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Meio Ambiente

“Aqui, um outro mundo é possível se a gente quiser!”

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A ideia de discutir sobre sustentabilidade não é tão nova; na década de 1970, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano — United Nations Conference on the Human Environment (UNCHE), em Estocolmo, as questões ambientais e ecológicas ganharam maior destaque em alguns países.

No início, sustentabilidade resumia-se em meio ambiente e cuidados com ele; após estudos e problematizações, em 1987, a partir do Relatório Brundtland (disponível em: http://www.un-documents.net/our-common-future.pdf), a sustentabilidade começou a ser trabalhada comodesenvolvimento sustentável, o qual analisa não só o meio ambiente, mas o contexto social e econômico dos países.

É o chamado tripé da sustentabilidade.

A partir desse debate sobre desenvolvimento, mudou-se a noção de sustentável e levou-se em consideração não apenas o meio ambiente, como separar o lixo, cuidar dos rios, não poluir as matas e diversas outras atitudes de extrema importância, mas que não podem estar isoladas de outras. Ser sustentável é planejar, pensar além — e também no agora –, sonhar e organizar; mas acima de tudo é estar disposto à mudança. Hoje, pensar o consumo e as formas dele é essencial para sustentação do tripé; além disso, como pensar nisso e não levar em consideração a fome, a miséria, o trabalho escravo e as condições sub-humanas de vida em diversas regiões do mundo? Sustentabilidade é pensar no todo.

Foto: Amanda Souza

O debate é essencial para compreender que não se deve pensar somente no meio ambiente, mas problematizar diversos outros fatores, sejam políticos, econômicos, sociais e relacionais e a Universidade tem papel fundamental em meio a isso. De acordo com Luciede Ribeiro, professora responsável pelo NIS — Núcleo Interdisciplinar de Sustentabilidade da PUCPR, “a Universidade contribui com debates e novidades que acontecem no mundo sobre como viver melhor, como lidar com o consumismo que obriga a sociedade a consumir mais e mais e quais são as consequências disto para a vida como um todo. Adotamos a sustentabilidade como tema central dos nossos debates por acreditarmos que ações simples do cotidiano podem tornar o ambiente que nos cerca muito melhor para se viver”, explica.

A terra como forma natural de subsistência e saúde

Os problemas e desafios ainda são latentes na sociedade, mas há (muitas) atitudes sendo criadas para começar esse processo de mudança. Aos poucos, algumas pessoas tornam-se protagonistas da transformação e da fuga dos padrões de consumo e de vida e, além disso, também se tornam multiplicadores dessas ações.

Uma delas é a Carolina Veiga, de Curitiba; ela é artista, cantora e microempreendedora e a cada dia tem uma nova ideia para modificar a sua vida e a vida de outras pessoas com práticas sustentáveis. “Tudo começou em casa. Meu vô era muito simples e prezava muito o reaproveitamento de tudo que fosse possível. A nossa casa, por exemplo, é uma antiga casa que estava em estado de demolição. Madeiras excelentes e ainda em perfeito estado seriam destruídas, então resolvemos aproveitar tudo e construir a nossa casa”, relata Carolina. Ela participa do coletivo MUP — Minifúndios Urbanos Produtivos há dois anos; um coletivo de hortas urbanas que foi iniciado por um grupo de amigos e hoje se expandiu para diversos lugares.

“O coletivo surgiu com a ideia de utilizarmos espaços para o plantio do nosso próprio alimento. Tudo começou na minha casa, um grupo veio e fizemos um plantio coletivo; depois da colheita, dividimos todos os alimentos entre nós. Essa ideia foi crescendo e agora, hora ou outra, vem alguém querendo fazer a sua hortinha. Então nós vamos lá, levamos nossas ferramentas, cada um leva um conjunto de mudinhas e botamos a mão na massa”.

A artista também é produtora da Ghee, uma manteiga clarificada, muito utilizada na culinária indiana e na medicina ayurvédica. “A ideia de produzir o próprio alimento é incrível. Você assistir todo o processo, ter o cuidado e a atenção com aquilo que você vai consumir e principalmente a atenção à saúde, pois as manteigas comuns têm altos índices de toxina; na produção da Ghee, as toxinas vão embora e consumimos somente a manteiga natural e saudável”.

