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Habitação

Sem-tetos ocupam áreas para exigir Minha Casa, Minha Vida

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MTST organiza ações na Região Metropolitana de São Paulo e cobram promessas de Dilma Rousseff

Os rostos dentro dos cerca de 20 ônibus que saíram de diversos pontos da zona sul de São Paulo na noite de sexta-feira (15/05) não escondiam a ansiedade pelo que os esperava. Eles estavam a poucos minutos de ocupar dois imensos terrenos, um em Itapecerica da Serra, com 250 mil metros quadrados. O outro fica em Embu das Artes e tem 300 mil metros quadrados.

Foto Jardiel Carvalho / R.U.A Foto Coletivo — Ocupação Itapecerica

A polícia reprimiria? Os seguranças atirariam? Haveria confronto? Mas os cerca de 1.600 sem-tetos que, a partir das 23h puseram-se em marcha, em um comboio que reuniu também dezenas de carros e muita gente a pé, tinham, além da apreensão, o desejo e a disposição de lutar por uma moradia digna.

Eles querem um teto. Querem uma casa para morar. Atenderam ao chamado do MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, para engrossar as ações que visam exigir a reforma urbana e o lançamento da terceira etapa do programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, que está paralisado por força do ajuste fiscal. Às duas ocupações realizadas ontem na região metropolitana de São Paulo, devem se somar outras nos próximos dias.

Foto: Rodrigo Zaim / R.U.A Foto Coletivo

Poder das Mulheres

Era gente como Gilvane. “Eu morava de aluguel. Pagava R$ 600 mais luz e água, e vim para cá porque fui despejada e não tenho onde morar”, disse ela, que tem três filhos.

Ou Francisca, na luta há oito anos: “Estou aqui porque moro com meu irmão, tenho filhos e crio eles da forma que Deus quer. Crio sozinha, eu e Deus. Preciso de um teto para morar com meus filhos. Eu estou feliz, eu vou com o movimento para todo canto, falo para o patrão que vou viajar e vou. Eu trabalho em uma fabrica de reciclagem e não tenho vergonha disso, é de lá que tiro para os meus filhos comerem. É com luta que agente consegue. Trabalho nessa fábrica o mesmo tempo que estou na luta. A gente só consegue as coisas se lutarmos. Parada, não se consegue nada. ”

Foto: Wesley Passos / Sigmapress — Ocupação Embu

Marlene é outra “guerreira”, como se denominam os integrantes do MTST. Ela está há 1 ano e 6 meses na luta no movimento: “Morava de aluguel, hoje moro de favor. Tenho fé em Deus em ter minha casa, algo nosso. Criei 4 filhos sozinha, só com Deus mesmo, tenho fé que irei conseguir minha casa própria, não é fácil morar de favor, quero ter minha liberdade meu cantinho de fé em Deus.”

Foto: Lina Marinelli — Ocupação Itapecerica

O Movimento dos Sem-Teto tem uma maioria de mulheres, o que é visível no acampamento. E, entre elas, estão muitas com idades avançadas e feições cansadas, mas que não desistiram da luta. Depois de criarem os filhos, entraram no movimento em busca de um teto para chamar de seu. Maria de Jesus, 68 anos, trabalha como cuidadora de uma senhora com Alzheimer, trabalho pelo qual ela ganha R$ 900 reais. O aluguel custa mais da metade do salário de Maria.

Foto: Rodrigo Zaim / R.U.A Foto Coletivo — Ocupação Embu

Especulação Imobiliária

As duas ocupações realizadas nesta sexta-feira foram preparadas ao longo de meses. Dirigentes do movimento realizam uma ampla pesquisa sobre as áreas disponíveis, antes de qualquer ação. No caso, os dois terrenos são áreas chamadas de Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social, destinadas à moradia popular). Estão abandonados há anos à espera de valorização imobiliária.

