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Geopolítica

A Lava Jato e os objetivos dos EUA para a América Latina e o Brasil

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em

Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty (2003-2009),
ministro de Assuntos Estratégicos (2009-2010)

1. Os objetivos estratégicos dos Estados Unidos para a América Latina e, em especial

para o Brasil, são importantes para compreender a política externa e interna brasileira,

inclusive a Operação Lava Jato.

2. A América Latina foi declarada zona de influência exclusiva de fato americana pela
Doutrina Monroe, em mensagem do Presidente dos Estados Unidos ao Congresso
americano, em 02/12/1823.

3. Esta Doutrina corresponde a uma visão e convicção histórica, nos Estados Unidos, de
direito ao exercício de uma hegemonia natural sobre a América Latina, como o
Corolário Roosevelt, de 1904, viria a explicitar.

4. A partir da Guerra de Independência (1775-1783) e depois da formação da União em
1787-1789 os Estados Unidos passam a procurar excluir as potências europeias de
seu território continental (Louisiana – 1803, Florida – 1819, Oregon – 1845, Alaska –
1867) e a absorver esses territórios na União Americana.

5. A expulsão pelos americanos dos povos indígenas de seus territórios originais se
realiza com intensidade após a revogação da Proclamation Line de 1763, em
decorrência do Tratado de Paz de Paris (1783) entre a Grã-Bretanha e a
Confederação, que separava o território das Treze Colônias das terras indígenas além
dos Apalaches, até o Mississipi.

6. A influência econômica, política e militar americana sobre a América Central e os
países do Caribe foi e é avassaladora, com intervenções e ocupações militares, por
vezes longas, e o patrocínio de ditaduras, sanguinárias.

7. A Guerra contra o México (1848) levou à anexação de metade do território mexicano
e, com a chegada ao Pacífico, permitiu a consolidação do território continental dos
Estados Unidos do Atlântico ao Pacífico.

8. A Guerra contra a Espanha (1898) levou à ocupação de Cuba, à anexação de Porto
Rico, das Filipinas e de Guam e afirmou os Estados Unidos como potência asiática.

9. A “criação” do Estado do Panamá e da Zona do Canal, que foi território americano
até 2000, permitiu a ligação marítima rápida entre a Costa Leste e a região do Golfo
com a Costa Oeste da América do Norte, tanto comercial como militar, através do
Canal concluído em 1914, e administrado soberanamente pelos EUA.

10. Pelas características de sua localização geográfica, a zona estratégica mais
importante para os Estados Unidos é o Caribe, a América Central e o norte da
América do Sul.

11. Os objetivos estratégicos permanentes dos Estados Unidos para a América Latina
são:
1. impedir que Estado ou aliança de Estados possa reduzir a influência americana na região;
2. ampliar sua influência cultural/ideológica sobre os sistemas de comunicação de cada Estado;
3. incorporar todas as economias da região à economia americana;
4. desarmar os Estados da região;
5. manter o sistema regional de coordenação e alinhamento político;
6. impedir a presença, em especial militar, de Potências Adversárias na região;
7. punir os Estados que contrariam os princípios da liderança hegemônica americana;
8. impedir o desenvolvimento de indústrias autônomas em áreas avançadas;
9. enfraquecer os Estados da região;
10. eleger lideres políticos favoráveis aos objetivos americanos.

12. O principal Estado da região pelas dimensões de território, de recursos naturais, de
população, de localização geográfica é, sem dúvida, o Brasil. Principal também pelos
desafios que apresenta devido à possibilidade de graves turbulências futuras, sociais,
econômicas e políticas.

13. Devido a este caráter principal, os objetivos dos Estados Unidos são objetivos para a
América Latina em geral, porém se aplicam em especial ao Brasil.

14. O primeiro objetivo estratégico americano é impedir a emergência e
fortalecimento de qualquer Estado ou aliança de Estados que possam se opor à
presença ou afetar a influência política, econômica e militar americana na região.

15. Para alcançar este objetivo tratam os Estados Unidos de aguçar e reacender
eventuais rivalidades (históricas ou recentes) entre os maiores Estados da região, isto
é, entre o Brasil e a Argentina, não estimular o conhecimento de suas histórias e
culturas, estimuladas as rivalidades através da ação de lideranças locais que buscam
obter tratamento privilegiado para seus países junto aos Estados Unidos (Carlos
Menem e Jair Bolsonaro são exemplos desse comportamento).

16. O segundo objetivo americano é manter e ampliar sua presença
cultural/ideológica nos sistemas de comunicação de cada Estado da região como
instrumento para sua maior influência política, econômica, militar e cultural.

17. Essa presença aumenta sua capacidade de obter melhores condições legais (fiscais e
regulatórias) para a ação de suas megaempresas (petroleiras, por exemplo); para
obter contratos de venda de equipamentos militares; para lograr alinhamento e
apoio às iniciativas americanas em nível mundial; para promover a “simpatia” pelos
Estados Unidos na sociedade local; para obter o apoio da sociedade e dos governos
para seus objetivos estratégicos.

18. Este objetivo tem como instrumentos a defesa da mais ampla liberdade de imprensa
e de Internet e para a livre ação das ONGS “internacionais” e “altruístas”; dos
programas de formação de pessoal, desde os institutos de língua aos intercâmbios; às
bolsas de estudo; ao recrutamento de talentos; à aquisição de editoras para
publicaçãos de livros americanos; a hegemonia na programação de cinema e de TV;
os programas de formação de oficiais militares e lideranças políticas; e recentemente
a aquisição de instituições de ensino, em todos os níveis.
19. O terceiro objetivo dos Estados Unidos é incorporar todas as economias dos
Estados da região à economia norte-americana, de forma neocolonial, no papel de
exportadores de matérias primas e importadores de produtos industriais.
20. Após o fracasso do projeto regional “multilateral” da ALCA, lançado em 1994 e
encerrado em 2005 na reunião em Mar del Plata, os Estados Unidos passaram a
promover a negociação de acordos bilaterais com cada Estado latino-americano com
dispositivos semelhantes aos da ALCA e até aos EUA mais favoráveis. Verdade seja
dita que o acordo de livre comércio com o Chile fora assinado em 1994 e com o
México e o Canadá (NAFTA) também em 1994.