Foto: Amanda Souza

Curitiba, mesmo com inúmeros problemas ambientais e uma metrópole que ainda não valoriza as opções sustentáveis que vem sendo implantadas pelos moradores, tem algumas iniciativas que se preocupam com essa discussão e também proporcionam a integração e atuação direta da comunidade. As hortas urbanas, que fazem parte do projeto de Agricultura Urbana em Curitiba, da Secretaria Municipal de Abastecimento, são espaços utilizados pela comunidade, em parceria com a Prefeitura e associações de moradores, que visam o plantio de alimentos pela própria população, “cada família possui uma horta e ela é responsável pelo cuidado, irrigação e plantio. A Prefeitura disponibiliza as mudas, o adubo, o espaço, a terra e o apoio técnico; as famílias realizam o trabalho com o alimento”, explica o chefe da Unidade de Agricultura Urbana, Rodolfo Queiroz.

Enormes pés de alface, cheiro verde, couve, morangos, manjericão e diversos outros alimentos fazem de dona Rose Mari Szkulny uma figura conhecida na horta comunitária da Vitória Régia, no bairro CIC. Cuidadosa, perfeccionista e muito deliciada, Rose diz que aquele espaço é onde ela é feliz. Produz alimentos, consome e doa a toda família; até mesmo flores ela planta para decorar o ambiente. “Todos os dias eu acordo e venho aqui, cuido das minhas plantinhas e dou muitas risadas com minhas amigas. É uma comunidade, como se fossemos todas irmãs”, conta dona Rose. Durante todo ano, ela recolhe mais de 100 garrafas pet e, no Natal, constrói uma grande árvore decorada que é colocada em meio à horta. “Todo mundo que passa por aqui tira fotos. Fico muito feliz com isso! Em janeiro eu desmonto e dou o material para os catadores de material reciclável”. Um grande ciclo de reaproveitamento.

Logo ao lado da horta de dona Rose, uma senhora muito alegre e espontânea distribui pés de alface a duas crianças que a observam. Cenoura, mais de quatro tipos de alface, repolho, brócolis e é claro, o coentro, fazem parte da horta da paraibana Maria Ana da Conceição. Amante da terra e da roça, ela mora em Curitiba desde a década de 1990, mas não dispensa as origens que a criaram. “A terra para mim é tudo. Ela me tira o stress, me anima e eu amo ficar aqui. Por mim, eu ficava o dia todo. Não consigo mais comer as verduras do mercado, parece papel! Aqui é tudo fresco e sem veneno”, conta dona Maria.

Foto: Amanda Souza

De acordo com a Prefeitura, o objetivo inicial do projeto era o plantio de alimentos; no entanto, os benefícios foram muito maiores do que esse. A maioria dos moradores relaciona o cuidado com a horta com a atividade terapêutica e o relaxamento. Há alguns quilômetros da horta do bairro CIC, se encontra uma das hortas do bairro Tatuquara; lá mora Rosimere Rocha Santos, enfermeira que há alguns anos foi diagnosticada com depressão grave. Foi internada durante sete meses em uma clínica psiquiátrica, mas, segundo ela, foi a atividade do plantio que a curou. “Eu fui curada pela terra”, diz.

Criatividade sustentável

Iniciar uma prática sustentável em si mesmo é fundamental, mas em coletividade o resultado é muito mais satisfatório e fortifica as relações humanas. Desde que a astróloga Adriana Beltrame resolveu modificar suas atitudes em prol ao desenvolvimento econômico e social colaborativo, diversas pessoas foram, aos poucos, aderindo à sua ideia. Ela e uma amiga criaram a Casa Terracanto, uma casa aberta que tem a intenção de movimentar a economia criativa e colaborativa e “colaborar com a criatividade, fazer parcerias, experimentar ser responsável por um espaço que não tem um dono específico e também ter um refúgio de tranquilidade no meio da vida urbana com muita simplicidade”, explica Adriana, que é starter da Casa. A casa possui projetos permanentes abertos à comunidade: atendimentos com Astrologia, o Reiki, a Gineterapia, o grupo de estudos e prática de Comunicação Não Violenta, o trabalho com a horta e as PANC´s (Plantas Alimentícias Não Convencionais). “Recentemente iniciamos um Bazar que será mensal e estamos organizando palestras na área da saúde, alimentação, gestão de rotina, psicologia feminina”, conta. Todo dinheiro arrecadado com essas atividades — as quais são oferecidas com preços acessíveis –, mais as contribuições espontâneas e o dinheiro que também sai do bolso, voltam para a manutenção do espaço e para a criação de projetos.