Foto: Mídia NINJA — Ocupação Itapecerica

“É incrível que tanta gente sofra com a falta de moradia digna enquanto esses terrenos gigantescos permanecem vazios e sem cumprir função social alguma”, diz Ewerton de Almeida, operador de máquinas, 21 anos, desde os 17 anos na luta pela moradia. “Minha mãe mora em uma ocupação e eu nasci para a vida consciente com o MTST. Vim aqui para ajudar”, disse.

Muitas das pessoas ali presentes montavam as suas barracas de bambu e lona, mas para “reservar” o espaço para outras famílias. “O movimento é assim, todos fazem assim. Eu catei e montei para marcar o lugar. Outra pessoa vem pegar”, diz José Luiz, 34, pedreiro, que não será um dos novos habitantes do espaço.

Foto: Bruno Miranda — Ocupação Itapecerica

Solidariedade

O trabalho solidário é um traço desta noite de ocupação. Bastava uma olhada ao redor e uma conversa com os demais envolvidos no ato para ver que muitos faziam a mesma coisa. “Um aprende com o outro a montar as barracas”, explica o também pedreiro Ailton Gonçalves. “É muito cansativo, mas tem que correr atrás de alguma coisa. E ainda nos veem como gente que não tem o que fazer”.

“Hoje estou aqui por causa de um amigo, somente para demarcar o espaço da barraca. Eu moro em outra ocupação, com meus dois filhos. Essa é uma chance de ter uma casa própria e uma alternativa ao aluguel que eu pagava, de R$ 380, que é muito caro”, conta.

A chegada aos terrenos foi o momento de adrenalina máxima. As ocupações têm de ser realizadas com rapidez, as barracas de lona tem de ser montadas correndo. O propósito é “consolidar” a ocupação o quanto antes, a fim de evitar a ação policial. É que, uma vez consolidada a ocupação, segundo o advogado do MTST, Felipe Vono, caracteriza-se a posse do terreno pelos sem-teto. Se ocorrer, o despejo só poderá ser realizado mediante determinação judicial.

Foto: Paulo Ermantino — Ocupação Embu

Kits de ocupação foram distribuídos aos sem-teto. Compunham-se basicamente de mastros de bambu (os esqueletos das barracas), plástico preto (o teto), fitilhos para amarrar tudo. Em menos de uma hora, centenas de barracas estão erguidas, colchões são instalados dentro delas.

Na ocupação realizada no Embu, entretanto, houve uma emoção a mais: quase uma hora depois da ocupação, barracas já erguidas, chegaram duas viaturas da Polícia Militar e uma da Polícia Metropolitana. Pararam bem em frente à entrada do terreno.

Foto: Rodrigo Zaim / R.U.A Foto Coletivo — Ocupação Embu

Bomba de efeito moral

Lideranças e vários coordenadores do MTST tentaram negociar com os policiais. O clima esquentou, um dos ocupantes saiu correndo e dizendo, aos gritos, ter sido atingido por gás de pimenta. Pedia que todos em volta filmassem a ação da polícia de seus celulares. Uma bomba de efeito moral foi lançada pela PM na tentativa de dispersar os sem-teto.

Foi nessa hora que, de um ônibus retardatário saíram 9 repórteres e fotógrafos da Rede Jornalistas Livres, que desembarcaram do veículo já com suas câmeras registrando a ação policial. Outras duas viaturas passavam em alta velocidade em frente ao terreno, fechando a rua –tensão total. Enquanto isso, bambus e lonas continuavam sendo freneticamente transformados em barracos.

E logo veio a primeira vitória do movimento, quando os PMs se retiraram, dizendo que só poderiam tomar alguma medida após denúncia de invasão do terreno. Levantou-se o grito de guerra: “MTST, a luta é pra valer!”

Foto: Sato — Ocupação Embu

Segundo Josué Rocha, um dos coordenadores do MTST, apesar de particular, o terreno está completamente abandonado há quase 20 anos. “Já temos barracos sendo levantados lá dentro e só vamos parar quando atingir o limite de espaço de toda a área. Esperamos chegar aos quatro mil ocupantes.”

