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Agroecologia

VII Festival de Gastronomia Orgânica – da Terra ao Prato

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O Festival traz para esta edição as novidades da Gastronomia Evolutiva com oficinas da nova gastronomia,  Tendas e Food Trucks, Território da Criança, Espaço Bem Estar, Feira de Produtos Orgânicos e de Base Agroecológica, Rodada de Negócios, Palestras e Rodas de Conversas, entre outras atividades. TUDO COM ENTRADA GRATUITA.

 

dra-ana-primavesi-02A grande homenageada deste ano é a Dra. Ana Primavesi, que revolucionou o manejo do solo no Brasil. Engenheira agrônoma, precursora da agroecologia, pesquisadora e grande estudiosa, criou novas práticas agrícolas em um país tropical que antes consumia toda a tecnologia de fora e não olhava para sua terra e clima.

 

A homenageada estará presente no dia 22/10, sábado, às 10h30, no Espaço Ana Primavesi, participando de uma roda de conversa com convidados como o produtor rural Fernando Ataliba, a Dra Ondalva Serrano e o Engenheiro Agrônomo e Doutor em Fitopatologia, Paulo Chagas, com uma troca de ideias sobre assuntos relacionados aos conceitos desenvolvidos pela Dra Primavesi. Após a roda de conversa, a Dra Ana Primavesi vai autografar seus livros, que serão relançandos pela editora Expressão Popular especialmente para a ocasião.

 

 

As Bancas dos Chefs, food bikes e food trucks oferecem ao público cardápios com ingredientes orgânicos, da terra. O desafio de cada Chef convidado é apresentar um prato principal, com ingredientes que são tratados hoje como guarnições e complementos.  Os confirmados são LE MANJUE, MAHA MANTRA, AMMA CAFÉ, SIMPLESMENTE, CASA JAYA, GOURMET DA TERRA, SALUTAIRE, COMIDA MATEIRA, AYA CUISINE, TANGERINE PETIT, SAUDAVELMENTE, ERVA DOCE GASTRONOMIA, ORGÂNICOS COM VIDA E PADOCA DO RÔ.

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Na Cozinha Evolutiva é possível encontrar oficinas e palestras com receitas da nova gastronomia, Cozinha de Gaia, receitas com as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), sempre trazendo somente ingredientes da terra. Os chefs convidados apresentam suas criações e comentam as suas experiências.  São eles: Renato Caleffi, José Luis Candenas, Kathrin Melanie, Idolo Giusti Neto, Wago Figueira, Claudia Mattos, Mari Turato, Priscilla Moretto,  Idolo Giusti Neto, Flavia Spielkamp, Thiago Medeiros, Ana Tomazoni, Adriana Vernacci e participantes do MasterChef 2016, Raquel Novais, Lívia Cathiard, Rodrigo Tenente e Fernando Cavinato.

 

Outra novidade do Festival é o espaço Território da Criança dedicado a educação alimentar infantil, que propõe reflexões sobre hábitos alimentares infantis, envolvendo a criança, a família e a escola, em aulas práticas com chefs, nutricionistas e cozinheiras dos programas que lidam com a merenda escolar de diferentes cidades do Brasil e uma programação com filmes, música e brincadeiras.

 

Já no Espaço Bem Estar, serão oferecidas atividades em grupo como aulas de yoga, workshops de automassagem e de receitas de beleza para o corpo e cabelo com produtos orgânicos, palestra sobre o feminino, e ainda haverão atendimentos individuais de massagem, terapias emocionais, maquiagem orgânica, dentre outros. O objetivo do espaço é dar a oportunidade ao público de conhecer o grande leque de terapias alternativas voltadas para o bem estar físico e mental.

 

A feira de produtos orgânicos e de base agroecológica trará empresas e pequenos agricultores, associações, cooperativas e coletivos que produzem de forma artesanal produtos inovadores. Entre eles Fazenda da Toca, Fino Coco, Thermomix, Monama, Korin, Umam Brasil, Nara Guishon, Uh-Me, Engenho da Terra,  Surya, Bioz Orgânico, Dubalaco, Sublime Rituais, Panela Orgânica, Copra, Sitio Boa Terra, Emporium Vida, Econut, Plano Social, Bioart, BioVegan, Biodiver, Riquezas da Terra, Herbia e Natracare, Ecomart, Aqualive, Ecovida e Cooperafloresta.