Foto: Fellipe Gaio

A decoração, a horta, móveis e vários espaços da casa são de materiais reaproveitáveis doados por amigos, empresas, familiares e simpatizantes da ideia. Para Adriana, “pensar na sustentabilidade é uma necessidade vital para a gente, não pensar nela é que seria estranho”.

Também é possível entrar no grande mercado e trabalhar de forma consciente e diferente do que é proposto pelas grandes empresas. O Flamingos Garden Hair, salão de cabeleireiros que fica na Rua São Francisco, em Curitiba, iniciou com um propósito diferente. “A ideia inicial do salão era trabalhar com uma marca que seja sustentável para shampoos, produtos em geral, com preocupação voltada para essa área. Trabalhamos com as tendências do “Happy”, do “Eco” e Sustentável. Quase tudo no espaço físico do Flamingos foi construído com materiais reutilizados, muitos encontrados na rua, ou com peças selecionadas, restauradas, devido a suas histórias”, conta Aline Marchese, uma das gerentes e fundadoras do salão. O salão começou com uma antiga sala comercial, toda repaginada e modificada de acordo com a criatividade do casal Aline e Vinícius. Os móveis foram restaurados e reconstruídos à mão por eles próprios: a parede com tijolos aparentes, o piso, a pintura; tudo foi construído sem a ajuda de profissionais.

“A indústria da beleza polui muito a água com as químicas e consome muita água para os serviços, além de estimular essa necessidade nas pessoas de quererem sempre algo novo, o cabelo mais bonito, o corte mais perfeito”, relata Aline. Além disso, outra iniciativa muito avaliada pelos frequentadores do salão é a possibilidade de doar o cabelo para produção de perucas para crianças com câncer.

O monopólio midiático, que é financiado por grandes marcas, reproduz a ideia de que consumir o que deseja é a melhor forma de encontrar a felicidade. Atitude ilusória é claro. O consumo desenfreado é uma das principais causas dos grandes problemas ambientais e sociais. Não basta separar o lixo entre reciclável e orgânico e continuar produzindo toneladas de lixos todos os dias. O lixo sai da sua casa, mas continua no Planeta. Discutir o consumo e, principalmente, o consumo consciente é uma tarefa que ousa estremecer interesses políticos e econômicos.

Tomar partido de uma prática sustentável é um ato revolucionário!

Foto: Fellipe Gaio

Meio Ambiente

Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

Passados mais de 1.800 dias, a impunidade prevalece e quase nada foi feito em favor da população atingida e do meio ambiente

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Há exatamente cinco anos acontecia o rompimento da barragem do Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, MG, levando 20 vidas, destruindo a vila e jogando toneladas de lama de minério no oceano ao acabar com a vida ao longo do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo. A barragem da Vale S.A. e BHP Billiton, mas operada pela mineradora Samarco, rompeu-se na tarde do dia 5 de novembro de 2015.

Durante todo esse período, mais de 1.800 dias, os responsáveis pelo crime não foram julgados. Em 2019, o crime de homicídio foi retirado do processo. As mortes provocadas pelo rompimento da barragem foram consideradas pela Justiça como simples consequência da inundação causada pelo rompimento, prevalecendo a impunidade. De lá para cá, as comunidades destruídas não foram reconstruídas e não há respostas para a recuperação do meio ambiente e para moradores, que passaram a sofrer de depressão e outras doenças.

Foto de Aloísio Morais

“Tudo está por fazer”. Esta é a conclusão da chefe da Força-Tarefa Rio Doce, Silmara Goulart, procuradora do Ministério Público Federal (MPF), sobre o crime cometido pelas empresas Vale S.A., BHP Billiton e Samarco. “A sensação, olhando cinco anos de desastre, é de consternação e profunda tristeza com a desolação, tudo ainda está por fazer”, conclui Silmara. “Nenhum grupo de atingidos foi integralmente indenizado, o meio ambiente também não foi integralmente recuperado e sequer o distrito de Bento Rodrigues foi reconstruído”, afirmou.