A ocupação de Itapecerica fica muito próxima de outra, chamada Vila Nova Palestina, há um ano e meio consolidada, à espera do início da construção das moradias. A expectativa da coordenação do MTST é que esse acampamento receba a adesão de outras famílias da vizinhança. Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, o acampamento deve reunir nos próximos dias mais de cinco mil famílias.

Foto: Bruno Miranda — Ocupação Itapecerica

Frio, garoa e escuridão

A noite está gelada. Os termômetros marcam 13ºC, mas a sensação térmica é de um frio bem mais intenso –10ºC, por causa da garoa fina e congelante que insiste em cair sobre o terreno. Apesar disso, a direção adverte, está proibido fazer fogueira… Uma faísca sobre os tetos plásticos poderia produzir um desastre. Os sem-teto obedecem.

Foto: William Oliveira — Ocupação Embu

Outros artifícios para esquentar, como tomar um trago de bebida, só podem ser usados fora do acampamento. Bebidas alcoólicas e drogas são terminantemente proibidas dentro das ocupações.

Os terrenos são um breu sinistro — ainda não deu para puxar a eletricidade. Em Itapecerica, bem no meio de um campo de futebol abandonado, repousam as carcaças enferrujadas de uma Kombi e de um Fusca “desmanchados” (sem rodas, bancos, motores, sem nada).

Foto: Mídia NINJA — Ocupação Itapecerica

Os coordenadores do MTST anunciam na primeira assembleia, realizada a partir das 2h30, que o campinho será reativado para as peladas entre os sem-teto. “Não pode montar barraca entre as duas traves, tá?” O povo obedece.

Logo chegam os mantimentos da cozinha comunitária. Arroz, feijão, macarrão para centenas de pessoas. E o fogão, os panelões e o gás. Uma liderança pede desculpas “porque agora não dá para servir nada além de um café quentinho com uns sanduíches de mortadela”. Mas, promete, “amanhã, teremos leite, pão e manteiga”. Tudo certo.

“Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro”, cantaram os sem-tetos nas duas ocupações, ao final das suas assembléias. “A luta só está começando para muitos como eu, mas a esperança é imensa, tão grande quanto esse terreno”, diz Maria Auxiliadora, 56 anos, cozinheira, no movimento há apenas dois dias.


Colaboraram: Bruno Miranda, Christian Braga, Edgar Bueno, Edvam Filho, Giovanna Consentini, Jardiel Carvalho, Laura Capriglione, Lina Marinelli, Maria Carolina Trevisan, Michelli Oliveira, Oscar Neto, Paulo Ermantino, Rodrigo Zaim, Sato do Brasil, Victor Amatucci, Viviane Ávila, Wesley Passos e William Oliveira.

 

Enviamos um abraço ao querido #JornalistaLivre Paulo Ermantino, que fraturou o úmero em uma queda dentro da ocupação no Embu. Força, guerreiro!

Campinas

Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente

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Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam,  o juiz despacha no processo  de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo –  Cássio Modenesi Barbosa –  diz que  aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017,   lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação  em relação ao despacho  do juiz  em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.

Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:

“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”

Hoje também foi realizada uma atividade on-line  de Lançamento da Campanha Despejo Zero  em Campinas -SP (

https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo  a Ocupação Mandela como  o centro da  discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero  em Campinas  faz parte da mobilização nacional  em defesa da vida no campo e na cidade

Campinas  prorroga  a quarentena

Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

 A  Comunidade Mandela e as ocupações

A Comunidade  Mandela luta desde 2016 por moradia e  desde então  tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas  públicas habitacionais. Em 2017,  cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam.  Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde.  O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade.  As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:  
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/

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Direitos Sociais

Renascer e Esperança: ocupações de moradia na linha de tiro

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Duas ocupações, uma de Trabalhadores Sem Tetos em Piracicaba e outra de Sem Terra em Araras fazem um apelo por terra e moradia, diante das ações de despejo que vem acontecendo durante a pandemia da COVID-19. As famílias da Comunidade Renascer e o Acampamento Esperança resistem, para que não haja tamanha tragédia, como houve no mês de maio deste ano, na Ocupação Taquaral no bairro Monte Líbano em Piracicaba.