 

O festival promove ainda, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, a Rodada de Negócios com a intenção de aproximar compradores, produtores, processadores e distribuidores de produtos orgânicos para, em encontros pré-agendados, trocarem informações, experiências e fecharem negócios, sem burocracia e sem intermediários. A Rodada de Negócios acontecerá no dia 21/10, das 15h às 19h, e no dia 22/10, das 10h às 13h, no Auditório Paulinho Nogueira.

 

De acordo com a idealizadora e diretora do Festival de Gastronomia Orgânica – da Terra ao Prato, Leila D, o evento se torna cada vez mais necessário nos dias atuais. “O consumidor vem buscando novas alternativas para uma alimentação mais saudável, sustentável, saborosa e que traga benefícios sociais a quem a produz”, observa.

 

Ainda segundo Leila D, em 2015, o Festival recebeu mais de 30.000 pessoas, 15 mil porções vendidas, mais de 50 reuniões, 150 atendimentos bem estar e 200 crianças na aula de culinária. Este ano vamos trazer muitos produtos da agrofloresta para o público conhecer, chefs que trabalham com a ecogastronomia e novos caminhos para a alimentação infantil.

 

O VII Festival de Gastronomia Orgânica é patrocinado pela Itaipu Binacional, apoio da Secretaria do Meio Ambiente, Sistema Ambiental Paulista, Biodiversidade e a realização de Leila D Gastronomia Orgânica Evolutiva.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

 

21/10 – SEXTA FEIRA

COZINHA EVOLUTIVA

 

9H30 – ABERTURA OFICIAL – CAFÉ DA MANHÃ

12H – COZINHANDO COM PRODUTOS DA MATA ATLÂNTICA com ANA TOMAZZONI

13:30H – OFICINA BIOMASSA com o Chef RENATO CALEFFI

Oficina Orgânicos enriquecidos com a Biomassa e condimentos funcionais

Objetivo: Discutir o potencial de um cardápio para alimentação escolar mais funcional  e orgânico com alimentos da Agricultura Familiar Presença da Dna. Heloisa – Sobre os benefícios da Biomassa da Banana Verde e como prepará-la

15H – PASTAS E PATÊS – Nutricionista: Maria Tereza Casulli e Culinarista: Vilma Ávila Galasso – Mokiti Okada

17H – BOBÓ DE COGUMELO – RAQUEL NOVAIS – MasterChef   2016

 

TERRITÓRIO DA CRIANÇA

 

14H –  MINI CHEF SAUDÁVEL – GRACIELA MARTINS

15H – DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR ( Mesa redonda fechada )Danilo Chausson(CODAE)-Desafios da experiência da implementação da Lei de orgânicos na alimentação escolar  de   São Paulo    Marcia Stolarski – Desafios da experiência  da alimentação escolar orgânica no PR Rogério Dias ( MAPA) – Desafios da oferta de orgânicos na alimentação escolar e as previsões da Planapo 

 Mediação: Ana Flávia Borges Badue ( Coord. da Comissão Gestora da Lei )  Público apenas de técnicos: da CODAE e da Comissão Gestora da Lei, Comusan e CAELocal: Sede da AAO no Parque da Agua Branca   

16H  – BRINCANDO DE FEIRANTE E DE COZINHEIRO – ADRIANA VENACCI

 

ESPAÇO BEM ESTAR

 

12H  – YOGA PARA GESTANTES – aula e roda de conversa –Acharya Palak

13H  – CUIDARTE: CURA ATRAVÉS DA ARTE E EXPRESSÃOPérola Carvalho

 

 RODADA DE NEGÓCIOS

 

13H às 19H – Rodada de Negócios – organizado pela SMA – do Governo do Estado de São Paulo. A intenção da Rodada de Negócios é aproximar compradores, produtores, processadores e distribuidores de produtos orgânicos para, em encontros pré-agendados, trocarem informações, experiências e fecharem negócios, sem burocracia e sem intermediários.