Além disso, um outro bom exemplo que ela aponta é o auxílio emergencial pago aos atingidos, que foi suspenso em plena pandemia. A procuradora ressalta também o fato do caso envolver duas empresas que estão entre as mais ricas do mundo, a Vale e a BHP Billiton, controladoras da Samarco, que atua em Mariana. “Antes do desastre, elas preferiram economizar para não reparar a barragem que estava em risco. Agora, os mesmos responsáveis preferem brigar para economizar centavos às custas da dignidade humana. Nós, do MPF e instituições parceiras, tentamos todas as estratégias possíveis, pedimos recomendações, recorremos de decisões, mas os resultados são frustrantes”, disse Silmara durante entrevista coletiva.

Na zona rural de Barra Longa as casas e imóveis das comunidades foram parcialmente encobertas pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte. Foto de Tânia Rego/ABR

Na ocasião, MPF, Ministério Público de Minas Gerais e Defensoria Pública de Minas Gerais e do Espírito Santo criticaram a  Fundação Renova, criada pelas mineradoras para reparar os danos ambientais e sociais, pelo descumprimento de acordos feitos ainda em 2016, como a criação das câmaras técnicas para assessorar os atingidos. Apenas cinco das 23 câmaras foram contratadas até agora. “Brumadinho (na Grande Belo Horizonte, onde outra barragem se rompeu há quase dois anos) tem assessoria técnica, embora a Vale lute contra. Lá temos avanços incríveis que, infelizmente, não temos em Mariana, onde o desastre é mais antigo”, apontou o promotor André Sperling.

As instituições criticam também a atuação da 12ª Vara da Justiça Federal por decisões recentes envolvendo a tragédia de Mariana. “A diferença principal (entre a reparação em Brumadinho e Mariana), além da experiência acumulada de um caso para o outro, é a atuação do Judiciário Estadual, que foi bem superior em comparação com o Judiciário Federal”, completou Sperling.

Ilustração de Vilé

O procurador Edilson Vitorelli, do MPF, lembrou que, no meio deste ano, o órgão ficou sabendo pela imprensa que corria na Justiça um processo de reparação de dano que não constava no processo coletivo. “Começamos a fazer pesquisa e descobrimos que a Justiça Federal de Belo Horizonte admitiu a instauração de 13 processos desmembrados do nosso processo federal, os quais não eram conhecidos de nenhumas das instituições da força-tarefa. Desses 13 processos, além do MPF não ter sido intimado, nove foram mantidos em segredo de Justiça. Nem que se tentasse pesquisar não seria viável localizá-los. Quem faz coisa certa não faz escondido. Se fosse coisa boa para os atingidos não seria feito de forma oculta”, afirmou Vitorelli.

A Fundação Renova, administrada por Samarco, Vale e BHP Billiton, informou que os novos processos indenizatórios, de adesão facultativa, foram implementados a partir de decisão da 12ª Vara Federal, após petições apresentadas pelas Comissões de Atingidos de Baixo Guandu (ES) e Naque, no Vale do Aço. “O papel da Fundação Renova é executar o que está definido pela sentença judicial”, justificou.

Até setembro, segundo a Renova, foram destinados R$ 10,1 bilhões para as ações de recuperação e compensação. Até 31 de agosto, cerca de R$ 2,6 bilhões foram pagos em indenizações e auxílios para cerca de 321 mil pessoas.

Ilustração de Janete

Nota do MAB

A propósito dos cinco anos do crime da Vale S.A. em Mariana, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou a seguinte nota:

Nós, atingidos e atingidas de toda a bacia do Rio Doce e litoral capixaba, somos pescadores e pescadoras tradicionais do rio, do mar e do mangue, marisqueiras. Somos trabalhadores da cadeia de apoio da pesca, comerciantes, pousadeiros e surfistas. Somos ribeirinhos e agricultores familiares e artesãs. Somos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, assentados da reforma agrária, moradores das comunidades atingidas. Nós somos homens e mulheres, idosos e crianças que tivemos nossos sonhos e projetos de vida interrompidos há cinco anos, pelo crime das mineradoras Vale, Samarco e BHP.

Estamos hoje, dia 5 de novembro de 2020, em Regência (ES), reunidos na foz do rio Doce, para dizer às empresas criminosas: Nossas vidas não têm preço! Não daremos quitação geral as empresas! Não estamos quites deste crime!

