O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.
A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.
Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.
Nota de repúdio
Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil
A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).
Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.
Referência internacional de governança multissetorial da Internet,
o Comitê teve seu papel fortalecido após a
promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)
e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.
Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.
A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.
Porém, preferiu agir de forma autocrática.
Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.
A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,
principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,
apoiadoras do governo.
Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.
Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.
Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.
Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –
a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.
É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.
Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,
dentro e fora do Brasil,
contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.
8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede
Notas
1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .
2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre
Pingback: Haddad e MPL fizeram despencar apoio a protestos contra aumento das passagens | Blog da Cidadania
Cesar Locatelli
16/01/16 at 0:03
Obrigado por nos mostrar a citação de nosso artigo no Blog da Cidadania de Eduardo Guimarães.
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Vitor
15/01/16 at 19:16
O comparativo foi muito bom. Agora, um ponto que sempre é levantado pelos manifestantes contra o aumento é a questão do lucro das empresas de transporte. Há algum dado sobre os custos operacionais e lucros das empresas nesses mesmos períodos (desde 2005 ou desde 2013) e sobre números de demissões de funcionários etc.? Esses dados, além de novas informações sobre o status das novas licitações também seriam importantes para aprofundar a discussão. Obrigado.
Cesar Locatelli
15/01/16 at 23:55
Caro Vitor, o estudo que é citado no artigo traz o lucro das empresas, Talvez esclareça o que você quer. Obrigado pelo comentário.
Gabriel
15/01/16 at 19:32
Lamentável alguém que se diz mídia livre defender os interesses da classe dominante contra os direitos da população, em nome da defesa de um partido no poder. “Jornalistas Presos”
Cesar Locatelli
16/01/16 at 0:00
Caro Gabriel, esse artigo é o resumo de um estudo oficial da Prefeitura. Não acreditamos que divulgá-lo seja manifestar apoio ao reajuste. O objetivo era dar espaço também ao ponto de vista da Prefeitura, algo difícil nos nossos meios de comunicação. Ao mesmo tempo estamos com muita gente na rua cobrindo os atos contra a tarifa. Obrigado pelo comentário.
Lindberg
15/01/16 at 23:19
Como sempre acontece, frações do partido da inteligência se reagrupam para defender com conteúdos vagos e meia verdades bem contadas a ordem estabelecida. É no mínimo deprimente ver um site chamado de jornalistas livres se prestar a um papel destes. Não vou perder meu tempo mostrando as estatísticas e dados quantitativos que são convenientemente recortados e colados em uma montagem que produz uma quase convincente farsa técnica. Limito-me a dizer o seguinte: o movimento passe livre não questiona o aumento de 2013, 2015 ou 2016, o que está colocado na mesa é a lógica deste sistema de transporte público. Até quando e até quanto a tarifa vai aumentar? Até quando e até quanto a prefeitura vai aumentar os subsídios? Este é o espectro de um colapso bem material e que nenhum cassetete, bomba de gás lacrimogênio ou artigo encomendado vai dissipar.
Gabriel
16/01/16 at 12:39
“Jornalistas Presos” à Assessoria de Imprensa da Prefeitura, o que mostra este artigo. Já existe toda a mídia hegemônica para justificar os aumentos dos transportes, assim como para justificar toda a estrutura injusta para a população, do transporte “público”. Este texto é a defesa não apenas de uma administração, mas especialmente da classe dominante. Por que vocês não mostram vários argumentos a favor da Tarifa Zero ou da estatização do transporte por exemplo? O pior é pegar a ideia de Midia Livre, algo construído há anos por diversas pessoas e coletivos, para se apropriar e fazer um panfleto pró-ordem estabelecida como esse.
Elfellini
17/01/16 at 19:43
No fim não é a prefeitura que paga, é o próprio cidadão… Ou acaba faltando pra saúde e educação.