“Isso significa a palavra emancipação: o embaralhamento da fronteira entre os que agem e os que olham, entre os indivíduos e membros de um corpo coletivo” – Jacques Rancière
Nesta terça-feira, 21 de outubro, a Frente Nacional Contra a Censura (FNCC) de Belo Horizonte reuniu as variadas formas de expressão artística para narrar um novo mundo, onde não haja censura, e que a arte e a cultura possam cantar, dançar, performar, pintar e fotografar livremente, bem como os sujeitos, e que estes possam viver em liberdade, sem o medo da intolerância.Tendo como estopim a exposição de Pedro Moraleida, o Palácio das Artes se tornou alvo de um grupo de pessoas que acusavam o local de ser um antro contra os valores tradicionais, a religião e os bons costumes. Este sensível partilhado trazido pela arte incomodou àqueles cujos interesses caminham sentido à uniformização dos corpos, dos modos de vida e das vozes.
A exposição “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, do artista mineiro, que teve seu trabalho exposto ao lado de nomes como Marta Neves, Randolpho Lamonier e Desali, insitou o caos na cidade, por uma efervescência contra manifestações artísticas que já vinha desde o “Queermuseu”, exposição cancelada no Santander Cultural de Porto Alegre (RS), e a performance “La bête” no MAM-SP, em que Wagner Schwartz interagiu nu com uma criança acompanhada por sua mãe.
Prodígio da sua geração, o artista que estudou na Escola de Belas Artes da UFMG e cometeu suicídio aos 22 anos deixou um legado de críticas sociais bastante pertinentes nos tempos atuais de desmanche de um projeto popular de governo e retrocesso em direitos fundamentais.
De natureza transgressora, a arte sempre foi para ser sentida, ela diz mais de quem a interpela e de suas reações do que do próprio artista que a concebeu. A arte traz reflexões acerca do que está diante de nossos olhos, mas insistimos em não ver, e ativa debates, ideologias e desejos antes negados e silenciados. Afinal, qual o papel do artista, se não incomodar e dar luz à visões de mundo que se contrapõem ao status quo?