Não tivemos de volta nossas vidas, nosso rio, nosso trabalho, nossa renda, nosso lazer, nossa autonomia, nossos sonhos, nem sequer as nossas casas foram concluídas em Mariana e Barra longa, nos três reassentamentos propostos. Somos seres humanos e não mercadoria, não estamos a venda, sem reparação não haverá quitação.

Temos direito a ter voz e vez nas decisões. Estamos cansados de ter nossos destinos colocados à mercê de empresas, políticos e juízes, poderosos e donos desse sistema, que rouba nossos direitos à luz do dia sem nenhum pudor, e nos afundam cada vez mais nessa lama tóxica de interesses privados.

Nossos saberes tradicionais e populares, o nosso conhecimento acumulado por meio de gerações sobre nossos territórios e nossos modos de vida deve ser levado em conta. Já estávamos nos territórios antes da lama chegar. Estaremos aqui, e a nossa descendência estará por gerações nos mesmos territórios, mesmo após a Fundação Renova e os governantes que hoje estão à frente da reparação.

Não permitiremos mais que as nossas vidas sejam resolvidas entre quatro paredes pelas criminosas e seus cúmplices. A solução do problema vira de nós, atingidos e atingidas, povo unido e organizado.

A verdadeira participação popular virá das ruas, das praias, das escolas, das beiradas de rios e mangues, das vilas e das comunidades atingidas. Virá do povo atingido, em seu espaço de vivência, de afeto e de luta.

E, por fim, não abriremos mão de nossa saúde e bem-estar. Além das 19 vidas e do aborto em Bento Rodrigues, muitas outras vidas foram perdidas nesses cinco anos. Vidas que se foram, e vidas que nunca mais serão as mesmas.

Queremos de volta nossa água, nosso rio, nossas praias, nosso lazer e nosso alimento. Aqui está o povo que sempre trabalhou duro para ter o que comer, e sempre produziu alimento saudável para as nossas famílias e comunidades.

Não pedimos para ser atingidos por esse crime, mas agora que fomos, seremos de cabeça erguida e com a certeza de que estamos do lado certo da história. É hora de o Brasil dar um basta a essas empresas que se orgulham de recordes seguidos de lucro – enquanto negam ao povo humilde a justa reparação aos danos causados aos nossos territórios, aos nossos corpos e as nossas vidas.

Vale, Samarco e BHP, se preparem, pois estamos aqui para dizer em alto e bom som: saímos do luto, e os próximos cinco anos serão de muita luta!

Do Rio ao Mar, não irão nos calar! Águas para Vida, Não para Morte!

Ruínas deixadas pela lama em Bento Rodrigues – José Cruz/Agência Brasil
Barra Longa (MG) – Rio Gualaxo do Norte poluído pela lama levada pelo rompimento da Barragem de Fundão – José Cruz/Agência Brasil

Obs. A foto de abertura deste texto é de Antônio Cruz/ABR

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Meio Ambiente

O fogo na Amazônia é protocolo

O drama das queimadas na Aldeia Cajueiro dos Tembé Tenetehara no Alto Rio Guamá, Pará

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Protocolo. Ao chegar nas proximidades da Aldeia Cajueiro, passamos por dois caminhões do exército indo embora por volta das 15h e levantando poeira na estrada sem asfalto. De dentro do carro, vimos a muralha de fumaça típica de qualquer queimada no país. O cheiro de mata queimada é forte. A última vez que senti esse cheiro pesado, foi no Pantanal, no começo do mês.

As queimadas avançam no Pará

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Descendo do carro, já com câmera na mão, olho para o lado e vejo um grupo de indígenas no barracão da entrada, sentados, olhando para o fogo. Alguns bebem água. Suados. Cansados. Pergunto para um dos Tembé, o porquê de o exército ter ido embora, se ainda há fogo pra combater. Ele me diz que falaram que às 14h precisam voltar para a base. É o protocolo.

Ao chegar me apresento para o chefe de operações do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará, subcomandante Plínio. Um homem simpático e abatido. Suando e com o olhar fixo na fumaça, ele me diz que o fogo está descontrolado e avisa que “o corpo de bombeiros vai deixar a área às 18h. É Protocolo.”

