Solidariedade que chama? Histórias e esquecidos na São Paulo da pandemia

Por: PretoClaudinho

Logo que o isolamento social começou tratamos de mobilizar uma rede de lideranças da favela monte Azul, onde moro, para criar o Comitê Popular para o Enfrentamento a COVID-19 em nosso território, já antecipando problemas que teríamos com a transmissão comunitária do vírus e seu efeito devastador para os mais vulneráveis. Sabíamos que a população mais carente teria dificuldades em cumprir a quarentena e nos preocupamos essencialmente sobre como as pessoas iriam sobreviver?

No primeiro momento, o comitê elaborou ideias orientadoras e ofereceu aos idosos e grupos de risco da região, a prestação de serviços gratuitos, para buscar remédios em postos de saúde, farmácias, compras em supermercados e padarias, pensando em não expor os velhinhos e as pessoas que com comorbidades, além de produção de materiais explicativos sobre como as pessoas poderiam se alimentar para garantir imunidade e enfrentar a doença, caso tivessem contato com o vírus.

Quando a fome chegou ao nosso território, resultado do desemprego generalizado, já tínhamos buscado formas de garantir segurança alimentar para o nosso povo. Até agora já conseguimos entregar cerca de 10 toneladas de alimentos e sabemos que precisaremos multiplicar esse número, no mínimo, três vezes mais, para superar a crise com o mínimo de tranquilidade.

Certo dia acordei, pensando num amigo Africano que conheci em 2018, durante a campanha eleitoral, na qual fui candidato. George Mweu é um artesão e rapper Keniano que na quebrada chamamos de “desenrolado”, ou seja, uma pessoa muito ativa, conversadora, fácil de fazer amizade e simpático.

George está no Brasil há 18 anos, chegou aqui em 2002, depois de ter passado quase 5 anos na Venezuela, tornou-se um grande admirador de Hugo Chavez e Lula.

No Brasil, durante os 13 anos de casamento, George morou no bairro de Cidade Tiradentes, zona leste da capital. Depois da separação, deixou o apartamento próprio, onde morava com a esposa e o filho para a família. E aqui começa a saga pela sobrevivência desse irmão Africano.

George foi morar de aluguel no centro de São Paulo, e é nesse mesmo território, na Praça da República que ganha seu sustento, para custear moradia e alimentação e garantir os alimentos do filho, para isso vendia tecidos e roupas africanas na rua.

Ao falar com o amigo africano me dei conta que a cidade de São Paulo está ainda mais povoada, em tempos de pandemia, de seres humanos esquecidos. Os relatos são tristes, um deles é o da falta comida na mesa de nossos irmãos e irmãs africanos em São Paulo. Há mais de um mês sem poder trabalhar com os belos produtos africanos esses esquecidos têem como resultado a fome e as ameaças diárias de despejo.

Textos longos não daria conta de registrar os inúmeros problemas que George me relata.  Diante disso, resolvemos abrir um braço no comitê da Favela Monte Azul para ajudar George e os irmãos de África.

Conversamos e chegamos a conclusão que seria possível fabricar e vender máscaras desenvolvidas com os tecidos africanos que agora estão parados, para que o povo da cidade de São Paulo possa ser solidário com quem precisa e ao mesmo tempo, tenha a oportunidade de se conectar com os irmãos africanos e com a África.

Vamos ajudar? Solidariedade que chama? Para comprar as máscaras, mandem mensagens via whatsapp no número (11) 94767-8407

Claudinho Silva, conhecido por PretoClaudinho, é morador da Favela Monte Azul na zona sul de São Paulo, foi coordenador de juventude na gestão Haddad e hoje é coordenador do SOS Racismo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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