Deu bicho na banana e o banqueiro é anarquista

Lembro-me que estava dormindo em um simples hotel de Goiânia, pela primeira vez, quando meu antigo notebook de muitas viagens queimou durante um raio, uma forte chuva que invadiu a capital de Goiás.  Fiquei triste, pois editava as fotos de minha ida à rua do acidente radioativo com o Césio 137, vira a casa do catador de sucatas, que era apenas um terreno de ensurdecedor silêncio. Perderam-se os arquivos, como as almas naquela noite.

 

Na manhã seguinte, entendi que o raio havia atingido também Marielle Franco, em outra capital, sendo ela vereadora do Rio de Janeiro, muitos tiros em dois corpos.

 

Parece que faz dez anos, sendo tão próximos os eventos.

 

Hoje, dia de São Jorge, os dragões são outros. O gato do vizinho me acordou cedo, entre miados da ausência de seu dono, isolado em outro canto, ligo o rádio no computador, leio que Rita Lee anuncia que nada será como antes. Será novo tempo?  Caraminholo, gasto um tempo vão nesses dias com possíveis  delírios, inventando alternativas no pouco espaço durante o isolamento. Como me disse um amigo que trabalha com indígenas, nos sentimos como os índios em isolamento voluntário, recusamos o mal, vamos nos escondendo em nossos interiores.

Estamos atentos a pequenos sons,  enquadramentos nunca percebidos dentro de casa, aquela porta, aquela janela no horizonte visível.

 

Reflito sobre os mascarados que via antes nas ruas, eram tão diferentes, corriam da polícia.

Agora foi o vírus que quebrou o tamborim, bem vejo, a revolução foi tão instantânea, sem quebra-quebras, na maior tranquilidade de uma ordem, fique em casa irradiou-se.

Tudo anda diferente, desde o raio naquele dia e a morte de Marielle, até passeata há diante do quartel general. Como amor de índio, a canção, tudo que move é sagrado, arco de promessa.

 

A platéia quer ser feliz e a palavra sente frio.

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