No dia 7 de maio, por uma decisão judicial da juíza Fabíola Moretti, cerca de 50 famílias foram colocadas nas ruas em meio à pandemia, sem ajuda do poder público e colocando em risco, idosos, crianças e desempregados. Derrubaram as casas e bloquearam os pertences desses moradores por um mês, tudo para favorecer a especulação imobiliária patrocinada pela Prefeitura de Piracicaba e o Estado de São Paulo.

Regiana, antiga moradora da Ocupação Taquaral , ficou desempregada após o fechamento do Shopping Piracicaba no início da pandemia. 

“Derrubaram as nossas casas, nossas coisas ficaram um mês presas, levaram para um depósito particular e eu só consegui retirar com autorização do Juiz.” 

Regiana foi acolhida pela ocupação Renascer com seus 7 filhos, marido e mãe, há um mês e meio.

Regiana e três de seus sete filhos que moram na Ocupação Renascer.

                                         

A Comunidade Renascer, localizada na Zona Noroeste de Piracicaba, abriga desde janeiro de 2020, mais de 400 famílias. Essas pessoas, entre elas crianças, idosos e cadeirantes, são ameaçados, quase todos os dias logo pela manhã na ocupação, por policiais que rodeiam a ocupação e quando querem, sem aviso nenhum, invadem barracos com pontapés nas portas oprimindo moradores. É um enfrentamento diário pela vida em uma estrutura que cria a condição de pobreza e, ela própria, condena e marginaliza, sem qualquer parâmetro decente e humanista.

A ação de reintegração de posse contra a Comunidade Renascer foi pedida por 8 pessoas em março deste ano e o juiz Eduardo Velho Neto determinou o despejo contrariando o primeiro artigo 554 do código Processo Civil, deixando de intimar o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, esse procedimento é obrigatório por ser uma ação contra coletivo de pessoas “hipossuficientes economicamente”.

Ocupação Renascer.

 

A cada minuto que passa, os moradores passam a se relacionar mais profundamente com seus vizinhos, sua casa e com a terra. Estão em amadurecimento, mais de cinco hortas de cuidado comunitário. 

Leonardo ao lado de uma das hortas que ele e sua família cuidam na Ocupação Renascer.

 

Vanessa e seu marido Leonardo, mais seus três filhos, Vítor, Richard e Lawane Eloá, fizeram a maior horta da comunidade. É a relação com a terra gerando valorização, autonomia e maior qualidade de vida para os moradores, intrinsecamente. O artista Pajé também morador da Renascer, pinta as frentes das casas, representando, individualmente, cada lar ali construído.

Leonardo e Vanessa, moradores da Ocupação Renascer.

 

Daisy Isidoro, uma das lideranças da Ocupação Renascer. É Técnica de Enfermagem e estudante de Direito.

 

Moradoras da Ocupação Renascer ao lado de uma das pinturas do artista Pajé, também morador.

 

 

A outra ordem de despejo que acontece simultaneamente é no Acampamento Esperança, localizado na zona rural de Araras. São pequenos sítios que foram ocupados há 10 anos em cima de uma linha de trem desativada. São pequenos agricultores, cerca de 30 famílias que estão há 8 meses sem água, por decisão do prefeito. Coincidentemente, na mesma época, o transporte escolar da área, também parou de circular.

Milton, morador do Acampamento Renascer e sua família que moram em cima da antiga estação de trem.

 

O mandado de reintegração de posse expedido pelo juiz Antônio César Hildebrand e Silva, ignora uma parte importantíssima do processo. Qualquer decisão sobre áreas ocupadas a mais de um ano, deve contar com uma audiência com todos os moradores. A advogada Marcela Bragaia (Renap – Rede Nacional dos Advogados e Advogadas Populares) que cuida, tanto do caso do Esperança, quanto da Renascer juntamente com a rede, explicou em uma assembléia com os moradores, como essa ordem de despejo viola os direitos.