21. O instrumento para alcançar este objetivo são os acordos bilaterais de livre comércio
que levam à eliminação das tarifas aduaneiras e à abertura dos mercados dos Estados
subdesenvolvidos nas áreas de investimentos; de compras governamentais; de
propriedade intelectual; de serviços; de crédito e, às vezes, incluem cláusulas
investidor-Estado.

22. Por sua vez, os Estados subdesenvolvidos da América Latina que atingiram certo grau
de industrialização não ganham acesso adicional aos mercados de produtos
industriais, pois as tarifas americanas são baixas, existe a escalada tarifária e as
medidas de defesa comercial, e o acesso a mercados agrícolas é restringido pela
legislação agrícola, americana de subsídios e de proteção.

23. O acordo Mercosul/União Europeia será instrumental para a abertura de mercados
para os Estados Unidos sem ônus político pois, após sua entrada em vigor, estarão
criadas as condições para os Estados Unidos reivindicarem ao Brasil e ao Mercosul
igualdade de tratamento. Outros países altamente industrializados como o Japão, a
Coréia do Sul, o Canadá e a China farão o mesmo e o Brasil não terá mais a tarifa
como instrumento de política industrial. O Mercosul desaparecerá.

24. O quarto objetivo estratégico dos Estados Unidos é desarmar os Estados da região.
25. Os instrumentos para atingir este objetivo são a promoção da assinatura do Tratado
de Não Proliferação Nuclear (TNP) e de outros tratados na área química e biológica, e
mesmo sobre armas convencionais; a venda de equipamentos militares defasados a
preços mais baixos e o “estrangulamento” de eventuais indústrias bélicas locais; os
acordos de associação à OTAN; a transformação das Forças Armadas nacionais em
forças de caráter policial, voltadas para o combate ao narcotráfico e a crimes
transnacionais e, portanto, necessitando apenas de equipamento leve.

26. O quinto objetivo estratégico americano é manter o sistema de segurança
regional, a Organização dos Estados Americanos, reconhecido pela Carta da ONU,
onde tradicionalmente os Estados Unidos podem exercer sua influência, contam com
o auxílio do Canadá e de países da América Central e assim podem tratar das
questões regionais sem ir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

27. Outro instrumento para alcançar este objetivo é promover a dissolução da UNASUL,
como foro de solução de controvérsias concorrente da OEA e como organização de
cooperação em defesa, da qual os Estados Unidos não participam.

28. O sexto objetivo dos Estados Unidos na América do Sul consiste em impedir a
presença de Estados adversários de sua hegemonia, e como tal nomeados pelos
próprios EUA, quais sejam a Rússia e a China, na região latino-americana, em uma
versão atual da Doutrina Monroe.

29. Segundo documentos oficiais americanos recentes a “China é um poder revisionista”
e a Rússia é um “Ator Maligno Revitalizado” (Indo-Pacific Strategic Report, do
Pentágono).

30. A presença russa e chinesa é especialmente temida na área militar, inclusive por
ameaçar a Costa Sul do território americano e os acessos ao Canal do Panamá, via
comercial e militar estratégica.

31. Um sétimo objetivo americano, importante para demonstrar sua determinação de
exercício de hegemonia na América Latina, é punir, dentro ou fora do sistema da
OEA, com ou sem o apoio de outros Estados da região, aqueles governos que
contrariarem, em maior ou menor medida, os princípios da liderança mundial
americana:
 ter economia capitalista, aberta ao capital estrangeiro, com intervenção mínima do Estado;
 dar tratamento igual às empresas de capital nacional e estrangeiro;
 não exercer controle sobre os meios de comunicação de massa (TV etc);
 ter regime político de pluralidade partidária e eleições periódicas;
 não celebrar acordos militares com os Estados Adversários, quais sejam a Rússia e a China;
 apoiar as iniciativas dos Estados Unidos.

32. A campanha política/econômica/midiática para promover a mudança de regime
(regime change) de um Estado da região, isto é, para promover um golpe de Estado
para derrubar um Governo que os Estados Unidos consideram hostil, inclusive com o
financiamento de grupos de oposição, se desenvolve em várias etapas (que depois se
superpõem) de denúncia do Governo “hostil” pela grande mídia regional e pela mídia
mundial, com o auxílio da Academia, como sendo:
 autoritário;
 corrupto;
 traficante ou leniente com o tráfico de drogas;
 perseguidor de inimigos políticos;
 violador da liberdade de imprensa;
 ineficiente;
 opressor da população;
 ameaça aos vizinhos;
 ameaça à segurança americana.

33. Um oitavo objetivo estratégico americano é impedir o desenvolvimento de
indústrias autônomas nas áreas nuclear, espacial e de tecnologia de informação
avançada na América Latina, e em especial no Brasil, país com as melhores condições
para desenvolver tais indústrias.

34. Um nono objetivo estratégico americano é enfraquecer politica e economicamente
os Estados da região.

35. Os instrumentos são estimular direta ou indiretamente (pela mídia) a redução do
poder regulatório em defesa dos consumidores, da população em geral e dos
trabalhadores, dos organismos do Estado, em especial aqueles que limitam ou
disciplinam a ação das megacorporações multinacionais, entre as quais prevalecem as
americanas.