 

22/10 – SÁBADO

 

COZINHA EVOLUTIVA

 

10H – A COZINHA COMO CAMINHO DE CURA – Com Anah Locoselli

11H30 – PROBIÓTICOS: A FAVOR DA VIDA – KOMBUCHA, KEFIR E REJUVELAC com LUCAS MONTANARI

12H30 – ROBATA – ESPETINHO JAPONÊS – Nutricionista: Sueli Inamine Kisine e Chef: Roberto Moriya – Mokiti Okada

14H – AULA SHOW THERMOMIX – Carina Boniatti

15H – COZINHA MATEIRIA –  Receita com PANCs – IDOLO  GIUSTI NETO

16H15 – CAMINHADA PANC no Parque da Agua Branca, identificação de plantas comestíveis no Urbano. Com Guilherme Reis Ranieri, gestor ambiental mestrado em ciência ambiental e pesquisador em agricultura urbana pelo GEAU-USP, dos usos da agrobiodiversidade e das hortaloças não convencionais.

16H30 – Nhoque de Inhame com Matchá  FLAVIA SPIELKAMP –  AYA CUISINE

17H10 – Receita Moqueca de Banana Verde – LIDIANE BARBOSA

 

TERRITÓRIO DA CRIANÇA

 

10H – Culinária para crianças – com Juliana Araujo – Escola Instituto Toca

12H – Filme Território do Brincar – Renata Meirelles

13H – Culinária para crianças – com Renato Caleffi – autor do livro Achaz no Sítio da Banana Verde

14H30 –   Roda de conversa para educadores: Alimentar a Vida – Com Mônica Passarinho, Coordenadora de Alfabetização Ecológica do Instituto Toca

16H  – Oficina de Minhocário para crianças – SÍTIO ESCOLA PORTÃO GRANDE .

17H – Lanchonete Divertida  com  Graciela Martins

 

ESPAÇO BEM ESTAR

 

10H – Prática de Shri Vivek YogaBabi Minamoto (acharya Prerna)

11H – Ritmo do Coração – Workshop com Caroline Behague

12H – Cosmética Verde para beleza do corpo e da alma –Workshop Riquezas da Terra

14H – Aprenda a utilizar óleos vegetais do Cerrado brasileiro – Workshop Biodivér

15H – Respiração,  relaxamento e meditação Felipe Bhering (acharya Deepankar)

16H –Auto-massagem nas mãos: uma explosão sensorial – Workshop BioVegan

 

ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS GRATUITOSMassagem Thai, Reiki Cristalino, Mesa Quântica, Massagem Ayurvédica

 

 

RODAS DE CONVERSA E RODADA DE NEGÓCIO

 

10H às 13H Rodada de Negócios – organizado pela SMA – do Governo do Estado de São Paulo. A intenção da Rodada de Negócios é aproximar compradores, produtores, processadores e distribuidores de produtos orgânicos para, em encontros pré-agendados, trocarem informações, experiências e fecharem negócios, sem burocracia e sem intermediários.

15H- Roda de Conversa – EXPERIÊNCIA E DESAFIOS NA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA com o Prof. Afonso Peche ( Instituto Agronômico de Campina – IAC), representantes do Instituto Kairós da Associação de Agricultura Orgânica ( AAO).

17H – Palestra ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL & IMPACTOS DOS ORGÂNICOS NA SAÚDE – com Alessandra Luglio( nutricionista)

 

 

ESPAÇO ANA PRIMAVESI

 

9H30 – MANHÃ DE AUTOGRAFOS E RODA DE CONVERSA COM A PRESENÇA DA DRA. ANA PRIMAVESI E CONVIDADOS (Fernando Ataliba, A Dra Ondalva Serrano, Engenheiro Agrônomo e Doutor em Fitopatologia Paulo Chagas, José Luis C. Tomita)