“Todo processo de despejo de uma ocupação que tem mais de um ano, tem que ter uma audiência, as famílias têm que sentar junto com os juízes, Ministério Público, com a Defensoria e fazer uma conversa pra ver como é que vão ser as coisas. O juiz Antonio Cesar Hildebrand e Silva daqui de Araras tá passando por cima da lei”.

 

Qualquer pessoa que visite o local, percebe que os acampados moram la há anos. No entanto, o juiz Antônio César alega que a posse é nova. Deram 30 dias para desocupação voluntária e caso os moradores não saiam passivamente, a reintegração se dará com violência policial.

 

Esse mesmo juiz já decidiu pela reintegração de posse de uma parte da cerca particular da Usina São João (U.S.J Açúcar e Álcool) que faz divisa com a  área federal da Antiga Estação Ferroviária. As áreas são contíguas e a parte particular foi reintegrada. Hoje as famílias estão somente dentro da área federal.

O absurdo é que o mesmo juiz Antonio Cesar Hildebrand e Silva foi quem expediu o mandato de reintegração de posse para a Usina São João no processo nº 1003266-34.2018.8.26.0038 em 2018, deu também a decisão de reintegração atual no processo de reintegração nº 1002159-81.2020.8.26.0038. Portanto, ele sabe que as famílias estão há mais de um ano na área e mesmo assim ele decidiu contra a audiência de mediação.

Com todo esse descaso, as famílias ainda resistem ao perigo que é morar cercados por canaviais. Há dois anos atrás, uma queimada atingiu 105 alqueires e chegou a matar algumas de suas criações, prejudicando parte do sustento dessas famílias que vivem da agricultura de subsistência e dos seus animais.

O agrotóxico também é prejudicial, como nos contou o morador José Pereira, relatando que quando passam com a máquina de veneno, as plantas morrem.

 

José Pereira, morador do Acampamento Esperança.

José dos gatos, morador do Acampamento Esperança.

Um outro morador, Valdemir, nos relatou o altíssimo índice de dengue na região: 

“A gente percebe que pela cidade, pelos canaviais, são repletos de lixo. A gente tá com um índice de mais de 1.200 casos de dengue, fora os óbitos que teve por dengue hemorrágica ultimamente.” 

A Usina São João, que é dona daquelas terras e tem interesse direto na reintegração de posse, parece não se importar com os dejetos deixados nos arredores do Acampamento, sem qualquer iniciativa de prevenção sanitária.

Milton, morador do Esperança, é artista, ex-trabalhador da Usina e mora com a sua família na parte de cima da antiga estação. Parte dos acabamentos dela ainda estão no chão e nas paredes, assim como os resquícios dos trilhos no seu quintal. Ele escreveu uma carta, que levanta questionamentos diante dessa perseguição e relata sua revolta com o formato dessa estrutura, que os ameaça diariamente.

“Estão deixando pessoas idosas com depressão, pessoas que ajudaram na construção do nosso acampamento”.

Milton, morador do Acampamento Esperança.

 

A reintegração na Comunidade Taquaral foi violenta e o que está segurando a ação de despejos nessas duas ocupações, é a articulação e união dos moradores. Nessa segunda semana de julho, o co-deputado da Bancada Ativista Fernando Ferrari, passou por essas duas ocupações se solidarizando à luta dessas famílias por moradia. Essas duas ocupações se encontram vulneráveis e movimentos de moradia são bem-vindos para fortalecer e mobilizar. 

Piracicaba, município do Estado de São Paulo, segundo o SUP (mídia livre), está entre as 20 cidades mais ricas do interior paulista. Essa mesma cidade teve um aumento significativo de 10% da favelização nas últimas duas décadas.

 Enquanto não existirem políticas públicas e empreendimentos habitacionais populares que contemplem essas famílias, ocupações continuarão acontecendo na cidade como resposta à necessidade básica humana que é a moradia.