36. Outro instrumento para alcançar este objetivo é a campanha contra o Estado central
como ineficiente e mais corrupto e autoritário, e a defesa da descentralização
regulatória e de auto regulação dos setores pelas próprias empresas privadas.

37. Um objetivo americano importante é enfraquecer o único organismo do Estado
(brasileiro) que enfrenta, todos os dias, os interesses dos demais Estados nacionais,
em especial os interesses dos Estados Unidos, de seus adversários, Rússia e China, e
das chamadas Grandes Potências, como Inglaterra, França, Alemanha e Japão, nas
negociações para aprovar normas internacionais que atendam seus interesses (e
lucros).

38. Os instrumentos para atingir este fim são denunciar a ineficiência; o corporativismo;
o exclusivismo; o “globalismo”; a partidarização; a visão ideológica “esquerdista” da
Chancelaria.

39. O décimo objetivo estratégico dos Estados Unidos da América, e talvez o principal
objetivo, é impedir a eleição de líderes políticos em cada Estado que manifestem
restrições a seus objetivos estratégicos e promover a eleição de líderes que a eles
sejam favoráveis.

40.E aí entra o papel da Operação Lava Jato na defesa direta ou indireta dos
interesses americanos.

41. A partir da eleição, em 2002, do presidente Lula, a política interna e externa brasileira
se contrapôs, ainda que não de forma sistemática, desafiadora ou revolucionária, a
alguns dos objetivos estratégicos americanos:
a. ao não apoiar a invasão do Iraque de 2003;
b. ao estabelecer o entendimento político e econômico estreito com a Argentina;
c. ao promover a coordenação com a Argentina, a Venezuela, o Uruguai, o Equador, a Bolívia e
o Paraguai para a formação da UNASUL, em substituição à OEA.
d. ao resistir à ALCA e ao fortalecer o Mercosul;
e. ao fortalecer os instrumentos financeiros do Estado, como o BNDES, e ao utilizá-los na
politica externa;
f. ao fortalecer o programa nuclear;
g. ao exercer operações de aproximação autônoma com os países africanos e árabes;
h. ao promover a criação do BRICS, com a China e a Rússia;
i. ao fortalecer a Petrobrás e ao estabelecer o regime de parceria para exploração do pré-sal;
j. ao estabelecer a política de “conteúdo nacional” na indústria;
k. ao promover a indústria de defesa brasileira;
l. ao defender a regulamentação da mídia;
m. ao negociar, com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã;
n. ao exercer o equilíbrio em suas relações com Israel e Palestina.

42. A partir dessa nova situação nas relações Brasil-Estados Unidos e da crescente
popularidade do presidente Lula, que terminaria em 2010 seu mandato com 87% de
aprovação, a estratégia americana foi:
 mobilizar os meios de comunicação de massa no Brasil contra as políticas do Governo, e
condenar sua ação através do Instituto Millenium, fundado em 2005, para dar amplo apoio à
Operação Mensalão, que não conseguiu atingir o presidente Lula, mas que veio a atingir
José Dirceu, chefe da Casa Civil, e provável sucessor de Lula;
 a partir do acordo de cooperação judiciária Brasil-Estados Unidos, iniciar a Operação Lava
Jato, que viria a facilitar o alcance dos objetivos estratégicos americanos em especial 2, 8, 9 e
10, listados no parágrafo 11 acima;
 iniciar o processo político de preparação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff;
 financiar direta e indiretamente a formação dos grupos MBL e Vem pra Rua.

43. O principal objetivo da Operação Lava Jato não era a luta contra a corrupção, mas, sim,
impedir a eleição do presidente Lula em 2018. Sua ação partia das seguintes
premissas:
 a grande maioria da população, devido à sua precária situação econômica e cultural, está
sujeita a ser manipulada por indivíduos populistas, socialistas, comunistas etc. que fazem aos
eleitores promessas irrealizáveis para conquistar e explorar o poder;
 a sociedade brasileira é intrinsecamente corrupta;
 todos os políticos e partidos são corruptos;
 os governos se sustentam através da corrupção e da compra de votos;
 a violação de direitos constitucionais e legais por membros do Judiciário e do Ministério
Público se justifica para combater a corrupção.

44. O juiz Sérgio Fernando Moro descreveu em seu artigo intitulado Mani Pulite,
publicado em 2004 na Revista CEJ – Justiça Federal N°26, a sua decisão de violar a lei
para combater a corrupção, em uma interpretação de que “os fins justificam os
meios”.

45. A “corrupção” foi enfrentada pela Operação Lava Jato, comandada por Sérgio Moro,
juiz de primeira instância que contou com a conivência e mesmo a cooperação de
membros dos Tribunais Superiores e da grande imprensa, para uma condução
processual altamente heterodoxa e ilegal.

46. A divulgação quotidiana e seletiva de ações da Lava Jato através da imprensa, em
especial da televisão, foram essenciais para criar a convicção de que a Lava Jato teria
“revelado” que o partido que teria promovido e se beneficiado da corrupção no
sistema político teria sido o PT, conduzido por Luiz Inácio Lula da Silva.

47. Formou-se um amplo movimento anti-petista e anti-Lula, e tornou-se, assim, um
objetivo não só político, mas ético e moral, para combater a corrupção, apresentada
como o principal mal da sociedade brasileira, impedir por todos os meios que o ex-presidente Lula pudesse se candidatar e, iludindo o povo ingênuo, ser eleito e reimplantar os mecanismos de corrupção.