14H –   VIVÊNCIA DE PLANTIO DE MUDAS ORGÂNICAS – Fundação Mokiti Okada

16H – Alimentação e Aprendizado – Roda de Conversa para educadores– Com Carin A.C.M. Primavesi Silveira

 

 

23/10 – DOMINGO

 

COZINHA EVOLUTIVA

 

9H30 – MONTANDO UM CARDÁPIO SAUDÁVEL – Nutricionista: Patrícia Oliveira Souza e Culinarista: Amélia Mieko Wada Santana – Mokiti Okada

11H – Oficina DA TERRA AO PRATO com o chef Thiago Medeiros e o Agricultor Davi Ralitera

13H30 – COZINHA DE GAIA –  Wago Figueira, Claudia Mattos E Mari Turato da Escola Schumacker Brasil

15H – PRINCÍPIOS DA ALIMENTAÇÃO NO AYURVEDA  – GILBERTO BASSETO JR

16H30 – Pote Paisagem, do Projeto RESTAURO com Jorge Mena Barreto e Escola Como Como

 

TERRITÓRIO DA CRIANÇA

 

10H – EXPEDIÇÃO PRIMEIRO PRATO COM PRISCILLA  MORETTO DA TANGERINE PETIT

12H – BIO MUSICA para o plantio – para pais e filhos – Luiz Kinagawa – Instituto Africa Viva

14H – MANDALAS COMESTIVEIS – para pais e filhos –  Leila D

 

 

ESPAÇO BEM ESTAR

 

10H – Aprenda a utilizar óleos vegetais do Cerrado brasileiro – Workshop Biodivér

11H – Yoga dos bichos para criançasBruna Maya

12H – Prática de Shri Vivek Yoga Babi Minamoto (acharya Prerna)

13H – Auto-massagem nas mãos: uma explosão sensorial – Workshop BioVegan

14H – Autoconhecimento e Empoderamento Feminino – Roda de conversa Natracare

16H – Celebração coletiva de encerramento

 

ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS GRATUITOSMassagem Thai, Reiki Cristalino, Mesa Quântica, Massagem Ayurvédica

 

RODAS DE CONVERSA E RODADA DE NEGÓCIO

11H30 – Roda de Conversa – A Floresta em Pé –  As Castanhas do Brasil como Principais Produtos de Agronegócios Sustentáveis. Apresentando a empresa Econut como inspiração e trazendo informações nutricionais deste super alimento. Com: Eng Agrônomo Sergio Vergueiro (Fazenda Aruanã),  Silvia M.F. Cozzolino (Prof. do Depto de. Alimentos e Nutrição) USP José Eduardo Mendes Camargo (Vice-Presidente do CIESP e Diretor da Divisão de Nozes e Castanhas do Departamento de Agronegócios).

 

ESPAÇO ANA PRIMAVESI

 

10H – VIVÊNCIA DE PLANTIO DE MUDAS ORGÂNICAS – Fundação Mokiti Okada

13H  – Oficina de Minhocário para crianças – SÍTIO ESCOLA PORTÃO GRANDE .

 

Agricultura Familiar

Mirna Wabi-Sabi: Precisamos reavaliar o que significa passar fome hoje em dia

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Isto é Brasil: Temos abacates do tamanho de bolas de futebol americano e conhecimento tradicional e milenar sobre relacionamentos sustentáveis com a terra e com o corpo

A decisão de demitir Mandetta por conta de medidas de distanciamento social é preocupante, mas não surpreendente. De acordo com o presidente, deixar a população trabalhar significa cuidar de seu bem-estar, algo que um Ministro da Saúde centrista não é bem equipado para supervisionar. O ex-bancário Rodrigo Maia, uma pessoa em teoria mais preparada para lidar com questões econômicas, fala de redistribuição de riqueza, enquanto Bolsonaro o ataca por não ter um coração verde e amarelo. Uma resposta mais “patriota” a essa pandemia seria acabar com o distanciamento e reduzir impostos para empresas que contratarem jovens (de 18 a 29 anos) e pessoas com mais de 55 anos. Em outras palavras, botar as pessoas para trabalhar.