Morador da Aldeia Cajueiro dos Tembé Tenetehara

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Os brigadistas sob o comando do sub Plínio, como eles o chamam, não aparentam só cansaso. Estão desorientados, sem saber o que fazer com a falta de equipamentos e com o calor, que os deixa desnorteados a cada vez que precisam entrar na mata. Tentam se proteger da tiririca – gramínea que corta o rosto e braços – e das tachis, formigas vermelhas e venenosas que entram na roupa e dão choques ao ferroar o corpo. Parece drama de quem vive na cidade, até você ser ferroado por dez formigas de fogo de uma só vez.

Uma bomba motorizada para puxar água é colocada em uma caixa d’água antiga, em cima de um caminhão; só assim é possível utilizar a mangueira para apagar um foco grande de fogo mata adentro. Tudo improvisado.
Os bombeiros, suados e gritando palavras de ordem uns para os outros, não parecem saber o que estão fazendo. Não se entendem. Discutem sobre o comprimento certo da mangueira. Esquecem de por os EPIs e pedem para não serem fotografados sem o equipamento. É protocolo.

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Do outro lado, os Tembé entram na mata mais rapidamente, para acalmar as chamas que vão se formando. São muitos focos de fogo. O chão, em muitos lugares, está em brasa. As copas das árvores estão pegando fogo e é preciso derrubar algumas. É necessário atenção máxima para os pedaços grandes de brasa que caem. Uma sucupira de mais de 100 anos vai ao chão pela motoserra. Tudo nessa situação é perigoso. Alguém pode ser esmagado por esses colossos que queimam por dentro. Os indígenas entram na mata no momento em que a árvore desaba, para apagar as brasas antes que, mais uma vez, o fogo pule para outros pontos; usam mochilas amarelas de água, emprestadas pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. A fumaça sobe no meio do mato, mas ainda é preciso esfriar mais a árvore tombada. São 18h e os bombeiros precisam sair. É Protocolo.

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Lançados à própria sorte, sem equipamento adequado, sem mangueira, sem treinamento e sem EPIs, os Tembé decidem abandonar a briga. Não há mais o que fazer. A noite esconde outros perigos além do fogo. O fogo pode ser visto a olho nu na escuridão. Serpentes como a cascavel e a jajaraca ficam escondidas e atacam, caso sejam pisoteadas. São invisíveis! Consumidos pelo fogo, galhos ficam expostos como espetos afiados, na mata e no chão. Uma espetada nas pernas, pés ou na barriga pode ser fatal, no meio da mata e à cinco horas de distância da cidade mais próxima, Paragominas.

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Alguns dos Tembé voltam pra Aldeia Cajueiro, mas outros precisam ficar e lidar com a falta de energia e luz. Fios dos postes foram derretidos pelo fogo. O cacique Reginaldo Tembé e outros Tembé Guardiões da Floresta, tentam fazer a emenda de um fio de alta tensão que foi rompido durante a queimada que já dura mais de três semanas.

O fogo misterioso, que começou de forma estranhamente milagrosa, próximo a uma fazenda, não vai descansar à noite. O fogo não sabe o que é descanso. Vai consumir mais ainda a mata, ao compasso do vento, assim como vai consumir os animais, como o bicho-preguiça, a jibóia e o jabuti. O fogo não sabe o que é protocolo.

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Amanhã de manhã, na Aldeia Cajueiro, os Tembé Tenetehara, cansados e com fome, irão acordar para batalhar mais uma vez, sem apoio dos bombeiros e do exército. Serão despertados pela fumaça que cobre a aldeia. Terão tosse mais uma vez. É o protocolo.

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Vejam outras matérias sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal.

https://jornalistaslivres.org/o-agro-e-pop-e-o-fogo-e-de-mentira/

https://jornalistaslivres.org/pantanal-em-chamas-arvores-solo-e-animais-dizimados/

https://jornalistaslivres.org/desinformacao-a-favor-do-fogo-pantanal-em-chamas/

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Meio Ambiente

FAMQLive – Festival em Defesa do Parque da Fonte

Parque da Fonte agoniza pelo descaso das autoridades

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Parque da Fonte

A situação do nosso almejado Parque da Fonte é muito crítica

Impedidos de entrar na área, temos recebido e encaminhado diversas denúncias de novas contruções dentro do terreno, árvores derrubadas, queimadas, a água que escoava pela Rua da Fonte secou, fotos do Google mostram Córrego da Fonte soterrado e depois, coberto com gramado.