48. Assim, foi Lula condenado, sem provas, em primeira instância por Sérgio Moro e em
segunda instância por uma turma de três desembargadores do TRF-4 (não pelo
Tribunal pleno), desembargadores que gozam de grande familiaridade e amizade
com Sérgio Moro, que condenaram Lula à prisão em regime fechado, para não poder
exercer qualquer atividade política e, assim, não poder nem competir nem influir nas
eleições de 2018.

49. A decisão arbitrária do TRF-4 correspondeu à cassação dos direitos políticos de Lula e
do povo brasileiro, que não pôde votar em Lula, o candidato à frente em todas as
pesquisas de opinião.

50. A nomeação do juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça por Jair Bolsonaro e a
declaração de Bolsonaro de que devia muito de sua eleição a Moro indicam o alto
grau de ilegalidade do comportamento de Sérgio Moro e de Jair Bolsonaro e sua ação
política.

51. A primeira etapa para atingir o Objetivo estratégico 10 era promover o impedimento
da presidente Dilma Rousseff, o que foi conseguido em 16/4/2016. O vice-presidente Michel Temer assumiu com um programa econômico intitulado “Ponte para o Futuro”, elaborado por economistas liberais e perfeitamente compatível com
os objetivos estratégicos dos EUA, e que vem sendo aplicado de forma ainda mais
radical por Paulo Guedes.

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1 Comment

1 Comments

  1. Luiza Rotbart

    09/12/19 at 13:06

    Artigo irretocável!

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Geopolítica

Dan Kovalik – No More War

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em

O advogado e especialista em Direitos Humanos Daniel Kovalik, professor na Escola de Direito da Universidade de Pittsburgh, realizou um webinar no último dia 14 de julho onde comentou as mais recentes denúncias sobre violações e assassinatos de mulheres ocorridas em bases norteamericanas pelo mundo.

Dan Kovalik é autor de vários livros críticos à política externa dos EUA sendo o último deles “No more war”. Quase todos os títulos podem ser encontrados no formato e-book ou encomendados pela Amazon.

Transcrição, tradução e legendas: Juliana Medeiros
Revisão: Maria José Campos


Deixe-me começar com alguns eventos mais recentes.

Eu hoje li algo sobre uma servidora da marinha, Thae Ohu – eu acredito que ela seja uma vietnamita-americana e militar – que foi sexualmente abusada por seus colegas de marinha. Quando ela reclamou com seus oficiais superiores foi colocada na prisão militar, onde continua presa.

O desenrolar de outra história tem obtido também muita atenção, a de Vanessa Gillen, uma soldado que aparentemente foi morta e desmembrada por um colega soldado [em uma base] nos EUA.

Então, por que estou trazendo esses casos? Em grande parte por conta do que vemos com frequência aqui, na grande mídia dos EUA (NPR, NYT..). Eles dizem: “Hey, os EUA não podem deixar lugares como o Afeganistão, porque precisamos estar lá para proteger as mulheres afegãs”. Certo? Bom, vamos encarar o fato de que o governo dos EUA sequer pode proteger seus próprios soldados, as mulheres soldados mas alguns homens também, dos seus próprios companheiros.

Um em cada 30, pelo menos 1 em 30 – e esses números são os “oficiais”, portanto provavelmente são mais altos – 1 em cada 30 mulheres em relatórios militares já foram sexualmente violentadas por seus colegas soldados. Esse é um problema gigantesco! E de novo, se os militares só podem lidar com esse tipo de problema colocando pessoas na prisão por reclamarem de terem sido sexualmente violentadas, como eles poderiam proteger mulheres em outros países? E esse é um fato que nós já sabemos: eles não podem.

Então, por exemplo, no Afeganistão nós temos gente como [o jornalista] Scott Simon na [rádio] NPR dizendo: “nós não podemos deixar o Afeganistão e deixar as mulheres nas mãos do Talibã, elas serão abusadas”.

Vejam, o Talibã não é bom e eles são cruéis com as mulheres, sim. Mas agora mesmo, com soldados norte-americanos em solo lá [no Afeganistão] e eles já estão [na região] nos últimos 19 anos, indo para o 20º, o Afeganistão segue sendo o pior país no mundo, segundo a ONU, para os direitos das mulheres. O pior!

Então, voltamos à pergunta: o que os EUA estão fazendo para proteger as mulheres no Afeganistão? O que eles fizeram nos últimos 50 anos?

Os EUA em 1979 apoiaram [fundamentalistas islâmicos] Mujahedin, incluindo um de seus principais líderes, Osama Bin Laden, a iniciar atividades terroristas no Afeganistão contra o governo socialista que havia lá (e que protegia os direitos das mulheres) para derrubar a presença da URSS no Afeganistão. Nós sabemos disso, a partir do Relatório de Segurança Nacional do ex-Conselheiro Zbigniew Brzezinski do [ex-presidente] Jimmy Carter. Ele admitiu isso: que os EUA apoiaram o Mujahedin não para lutar contra as tropas soviéticas no Afeganistão, mas para tirá-los de lá. E foi exatamente o que aconteceu.

Os EUA vêm dando apoio a esse jihadismo de direita e anti-feminista no Afeganistão desde 1979. E agora nós ouvimos que os EUA não podem sair do Afeganistão para não deixar as mulheres à sua própria sorte? Isso não faz nenhum sentido!

Eu gostaria de ler algumas passagens do meu livro para dar-lhes uma ideia sobre esses temas.