Comparar o Brasil com os Estados Unidos é inevitável. Bolsonaro disse que não temos o luxo de não voltar ao trabalho, porque não somos tão ricos quanto os EUA e não podemos deixar que nossa dívida aumente mais um bilhão de reais. Maia, por outro lado, disse que o que não podemos permitir é que os erros dos EUA se repitam aqui, e que os índices de morte cheguem a tal nível.

Se há uma coisa que essa pandemia nos ensinou, é apreciar os dois aspectos mais essenciais da vida: comida e abrigo. Trabalho não é sinônimo disso, já que muitas pessoas trabalham e ainda não tem acesso a essas necessidades básicas. Os países ‘em desenvolvimento,’ que ‘ainda não chegaram a um ponto’ em que comida e abrigo sejam acessíveis a todos e todas, estão se preparando para quando a pandemia os atingir em cheio.

Talvez seja o nosso ‘subdesenvolvimento’ que nos prepara para lidar com uma crise sem acesso a recursos adequados ou apoio do governo, encontrando maneiras criativas de sobreviver nas paisagens mais áridas. Talvez desenvolvemos a capacidade de fazer gambiarra inevitavelmente, como soluções improvisadas de distribuição de alimentos a pessoas em situação de rua, ampliamos nossa rede e redirecionamos nossos recursos.

Mas há um aspecto da distribuição de alimentos que sempre foi inflexível e difícil de resolver — o que as pessoas querem comer?

De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014, pelo Ministério da Saúde, a deficiência nutricional deve ser tratada ao lado de doenças causadas pelo excesso de sódio e gorduras animais. Em outras palavras, a desnutrição causada pela pobreza não pode ser mitigada com uma dieta desequilibrada que gira em torno de carnes e alimentos ultra-processados. Eles podem causar um novo conjunto de problemas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até câncer. Portanto, toda a campanha que visa ‘alimentar o mundo’ precisa reavaliar o que significa passar fome hoje em dia, agora que comida se tornou acessível, mas mata.

Um dos pratos mais emblemáticos do Brasil é a feijoada. Vem dos tempos coloniais, quando os colonos comiam as partes mais ‘valiosas’ do animal, enquanto pessoas escravizadas recebiam os restos, pés e orelhas. Era uma época em que os escravagistas não queriam que as pessoas consideradas ‘propriedade’ morressem.

Hoje, a feijoada é para todas as pessoas, mas os pobres ainda estão recebendo as sobras dos ricos. O cachorro-quente, por exemplo, servido em molho de tomate salgado e processado é muito popular. São as sobras das indústrias de suínos, vacas e galinhas misturadas com conservantes, antibióticos e corantes, depois pasteurizadas, embaladas e distribuídas para as famílias de menor renda. Nesses agregados familiares, a ascensão social está geralmente e inconscientemente ainda ligada ao modelo colonial de distribuição de recursos, onde provar um pouco da ‘vida boa’ significa comer a ‘carne boa’. Isso significa que as ‘partes boas’ do animal geralmente são enviadas para o exterior, enquanto os restos são oferecidos a nós disfarçados de O Sonho Americano, uma imagem dos filmes de Hollywood, com um nome que nem podemos pronunciar adequadamente sem inventar vogais: ‘hotchi- dogui’.

Houve outra mudança nos últimos séculos: pessoas über ricas não querem mais que pobres sobrevivam.

Tornou-se aceitável permitir que pessoas pobres morram de diabetes, tuberculose, doenças cardíacas, overdose, covid-19 e assim por diante. Não há vídeos de partir o coração de pessoas violentamente magras que, com sua ajuda, serão poupadas da tortura da fome. Existem ‘pessoas pobres e gordas’ que estão doentes ou abusam de drogas devido a suas próprias ‘más escolhas’ e, silenciosamente, morrem aos milhões, sem causar o menor desconforto ao resto do mundo.

Agora que as academias estão fechadas, qual é o sentido de tirar selfies para colocar no aplicativo se não podemos sair de casa? Quem somos nós quando não estamos constantemente no corre, tentando sobreviver? 2020 está transbordando de angústia existencial, compreensivelmente, já que muito mais pessoas do que o normal estão sentindo a fome e a perda de moradia (e morte) se aproximando delas.

