Um grupo de cerca de 30 cidadãos e ativistas ocupa desde a manhã desta quarta-feira o canteiro de obras da construção do BRT Lapa-Iguatemi na Av. Juracy Magalhães em Salvador. Os manifestantes protestam contra a realização do empreendimento que está orçado em mais de R$ 820 milhões, o que torna a instalação do modal uma das mais caras do país e a mais dispendiosa por km instalado.
Alcunhado “Movimento Não ao BRT de Salvador”, o grupo diz que realizará até o fim do dia o registro da destruição ambiental já promovida pelo início das obras, além de atividades convocando a população a se mobilizar contra o projeto. Os manifestantes pedem a interrupção imediata do processo e a discussão de melhores soluções para a mobilidade urbana de Salvador.
Segundo nota divulgada pelos integrantes do movimento, a ocupação iniciou com anúncio aos trabalhadores da obra explicando o propósito pacífico do ato e promovendo registros das condições do canteiro e dos equipamentos para evitar futuras acusações de depredação. Os manifestantes avaliam ainda retirar uma parte dos tapumes que cercam a área para revelar à população o desmatamento que está sendo executado em um dos boulevards mais arborizados da cidade.
Ainda de acordo com o grupo, os Ministérios Públicos Federal e Estadual e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) “estão sendo convocados publicamente a visitar a ocupação e assumir o papel de mediação de conflitos do qual têm se omitido” já que “representações da sociedade civil junto aos MPs vêm sendo sistematicamente arquivadas desde 2015, mesmo com farta documentação apresentada apontando irregularidades – que vão desde vícios de licitação até a ausência de licença para tamponar os rios e o plano de manejo de fauna”. Para o Movimento, a omissão destas entidades, faz com que seus integrantes recorram à ocupação do canteiro como meio de oferecer a visibilidade que a situação merece.
As obras do BRT de Salvador vêm sendo questionadas por diversos especialistas da área de mobilidade, meio ambiente e urbanismo. Quase 70 mil pessoas já assinaram petição online contra a derrubada prevista de 579 árvores na área. Artistas como Caetano Veloso, Camila Pitanga e Nando Reis, entre outros, também se manifestaram contra os planos da prefeitura da capital baiana.
Segundo técnicos e especialistas, a prefeitura também não apresentou estudos que comprovariam a demanda que justificasse a adoção por este modal de transporte, já considerado defasado, o aporte de investimento também é considerado excessivo para esta solução de transporte.
Outro ponto polêmico do projeto é o futuro tamponamento de dois rios e a construção de quatro elevados, um tipo de intervenção viária que tem sido evitada em todo o mundo pelo seu grande impacto urbano. Além disso, pelo projeto completo da obra, parte de sua estrutura deverá passar pela região do Dique do Tororó, um cartão postal da cidade e área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O Movimento afirma que mesmo diante da intensa demonstração de insatisfação nas redes e nas ruas, a prefeitura não abriu o diálogo para discutir com a sociedade a pertinência, a viabilidade ambiental e econômica da obra e os seus impactos na cidade.
Na tentativa de desqualificar o movimento, a prefeitura de Salvador divulgou nota nesta manhã classificando o movimento como realizado por “militantes políticos travestidos de ambientalistas e pré-candidatos a cargos eleitorais”. Ainda segundo texto divulgado pela prefeitura, a Polícia Militar foi acionado e “a invasão foi patrocinada por lideranças locais e nacionais do PSOL, numa atitude que demonstra o caráter partidário e eleitoreiro da ação, que não é pacífica ou democrática, já que se trata de ocupação irregular de uma área pública em obras”.
O “Movimento Não ao BRT Salvador”, contudo, se configura como um coletivo plural, suprapartidário, com organizações ambientalistas, populares, associações profissionais, pessoas com diferentes formações políticas, profissionais e sociais, que têm promovido manifestações na região aos domingos, realizando panfletagens, discussões sobre questões ambientais, urbanísticas e de mobilidade envolvidas na obra e mobilizado contra o projeto que entendem como injustificado em seus termos e nocivo em seus desdobramentos e resultados.