O capítulo 9 cujo título é: “As forças armadas dos EUA não são uma organização feminista”. De cara, você poderia dizer “eu nunca pensei que pudesse ser uma organização feminista”. E de novo, de várias maneiras, somos levados a acreditar nisso. Então, aqui está uma parte desse capítulo:

“É sabido que durante a guerra dos EUA no Vietnã, por exemplo, o estupro era, de acordo com o testemunho dos próprios soldados dos EUA: um “procedimento de operação padrão” e os homens que serviram e mataram no Vietnã eram considerados por seus companheiros como “veteranos em dobro” se eles estuprassem mulheres e meninas vietnamitas, e também todos que fossem considerados inimigos ou ainda “alvos justos de estupro”.

E de novo: “companheiros, co-membros da mesma unidade militar também foram violentados em cenários de combate.

Um estudo preliminar de mulheres veteranas no Vietnã estima que tenha sido mais de 29% das mulheres militares norte-americanas que serviram no Vietnã, as vítimas de tentativas ou violações sexuais completas pelos próprios colegas militares dos EUA.

Agora, você poderia dizer: “e o que dizer da Segunda Guerra Mundial? Nós éramos os caras bonzinhos!”. Bom, o Vietnã não foi a única vítima desse procedimento, nem mesmo considerando na que chamamos “Guerra do Bem” [II Guerra Mundial], segue mais um trecho do livro:

“As forças aliadas, incluindo as forças dos EUA, se envolveram em estupros inclusive de “cidadãos de países aliados”. Por exemplo, como um artigo do Duke Law Journal explica, “o estupro de mulheres francesas por soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi suficientemente perverso para provocar uma diretiva do quartel-general do General Eisenhower em dezembro de 1944 para o Comando das Forças Armadas dos EUA anunciando que o General estava gravemente preocupado e instruindo que rápidas e apropriadas punições fossem administradas”. Isso porque aparentemente, os estupros cresceram 260% depois do “Dia D”! E nesse caso agora, porque as tropas americanas estavam usando largamente suas armas (apontando mesmo) para cometer estupro contra mulheres aliadas, mulheres francesas [na ocupação] na França.

Jean Bricmon em seu livro “Imperialismo Humanitário” diz que quando você vai para uma guerra o resultado é a tortura. Inevitavelmente. Apesar de todas as regras que temos sobre guerras, de proibir torturas, de proibir civis como alvos, de cuidar para que civis sejam protegidos, os que invadem outros países sempre torturam essas pessoas nesses países.

E eu adicionaria a isso, e não estou sozinho, que muitos estudos apoiam a afirmação de que também as guerras agressivas [não defensivas] significam sempre estupros. Quando nossos soldados vão para a guerra no Iraque, no Afeganistão, eles estupram. Então, essa noção de que os EUA estão nesses países para proteger as mulheres é inacreditável.

Tem esse outro grande livro.. estou tentando lembrar o nome do autor agora, eu o citei no meu livro, ele fala sobre a complexidade das bases norte-americanas ao redor do mundo.. David Vine, creio que é esse o nome.

Nós temos mais de 800 bases militares pelo mundo e em todas as bases militares dos EUA, nas mais de 800 delas, sempre houve funcionários civis em serviço nessas bases. Nossos soldados, adicionalmente a estuprarem suas próprias companheiras [militares] tem abusado de mulheres [civis] em todas essas bases. Isso é excepcionalmente bem aceito, ninguém se assusta com isso.

Sabe, nós falamos sobre como o Japão abusou de mulheres da Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e a Coreia continua reclamando sobre isso e o Japão jamais se desculpou. E [achamos que] isso é legítimo. Mas e sobre as mulheres que os soldados americanos abusaram todos esses anos e continuam fazendo?

Esse é o grande ponto que eu tentei trazer no meu livro. Essa ideia de que os EUA e o Ocidente estão saindo pelo mundo para proteger os direitos humanos e protegendo pessoas de genocídios é uma fantasia. Mas é uma fantasia com um propósito. Nós nos convencemos de que isso é verdade para justificar o contínuo gasto de mais de um trilhão de dólares por ano atualmente e as contínuas guerras agressivas ao redor do mundo.

Um grande exemplo disso é a invasão da Líbia em 2011. E por que esse tão enigmático exemplo? Primeiro, pelo lado americano, ela foi liderada por Barack Obama e por três conselheiras que realmente empurraram os EUA a participar desse ataque da OTAN na Libia. E essas foram Samantha Power, Susan Rice e Hillary Clinton. Elas pressionaram para que ele entrasse nessa “incursão humanitária”. Mas nós sabemos agora, como muitos de nós já sabíamos então, que essa intervenção humanitária era uma mentira.

Houve três principais mentiras para justificar o ataque da OTAN na Líbia:

Número UM e a mais ultrajante de todas – que a Hillary Clinton gostava muito de promover – de que Muammar Gadafi estava distribuindo Viagra às suas tropas para praticar estupros em massa na Líbia; a Anistia Internacional mais tarde derrubou essa acusação, ninguém conseguiu encontrar qualquer evidência disso.

DOIS, a denúncia – de novo, levada por Samantha Power, Hillary Clinton e Susan Rice – de que Gadaffi estava a ponto de cometer um genocídio em Benghazi; mas se olhamos os e-mails internos particularmente da equipe de Hillary Clinton [e, lembrando, eles também estão no meu livro] nós vemos a equipe de Hillary comentando entre eles que, quando a missão OTAN/Obama na Líbia começou, não havia qualquer preocupação com a questão dos direitos humanos em Benghazi. Que tudo já havia acabado e a oposição havia tomado conta de Benghazi e não havia qualquer risco [aos direitos humanos] naquele momento.