Podemos apostar nas iniciativas de apoio mútuo, organizar nossa comunidade, redistribuir recursos e alimentar pessoas em necessidade. Se elas pedem hotchi-doguis, é só responder com um emoji triste e cansado.

Mudar ideias profundamente arraigadas sobre o papel que a desigualdade desempenha em nossas vidas é muito mais difícil do que acessar recursos básicos. Temos os meios para produzir muitos alimentos saudáveis e diversos de forma eficaz, o que não conseguimos fazer é controlar o crescimento da monocultura, que é ineficaz, direcionada ao processamento pesado e à ração. Os alimentos ultra-processados são feitos para serem baratos e durar uma quantidade desconcertante de tempo, e sabemos há anos como são nocivos. Por que tantas pessoas ainda preferem esses alimentos quando recebem uma alternativa pelo mesmo preço?

A resposta instintiva é afirmar que os aditivos que melhoram o sabor e preservam os alimentos são viciantes, e há algumas evidências disso. Mas eu gostaria de focar no lado social das péssimas dietas, porque também há pesquisas para mostrar que “exclusão e marginalização social progressiva” é uma “característica comum do vício humano” (“Time to Connect: trazendo o contexto social para a neurociência do vício”, por Heilig, Epstein e Shaham). Se os aditivos colocados em alimentos baratos são viciantes, a marginalização torna uma pessoa pobre mais suscetível a esse vício do que a falta de acesso financeiro a alimentos mais saudáveis.

Alimentos ultra-processados afetam nossa cultura, tornando os alimentos frescos desinteressantes, especialmente para os jovens. Na página 45 do Guia Alimentar, esse impacto é descrito como:

“A promoção do desejo de consumir mais e mais para que as pessoas tenham a sensação de pertencer a uma cultura moderna e superior.”

Essa é a consequência da ideologia do consumismo, um modo de vida dos Estados Unidos que se infiltra em nossa psique tanto quanto se infiltra em nossos corpos. Ingerimos novos aditivos da mesma maneira que regurgitamos novos sons. Os Big Macs, por exemplo, são tão problemáticos para comer quanto para pronunciar; essas consoantes abertas inevitavelmente se transformam em ‘Bigui Méki,’ à medida que o ritual da refeição se transforma em porções rápidas e individuais para serem consumidas ‘on the go.’ Não há mais necessidade de ter cozinha, a habilidade de cozinhar, acompanhantes ou tempo. Existe apenas uma solução rápida e individualista por um preço baixo.

Tentar mostrar que os alimentos processados estrangeiros não são tão bons quanto os produtos locais é mais difícil do que apenas oferecer esses produtos locais aos pobres. Em escala nacional, nossa produção agrícola é em grande parte direcionada para a manutenção dos hábitos alimentares tradicionais do hemisfério norte (e incorporá-los como nossos), como se pudéssemos ‘comer’ dinheiro estrangeiro. O que não considera que nossa terra é propícia para a produção de alimentos muito mais interessantes do que o que os países europeus minúsculos e frios têm sido historicamente capazes de produzir, e estão atualmente interessados em comprar. Não precisamos viver de linguiça e pão branco como um açougueiro Alemão do século 18.

Este é o Brasil, temos frutas que a maioria das pessoas do hemisfério norte nem sabe que existem. Temos pelo menos meia dúzia de tipos de bananas amplamente acessíveis, abacates do tamanho de bolas de futebol americano, e conhecimento tradicional e milenar sobre relacionamentos sustentáveis com a terra e com o corpo. Pelo menos neste país, alegar que alimentos ultra-processados são mais baratos do que produtos frescos locais não tem base na realidade — ainda. A única maneira disso se tornar realidade é com o marketing mais agressivo dessas empresas, o que aumentará a demanda por esses produtos, tornando outros produtos menos disponíveis.