Parque da Fonte

A indignação e impotência é imensa

Na justiça, processo aguarda apenas o deferimento da imissão da Prefeitura na posse. Num primeiro momento, juíza indeferiu, exigindo que a Prefeitura depositasse mais 3 milhões de reais – mas a dívida do proprietário com a prefeitura já ultrapassa o valor do imóvel, por que motivo depositar um dinheiro que o proprietário não poderá receber? Ninguém poderá receber.

Neste momento, intercedemos para que a excelentíssima juíza reveja sua sentença e, finalmente, esta área volte a ser pública, como históricamente sempre foi. Urge imitir a Prefeitura na posse! Urge que esta área seja pública, que tenhamos direito a entrar, fazer vistorias, participar das medidas de segurança e preservação. E participar da concepção e projeto do Parque da Fonte do Peabiru.

Parque da Fonte

Para que todos escutem nosso grito, resolvemos realizar o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

Para entender a situação em que se encontra o Parque da Fonte

2001 – realizamos a “Festa da Ocupação” – movimentou tanto o Butantã, que nos rendeu conhecer o Peabiru.

2003 – foi declarada ZEPEC- Zona Especial de Proteção Cultural, pelo Plano Diretor da Cidade.

2010 – realizamos a ManiFestAção em Defesa da Fonte

2011 – foi decretada de utilidade pública – DUP.

2012 – foi tombada como patrimônio ambiental, histórico e cultural pelo CONPREP – Conselho de Preservação do Patrimônio da Cidade. Muitos eventos continuaram a acontecer na Rua da Fonte: o SoMozum pela Fonte, a Lavagem da Pracinha, Carnaval, Capoeira, Mostra de Artes, Hip-Hop.

2014 – foi declarada ZEPAM – Zona Especial de Proteção Ambiental na revisão do Plano Diretor.

2015 – nas imediações da Rua da Fonte, realizamos o FAMQ – Fonte de Artes do Morro do Querosene, um festival de expressõess artísticas e culturais das mais diferentes linguagens.

2016 – realizamos (na mesma rua da Fonte) o II Encontro de Jongueiros do Morro do Querosene – nesse dia a Prefeitura esteve presente e anunciou o depósito, em juízo, de 2 milhões de reais (naquela época a dívida do proprietário ainda não superava o valor do imóvel). Foi dado início ao Processo na Justiça, este mesmo que agora aguardamos o deferimento para a imissão na posse.

FAMQ-Live em defesa do Parque da Fonte

Agora, nos dias 2, 3 e 4 de outubro de 2020, realizaremos o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

Abertura: Dia 2/10 – das 19h30 às 22h – Roda de Conversa ONLINE com transmissão pelo facebook e youtube.

Programação do Festival

Significado, situação e perspectiva do Parque da Fonte do Peabiru e outros parques.

Convidados

Representates do Parque da Fonte do Peabiru, Parque do Jaraguá é Guarani, Parque Augusta, Parque do Bixiga, Parque da Vila Ema, Parque dos Búlfalos, Parque Chácara do Joquéi, Parque do Caxingui, Parque da Àgua Podre, Fórum das Áreas Verdes, Praça das Nascentes, Rios e Ruas, Prefeito de São Paulo, Secretaria do Verde, Secretaria da Cultura, SubPrefeitura do Butantã, Câmara Municipal de São Paulo, vereadores que estão nos acompanhando nesta luta, o atropólogo Paulo Dias, o historiador Júlio Abe, o etnomusicólogo Eric Galm, o indianista Paulo Junqueira do ISA, o representante da SOS Mata Atlântica, o jardineiro do cerrado Daniel Caballero, Daniel Munduruku, e ainda um representando do Parque Estadual Serra do Japi e outro do Parque da Lagoa do Abaeté, de Salvador.

Dias 03 e 04/10 – das 16h às 19h

Festival de Artes (músicos, poetas, dançarinos, capoeiras, grafiteiros, pintores, escultores, literatas, brincantes, circenses, contadores de história, mímicos, bonequeiros)

Acompanhe a programação completa!

www.youtube.com/associacaoculturalmorrodoquerosene

www.facebook.com/FontedeArtesdoMorrodoQuerosene

Parque da Fonte

ASSOCIAÇÃO CULTURAL DA COMUNIDADE DO MORRO DO QUEROSENE

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