A TERCEIRA e pior leviandade, foi a de que “mercenários negros” estavam sendo usados por Muammar Gaddafi para impor essa guerra contra seu próprio povo. Alguns grupos de direitos humanos e própria Anistia Internacional, inicialmente, apoiaram essa acusação. Embora a Anistia Internacional tenha, tarde demais, derrubado essa acusação. O que eles acabaram dizendo foi: “Não. Desculpem, não eram mercenários, eram trabalhadores estrangeiros, da África Subsaariana”. E, a propósito, a mídia na época até dizia que se podia identificar os mercenários negros, porque eles usavam capacetes amarelos. Claro, porque eles eram trabalhadores da construção!

Então, essa mentira, não apenas pavimentou o caminho para essa intervenção na Líbia, a outra coisa que essa mentira fez foi criar um genocídio na Líbia. Porque os jihadistas, apoiados pela OTAN para derrubarem Gaddafi, começaram a atacar qualquer um com a pele negra, baseados nessas mentiras.

Eles exterminaram cidades e localidades inteiras com população negra africana, mataram negros africanos, aprisionaram em massa, e até hoje ninguém fala disso! E os negros subsaarianos continuam sendo colocados nas ruas da Líbia e vendidos, como escravos! 

Esse é o resultado da “intervenção humanitária” na Líbia, a que quase ninguém nos EUA jamais se opôs. Até mesmo [o programa de jornalismo independente] “Democracy Now” foi um veículo de apoio para essa invasão. E até hoje, não só Democracy Now, NPR [National Public Radio] mas muitos outros se recusam a rever os fatos sobre essa invasão, em ser honestos com suas visões em apoiar isso. E para ser franco, muito poucos se opuseram ao envolvimento dos EUA na Líbia.

E você sabem, esse tipo de coisa foi o que me motivou a escrever esse livro. A guerra, a guerra imperialista é uma imensa parte do problema dos EUA.

Eu vou lhes dar outro exemplo disso, recentemente Trump anunciou que queria remover 900 tropas da Alemanha. E queria começar a remover também as tropas do Afeganistão e trazê-las para casa. E nós vemos agora os Democratas, particularmente os que deram ouvidos a Liynn Chenney [Republicana], a mulher de Dick Chenney, que tentou aprovar a legislação para prevenir Trump de remover essas tropas. E se nós olhamos para os Democratas e os Liberais, eles na verdade estão atacando à direita de Trump em relação a esse tipo de problema. E acho que precisamos ser honestos sobre isso, com as cores que isso tem.

Porque votar em Joe Binden em novembro? É, eu provavelmente vou, eu acho que ele também está entre as pessoas mais cruéis, mas eu também sei que as pessoas podem lutar contra Binden cada centímetro para evitar que ele continue essas guerras intermináveis no mundo.

Outro exemplo, é esse outro novo inimigo amargo de Trump, John Bolton, que foi seu Conselheiro de Segurança Nacional, ele foi tanto um propagador de guerras, que Trump chegou a dizer: “eu tenho o melhor cara, ele pode ir comigo a qualquer lugar”. E Trump estava muito certo sobre isso.

Então, Bolton escreveu esse livro com coisas sobre Trump que estão “bem descritas”, sabe como é, mas Bolton se tornou um herói para muitos liberais [esquerda] nos EUA porque ele estava “atacando Trump”. Só que ele estava [no livro] atacando Trump à direita, por exemplo, dizendo: “se Trump for reeleito ele vai encontrar-se com o Presidente Nicolás Maduro da Venezuela”. O que a propósito eu acho que seria uma coisa boa, eu gostaria que um presidente dos EUA fizesse isso. Mas porque foi Trump quem teria ganhado para fazer isso, os liberais estão dizendo: “ah, isso é ruim, ele é mau, é um ditador etc”.

Então, nós temos que ter nossos princípios nessas questões, o primeiro é o princípio antiimperialista. Não importa quem esteja no comando, eu espero que possa ser Joe Binden, mas se é Joe Binden, nós tampouco vamos poder dormir. Temos que continuar pressionando nossos governos para encerrar essas guerras intermináveis.

Ok, então esses são meus marcos principais. A propósito eu estou ao vivo no meu Facebook com meu celular e estou ao mesmo tempo no Zoom com meu computador, então é meio difícil ler todos os comentários e peço desculpas por isso. E eu nem sei que horas são. Vocês, amigos, tem comentários, perguntas, considerações, eu estou a postos para responde-los.

Ok, obrigado Paul. Para o pessoal que está ao vivo no Facebook, eu quero dizer que vou responder agora uma pergunta do Reverendo Paul Dordal, ex-congressista, e ativista pela paz de Pittsburgh, que está no Zoom, vá em frente Paul.

Claro Paul, bom ele me pediu mais exemplos sobre essas falsas alegações de “intervenções humanitárias” dos EUA. A propósito, Paul serviu como Capelão Militar durante a invasão do Iraque, tá certo Paul? Certo.

Bom, há muitos exemplos, eu poderia voltar à outra história do meu livro no que eu acredito que foi nossa primeira “intervenção humanitária” e essa foi a “intervenção humanitária” do Rei Leopoldo II, da Bélgica, no Congo. Que teve início no final do século 19.

Vocês provavelmente já aprenderam um bocado sobre isso porque durante os recentes protestos do BLM [Black Lives Matter] uma estátua do Rei Leopoldo II foi derrubada na Bélgica e a razão para isso é que o Rei Leopoldo decidiu pessoalmente invadir o Congo, por seus próprios interesses, especialmente para obter benefícios com o roubo de marfim. Mas o Rei Leopoldo, assim como muitos líderes, era muito esperto e sabia que a maioria dos países não iria apoiar que ele controlasse um país africano só para retirar seus recursos naturais. Então, ele apareceu com esse plano – e ele já tinha enviado emissários para o Congo e para o mundo, incluindo os EUA – para alegar que ele estava indo ao Congo para proteger as mulheres congolesas. E em particular, dos mercadores de escravos árabes que ainda existiam nessa região. Mas ele não estava interessado em proteger ninguém, era só uma justificativa e ele foi muito eficaz nisso. Ele conseguiu convencer muitas pessoas e governos – e os EUA foram os primeiros a reconhecer seus interesses no Congo – de que essa seria uma “intervenção humanitária” e inclusive conseguiu que pessoas lhe dessem dinheiro para sua aventura “humanitária” no Congo.