Uma das principais sugestões do Guia Alimentar é: não veja o marketing como fonte educacional. A “função da publicidade é essencialmente aumentar a venda de produtos, não informar ou, menos ainda, educar as pessoas” (página 120). As vendas de alimentos aparentemente acessíveis são vistas como um sinal de Desenvolvimento, como progresso para o país e para comunidades marginalizadas. Este ‘desenvolvimento’ não tem em mente o melhor interesse da população, tem em mente os lucros do mercado de ações.

A cultura tóxica que somos forçados a engolir é o mais difícil de enfrentar nas iniciativas de apoio mútuo. Mais difícil do que arrecadar dinheiro, distribuir recursos, aprender uma nova habilidade, arregaçar as mangas e sujar as mãos. É aquela coisa escondida nos cantos escuros da psique, esse padrão de comportamento que anos de terapia podem nunca alcançar. Ele sussurra: “Eu não quero que as coisas mudem tanto assim” e dá espaço para a publicidade continuar a nos mudar e a destruir os nossos corpos.

____ NOTAS

Este artigo em Inglês: abeautifulresistance.org/site/2020/4/6/thesystemicchangesneeded

Guia Alimentar 2014: http://www4.planalto.gov.br/consea/publicacoes/alimentacao-adequada-e-saudavel/guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira-2014

 

Mirna Wabi-Sabi é

Militante descolonial, anarquista, e feminista interseccional. Editora de Gods and Radicals (abeautifulresistance.org), teórica política e professora.

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Agricultura Familiar

Decreto ameaça educação no campo

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A resolução do Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH recomenda que seja revogado o Decreto nº 10.252 de 20 de fevereiro de 2020 que muda significativamente a estrutura do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e que como consequência extinguiu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o programa Terra Sol e outros programas que davam incentivos aos assentados, quilombolas e comunidades extrativistas.

Leiam abaixo a Resolução

 

https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/participacao-social/conselho-nacional-de-direitos-humanos-cndh/Resoluon8Pronera.pdf

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Agroecologia

Os Guarani convocam povo de SP para proteger Terra Indígena Jaraguá

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Empreiteira que ameaça vida dos Guarani do Jaraguá tem como slogan de venda: Tenda, Construindo Felicidade. Para quem, cara pálida?

“O povo indígena está com os negros, está com os pobres, está com os favelados, está com o rappers. Nós precisamos mudar nosso país, estamos à beira do colapso final. Nós Guarani estamos alertando isso há muito tempo”

 

Sônia apresenta a luta Guarani para diverso coletivos da cidade de São Paulo

Sônia apresenta a luta Guarani para diversos coletivos de São Paulo

Assim Sônia Barbosa (Ara Mirim), liderança Guarani, saudou coletivos de Rap, Saraus periféricos, coletivos LGBTQI+, movimentos de catadores de recicláveis, representantes do MTST, professoras de escolas públicas e tantas outras pessoas que se juntaram na ocupação Yari Ty na última quinta feira, 27/02. Os coletivos foram convocados pelos Guarani do pico do Jaraguá para colaborarem na luta contra um condomínio da Construtora Tenda a ser construído em território sagrado Guarani num terreno vizinho à Terra Indígena Jaraguá. Os participantes ouviram as lideranças Guarani e propuseram ações que dessem visibilidade à resistência Guarani na Ocupação Yari Ty.

A Construtora Tenda pretende construir 5 torres totalizando 396 apartamentos num terreno sagrado para os cerca de 800 Guarani que vivem ao redor do empreendimento em 6 aldeias da Terra Indígena Jaraguá. Surpreendidos pelo início inesperado das obras na última semana de janeiro os Guarani iniciaram a ocupação assim que  as primeiras árvores foram cortadas. Eles denunciam que o condomínio ameaça aproximadamente 4.000 árvores, além de cursos d’água, nascentes e animais que habitam a região. Como protesto a esse cenário de destruição estão construindo a Ocupação Yari Ty, um lugar de vida focado na preservação do meio ambiente. Os Guarani exigem que o terreno seja destinado à  construção de um parque e memorial Guarani aberto e formando um corredor verde para a cidade.  Nesse espaço aberto, eles poderão praticar e demonstrar suas práticas sustentáveis, como a criação de abelhas nativas, o desenvolvimento de uma agrofloresta, além da realização de formações em práticas agrícolas sustentáveis.

