TV.

As eleições 2018 serão decididas através de uma fortíssima disputa pelo protagonismo das narrativas , majoritariamente feitas nas redes sociais.

Não será chamando a criatura Bolsonaro de machista, nem seus eleitores declarados de fascistas, que venceremos essa disputa, nem tampouco conquistaremos seus corações e mentes agredindo-os.

Não será também escrevendo “menin@s” ou “meninxs” em nossos textos, reforçando o quanto queremos parecer diferentes, que dialogaremos com esses eleitores.

Muito pelo contrário, isso nos isola ainda mais, aumentando o abismo ideológico que existe entre parte desse eleitorado e nós mesmos.

Precisamos construir pontes, e não uma maneira alternativa de ressignificação como pessoas, justamente no meio de uma disputa eleitoral que já se apresenta das mais fratricidas da história.

Eleição é coisa séria, e é o nosso futuro que está em jogo.

O tempo urge, e Bolsonaro ruge.

Nos 8 segundos que terá na TV ou na eternidade da qual dispõe nas redes sociais.

Portanto, não temos tempos a perder.

8 segundos já é tempo demais, a essa altura do golpe, para se desperdiçar.

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