Estátua.
Monumento.
Palavras duras, pedra ou metal. Fazer ficar em pé a memória é o movimento desses objetos que, de tempos em tempos, são detonados, afogados, derrubados. Recordo-me de um Buda lindo, esculpido na pedra, implodido nas montanhas do oriente, muitos anos atrás, assim como as relíquias do Iraque e da Síria, destruição terrível do ofício de algum artista.
Recordo-me também, em certo dia, com Ailton Krenak, no Parque Trianon, em São Paulo, numa entrevista sobre a lama que invadira o Rio Doce, o rio que no início desse governo definiu para a nação como seria a cor desse momento , quando vi um olhar tão triste, de Ailton, para uma escultura do bandeirante Anhanguera , estátua poderosa nos gestos, em granito branco, na calçada da Avenida Paulista.

Anhanguera significa diabo velho, gênio manhoso e velhaco. Bartolomeu Bueno da Silva, homem forte com certeza, encontrou ouro no Rio Vermelho, e sei que se os indígenas o denominaram como diabo, não foi porque ele era um homem educado. Aliás, educação nunca importou muito aos monumentos, mesmo que seus traços sejam a arte de grande artista.
A humanidade ergue e destrói coisas belas, entre o trânsito dos homens quer perpetuar sua verdade, um dia atrás do outro. Eis que, de repente vira pó, volta a se misturar ao vento.