Canteiro de obras da Tenda já derrubou espécies nativas e ameaça a TI Jaraguá.

Canteiro de obras da  Construtora Tenda já derrubou espécies nativas e ameaça a TI Jaraguá

Ao invés de cimento e concreto, os Guarani agem para a construção de um espaço com floresta, alimento e cursos de água limpa que sirva como um corredor verde para a cidade. Eles mesmo já iniciaram o processo e nesse quase um mês de ocupação já foram plantadas 800 mudas de espécies nativas e uma horta de plantas medicinais. Além disso, um lago para a criação de peixes está sendo construído a partir de um trecho do Ribeirão das Lavras.

Lago sendo construído em área ameaçada pela construtora Tenda

Lago sendo construído em área ameaçada pela Construtora Tenda

Vale lembrar que o Jaraguá possui inúmeras nascentes de ribeirões que correm diretamente para o Rio Tietê. Se forem construídas, as torres da Construtora Tenda vão impermeabilizar toda uma grande área, fazendo com que a água que não for absorvida vá direto para o Rio Tietê, gerando alagamentos em toda cidade de São Paulo. O empreendimento tende a piorar a situação trágica que já presenciamos com os     alagamentos de janeiro deste ano. Assim, a construção deste  corredor verde com manejo adequado das águas é vital para toda a cidade.

No aspecto jurídico os advogados atentam para a ilegalidade da obra, por se tratar de empreendimento a menos de 8 quilômetros de distância de uma Terra Indígena, o que torna obrigatória a consulta prévia aos Guarani como pré-condição para o licenciamento das obras, como garante a Portaria Interministerial 60, de 2015. Além disso a consulta prévia aos povos é assegurada pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário e a área também é protegida como parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), desde 1994. Trata-se de um dos últimos pontos de Mata Atlântica da região.

A prefeitura tem sido evasiva diante da situação e mantém a autorização para a obra. A Construtora Tenda alega estar com todas as licenças ambientais. A Justiça de São Paulo autorizou a reintegração de posse e a PM afirma que esta deverá ser realizada até o dia 10 de março. Diante dessa situação David Karai Popygua, liderança Guarani, promete resistir de todas as maneiras.

“Não se negocia a destruição. Se existe lei juruá (não-indígena) que coloca PM aqui, existe lei Guarani que diz que a gente vai ficar aqui até o último Guarani”

É com o apoio de todas e todos habitantes da cidade que os Guarani pretendem barrar a reintegração de posse e garantir a criação do Parque Ecológico YARY TY (CEYTY) e Memorial da Cultura Guarani. Com a reintegração de posse agendada para 10 de março, essa semana é decisiva para a ocupação que construiu uma extensa programação para marcar a resistência com aulas de guarani, mutirões, oficinas e tantas outras atividades socioambientais. É uma ótima oportunidade para quem está interessado em conhecer a ocupação e colaborar com os Guarani. A ocupação é de fácil acesso de transporte público, está a 10 minutos de caminhada da estação Vila Clarice da CPTM e a apenas 5 estações do terminal Barra Funda pela linha 7-Rubi. Vale também assinar o abaixo assinado para a criação do Parque Ecológico (http://bit.ly/37YwRwb).

Além disso, todas as ações da ocupação estão sendo divulgadas nas páginas “Existe Guarani em Sp” (www.facebook.com/existeguaraniemsp/), “Tenonderã Ayru” (https://www.facebook.com/tenonderaayvu)  e da @lutaparquejaragua do Instagram (www.instagram.com/lutaparquejaragua).

 

#JaraguáéGuarani.

Programação ocupação/centro ecológico YARY TY

segue até 11 de março

Endereço: Rua Comendador José de Matos, 139 – Vila Clarice

estação Vila Clarice da CPTM (linha 7- rubi)

Página do Evento: https://tinyurl.com/yx4465oz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leia mais sobre a luta Guarani em

 

Entenda a luta do povo Guarani pelo Parque Ecológico Yary Ty no Jaraguá-SP

 

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