Por Tatiana Scalco/Ciranda em parceria com os Jornalistas Livres
Na última madrugada (10/12), estranhos cercaram o quilombo Rio dos Macacos em Simões Filho/BA, região metropolitana de Salvador, mais uma vez. Circulando em volta das casas, tentaram forçar portas e janelas. A comunidade ficou em pânico, apavorada.
Áudio 1: “a gente tá cercado aqui agora…Tem gente que tá em crise de pânico”
Áudio 2: momento de desespero dos quilombolas de Rio dos Macacos, na noite de 10/12
Áudio 3: “um dos assassinos está aqui, próximo da minha casa, pelo amor de Deus!”
Os níveis de tensão no quilombo Rio dos Macacos se elevaram após o assassinato do Sr. Vermelho (José Esidio dos Santos, 80 anos, liderança local), em 25 de novembro último. Hoje, a Polícia Civil informou que as investigações em relação ao assassinato do Sr. Vermelho estão em curso e há “indicativo de motivação e autoria”, contudo “mais detalhes não podem ser divulgados para não interferir na apuração do caso”. A 22ª Delegacia Territorial de Simões Filho é a responsável pelas investigações. Sobre outras ameaças à comunidade quilombola de Rio dos Macacos, a Polícia Civil informou que “não há registro na unidade policial”.
A deputada estadual Neusa Cadore, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia, informou que está monitorando a situação e conversando com as autoridades do governo.
A comunidade espera a ação das autoridades. E que as ameaças sejam levadas a sério.
A Associação Quilombola Rio dos Macacos divulgará hoje a tarde nota sobre a situação.
Entenda o caso
O quilombo de Rio dos Macacos está localizado em Simões Filho/BA – região metropolitana de Salvador.
Desde os anos 1950, a União tenta espoliar esse território quilombola. Nos anos 1960, a Marinha recebeu como doação do poder público parte do território tradicional da comunidade e construiu a Barragem do Rio dos Macacos. Nos anos 1970, instalou a Vila Naval de Aratu e impôs uma dinâmica social marcada pelo racismo, práticas abusivas e violações de direitos humanos. Desde então, há inúmeros casos registrados de violência física e sexual e de exploração do trabalho. Em 2009, a União ingressou com ações judiciais buscando expulsar a comunidade de seu território tradicional. A partir de então, as ameaças e violência cotidiana aumentaram.
Nos últimos 10 anos a luta em defesa do território e pela vida negra quilombola ganhou outros contornos. A articulação política avançou. Os movimentos se articularam. Entre outros, foi apresentada denúncia de Violação de Direitos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em 2017, que destacou o sofrimento da comunidade “com espancamentos, tortura e ameaças cotidianas dos militares contra seus/as integrantes”.
Até hoje a Marinha utiliza múltiplas estratégias de guerra contra a Comunidade. Sendo que muitas delas ultrapassam os processos judiciais e outras estão sendo legitimadas oficialmente pelo estado brasileiro. Até hoje moradores/as são impedidos de construírem ou reformarem suas casas, têm suas lavouras de subsistência saqueados. Além disso, não gozam de pleno acesso à água, saneamento básico e energia elétrica. As manifestações culturais e religiosas no quilombo Rio dos Macacos foram proibidas. Terreiros de candomblé foram fechados e destruídos, afetando diretamente seu patrimônio simbólico.
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