Bem, o que aconteceu é que Leopoldo, ele mesmo, escravizou milhares de congoleses para apoiar sua extração de madeira, para construir rodovias, para facilitar sua retirada de recursos do país através dos rios [do Congo] para fora do país e para retirar o marfim. Ele escravizou milhares de congoleses e os torturou, se os congoleses não eram submissos a ele, ou ao trabalho que precisava ser feito, suas mãos eram cortadas, isso é bastante conhecido, às vezes seus genitais eram cortados, e no final como resultado do seu brutal tratamento, houve ainda mais de 10 milhões de pessoas no Congo que foram mortas durante essa incursão.

E claro que essa incursão se encerrou por conta de pessoas honestas no Ocidente. Alguns deles não existem mais hoje em dia, mas naquela época tínhamos pessoas como [os escritores] Mark Twain, por exemplo, ou Arthur Conan Doyle – que descreveu isso inclusive em suas histórias de Sherlock Holmes – sobre o que o Rei Leopoldo estava fazendo. E essas pessoas, com pressão e organização, conseguiram que a comunidade internacional terminasse com essa incursão do Rei Leopoldo no Congo.

E eu discuto isso no meu livro, o que o Rei Leopoldo fez no Congo foi “em nome dos Direitos Humanos” e o que o Ocidente continua fazendo em todo o mundo também é “em nome dos Direitos Humanos”. Só que agora de uma maneira mais sofisticada, claro, e pior. Mas no final é o mesmo jogo incluindo, a propósito, no Congo.

Muitas pessoas não se dão conta de que sob Bill Clinton, começando em 1996, a administração Clinton apoiou os governos de Ruanda e Uganda a invadirem o Congo. De novo, sob o pretexto de “parar o que seria um genocídio” que estaria ocorrendo lá e era por isso que Ruanda queria entrar no Congo. Mas o resultado foi que essas forças de Ruanda e Uganda apoiadas por Bill Clinton mataram 6 milhões de pessoas no Congo, a maioria delas congoleses. E nós nos damos conta disso, eu procuro detalhar isso no meu livro, a partir da leitura da mídia hegemônica. A maioria das maiores empresas de mineração dos EUA, no final, a maioria delas conseguiu imensos lucros e benefícios nessa incursão no Congo. E através dessas invasões, as primeiras a ganharem com isso foram justamente as de Hope, no Arkansas, que são empresas muito próximas a Bill Clinton, como sabemos.

E depois de Clinton, algumas pessoas gostam de se referir ao primeiro presidente negro [Obama], com Hillary trabalhando com ele, mas ele prosseguiu com esse massacre de 6 milhões de congoleses, em nome dos Direitos Humanos, e isso era uma completa mentira. E nós podemos ir além, mas enfim, essa é a mais comum das armadilhas, a ideia de que os EUA estariam apoiando a prevenção de genocídios sob o princípio dos Direitos Humanos, quando na verdade é o Ocidente e os EUA que tem cometido genocídios pelo mundo.

Bom, tem alguém que gostaria de fazer alguma pergunta ou podemos encerrar aqui? Eu acho que às vezes, menos é mais. E nessas circunstâncias, vejo meu amigo John sorrindo, eu acho que provavelmente é verdade. Então porque não terminamos aqui? Acho que é um bom ponto para encerrar. Eu quero agradecer a todos por acompanharem e de novo esse é meu livro e você pode conseguir em qualquer lugar, na Amazon ou encomendar na sua livraria. Eu realmente estou grato por vocês estarem aí, eu acho que é um período duro para estar atrás de livros como esse, mas acho que tem uma boa mensagem aí e algo que podemos aprender. Obrigado a todos que estão conectados, isso realmente significa o mundo para mim. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis e estamos todos atravessando um enorme desafio com essa pandemia e ver vocês disponíveis aí para me ouvir, significa tudo para mim. Vocês foram muito pacientes e muito gentis. Eu desejo a todos, boa tarde, boa noite e boa sorte. Obrigado!

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Campinas

Dados e Política: Por Dentro da Indústria da Influência

Publicadoo

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Prestes a entrar em uma disputa eleitoral cujo resultado é extremamente significativo o resultado deve atender à vontade da soberania popular e fortalecimento da democracia a equipe da Casa Hacker sempre atuando em pró da democracia e direitos humanos tem buscado através da inclusão digital e tecnológica dos cidadãos trazer ferramentas e informações que promovam a equidade e a democracia.
Os interesses de grupos colocam em xeque a democracia se utilizando do voto
A indústria das campanhas políticas tem se tornado um grande negócio lucrativo e fortemente influenciada por dados pessoais. Esses dados se estendem por muito além dos registros eleitorais: tudo pode alimentar a base de dados coletados, desde os itens do seu carrinho de compras à pontuação dos seus posts e testes aleatórios do Facebook, ao bar que você visita numa sexta à noite, pode ser usado por partidos e políticos para descobrir quem é você e te influenciar.
Experiências passadas e resultados manipulados
Em 2018 explode nos meios de comunicação o escândalo dos dados de usuários do facebook, não era a primeira vez que o Facebook se envolvia em uma polêmica relacionada à “manipulação de opinião pública durante a eleição presidencial americana”. Assim como a eleição de Donald Trump para presidente dos EUA, a campanha marcante para que o Reino Unido deixasse a União Europeia usou ilegalmente dos dados privativos pessoais.
Os 50 milhões de usuários do facebook foram vítimas de uma coleta de dados realizada pela Cambridge Analytic por meio do próprio facebook através de um teste como tantos outros que vemos na rede social.

Casa Hacker combatendo a manipulação por meio da informação 

A Casa Hacker junto à Tactical Tech lançam o Guia do Eleitor e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” em formato digital e de acesso gratuito que explicam, em termos e linguagem acessível, onde as campanhas políticas pesquisam por dados pessoais, que tipos de dados elas coletam, e como elas usam isso para tornar alvos e persuadir eleitores. O guia detalha as técnicas de campanhas como “escuta digital”, “micro-segmentação” e “testes A/B”, e oferece aos eleitores brasileiros 7 dicas essenciais para desintoxicar seus dados pessoais e deixar as campanhas eleitorais e políticos longe de seus dados pessoais.
O Guia do Eleitor aborda 7 dicas (e contextualiza com exemplos reais):
DICA #1: Mude sua Rotina;
DICA #2: Mude suas Preferências nas Redes Sociais;
DICA #3: Bloqueie seu Celular e Navegadores de Desktop;
DICA #4: Mantenha-se Informado;
DICA #5: Limite Quem Sabe Onde Você Está;
DICA #6: Fale;
DICA #7: Conte à sua Comunidade.

Com a ajuda dessas dicas práticas, eleitores podem votar com o conhecimento de como e quando essas técnicas digitais estão sendo usadas, e, inclusive, o que podem fazer para barrá-las.
A vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” é o resultado de uma pesquisa extensa no mundo todo conduzida pela Tactical Tech e parceiros globais onde encontramos mais de 300 empresas em todo o mundo que usam dados para fornecer informações aos partidos políticos sobre quem são os eleitores, o que eles querem ouvir e como persuadi-los. Ao mergulhar fundo em seus sites, encontramos várias empresas, consultorias, agências e firmas de marketing, desde startups locais a estrategistas globais, visando partidos que abrangem o espectro político. Essa galeria visual e virtual captura as promessas dessas empresas, oferecendo uma janela única para os serviços que elas promovem e a linguagem atraente que usam, frases como “fortalecemos a democracia”, “emoções impulsionadas pelos dados”, “mudando o mundo, um pixel de cada vez” e “vencer eleições com inteligência social”. Principalmente empresas com fins lucrativos, com o objetivo principal de gerar, manter e aumentar os lucros, é importante perguntar: quais são as implicações de permitir que a política seja amplamente influenciada pelas organizações de tecnologia orientadas a dados?
O “Guia do Eleitor” e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política – O que está a venda?” estão disponíveis gratuitamente no site da Casa Hacker.

Sobre a Casa Hacker

A Casa Hacker é um espaço hacker sem fins lucrativos e 100% dedicada a colocar comunidades locais no controle de suas experiências digitais e a moldarem o futuro da tecnologia da informação e comunicação para o bem público. Desenvolvemos programas e projetos de educação e cultura digital em comunidades periféricas e defendemos direitos digitais junto à Coalizão Direitos na Rede.

Sobre a Tactical Tech

A Tactical Tech é uma organização sem fins lucrativos alemã que trabalha na intersecção entre tecnologia, direitos humanos e liberdades civis. Eles fornecem treinamentos, conduzem pesquisas e criam intervenções culturais que contribuem para o debate sócio-político mais amplo sobre segurança digital, privacidade e ética dos dados.

 

 

 

https://vimeo.com/323661112

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Geopolítica

Venezuela frustra ataque de mercenários

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Um grupo de mercenários que partiu da Colômbia tentou invadir a Venezuela na manhã deste domingo por via marítima, mas foi surpreendido e rechaçado pelas forças venezuelanas. Vários deles foram mortos ou detidos em Macuto, no estado de La Guaira, segundo o ministro do Interior e Justiça Néstor Reverol. Ele explicou que a tentativa de entrar no país foi através das costas do estado de La Guaira, no norte da Venezuela, por meio de lanchas. Reverol informou que vários dos “terroristas” foram mortos na operação e outros capturados, e um arsenal de rifles de assalto foi apreendido.

A tentativa de agressão à Venezuela ocorre quase exatamente um ano após a frustrada tentativa de golpe liderada pelo deputado da oposição Juan Guaidó, em Caracas, acompanhado pelo líder de direita Leopoldo López.

“Um grupo de mercenários terroristas da Colômbia tentou realizar uma invasão marítima com o objetivo de cometer atos terroristas no país, perpetrando assassinatos de líderes do governo revolucionário e aumentando a espiral de violência e, com isso, levar a uma nova tentativa de golpe. Parece que as tentativas imperiais frustradas de derrubar o governo legitimamente constituído, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, os levaram a formular ações excessivas”, afirmou Reverol hoje, depois de declarar um estado de “resistência permanente e alerta” no país sul-americano.

Conforme foi detalhado pelos militares venezuelanos, o ataque foi detectado “graças ao trabalho profissional e científico das agências de inteligência e contra-inteligência, bem como à execução permanente da operação militar e policial ‘Escudo Bolivariano‘, que garante a vigilância contínua do espaço. geográfica da nação“.

O homem à direita de Juan Guaidó teria sido morto durante o ataque

Vídeos que circulam nas redes sociais relataram o sobrevoo de helicópteros e detonações ocorridas na área de Macuto nas primeiras horas da manhã. Mais tarde, usando barcos, mergulhadores tentaram recuperar parte do armamento que estava com os invasores.

 

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