Na Comunidade Renascer, a Assistência Social prometeu um primeiro passo positivo, que pretende cadastrar todos os moradores na EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba), utilizando o endereço da Comunidade, possibilitando o acesso a possíveis benefícios e auxílios do Governo Federal e Municipal.

                        

“Todos nós devemos nos preparar para combater

É o momento para trabalhar pela base

Mais embaixo pela base

Chamemos os nossos amigos mais dispostos

Tenhamos decisão

Mesmo que seja enfrentando a morte

Por que para viver com dignidade

Para conquistar o poder para o povo

Para viver em liberdade

Construir o socialismo, o progresso

Vale mais a disposição

Cada um deve aprender a lutar em sua defesa pessoal

Aumentar a sua resistência física

Subir ou descer

Numa escada de barrancos

A medida que se for organizando a luta revolucionária

A luta armada, a luta de guerrilha

Que já venha com a sua arma”

Carlos Marighella.

 

Link da matéria do SUP (Mídia Livre): https://medium.com/@serviodeutilidadepblica/comunidade-renascer-a-f%C3%AAnix-dos-despejos-e-especula%C3%A7%C3%A3o-imobili%C3%A1ria-em-piracicaba-sp-c1e038b60612

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Cidadania

Quilombola é Alcântara! Alcântara é quilombola!

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Quilombolas Alcantara

NOTA: ENTIDADES REPRESENTATIVAS E MEMBROS (AS) DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-BRASILEIRAS CONTRA RESOLUÇÃO N. 11 DE 26 DE MARÇO DE 2020

As entidades representativas e membros(as) de religiões de matriz africana e afro-brasileiras signatárias desta nota vem a público manifestar repúdio à Resolução nº 11/20 (GSI-PR), que institui a remoção forçada de 800 famílias e 30 comunidades quilombolas da cidade de Alcântara-MA, no conjunto de medidas tomadas no âmbito do Acordo de Salvaguarda Tecnológica firmada entre o Brasil e os Estados Unidos em 2019.

Na matriz de responsabilidades dos órgãos envolvidos no Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, o documento informa que mais de 12 mil hectares serão utilizados pelo Centro de Lançamento, além da área atual da base, afetando ainda mais as comunidades que ocupam aquele território desde o século XVII.

Além desses pontos que em si representam uma grande tragédia humana e violação da dignidade coletiva dos quilombolas de Alcântara, o documento, em seu art. 6º, VIII, “a” e “b”, prevê “a implantação de espaços religiosos e a recomposição de áreas e instalações compatíveis com as existentes nos espaços hoje habitados pelos quilombolas, para a prática de atos religiosos”, e a implementação de “projeto de um museu dedicado aos aspectos históricos e culturais das comunidades quilombolas”.

Entendemos que os territórios quilombolas representam acima de tudo espaços civilizatórios de ancestralidade africana, de reterritorialização e de resistência secular às opressões sem medida perpetradas pela sociedade e pelo Estado em solo brasileiro. Sendo assim,reiteramos que os processos de deslocamentos e alterações de nossos espaços sagrados, no que tange as práticas religiosas de matriz africana, são efetuados mediante consultas aos nossos oráculos, sistemas adivinhatorios próprios e o consentimento de nossos ancestrais regentes de nossas casas de axé. Portanto, remeter essa tarefa ao aparato de Estado expõe nossa religiosidade ao risco de violação do nosso sagrado, ao mesmo tempo que nos aponta a possibilidade de termos a atenção voltada às outras denominações religiosas, tais como igrejas evangélicas e católicas e a negação das nossas religiões de Matriz Africana, como forma de dizimar nossa ancestralidade.

As religiões de matriz africana e afrobrasileiras concebem o zelo e a proteção dos lugares sagrados para além dos espaços físicos das casas de axé. O acesso ao mar, aos lagedos, as pedreiras, aos mangues, aos rios e as florestas, são vitais para sua sobrevivência. Tudo isso está ameaçado e não há como transportar caso haja remoção. Deste modo, não há que se falar em museu, implantação de espaços religiosos ou recomposição de áreas e instalações como suposta forma de reparação pelos danos materiais e imateriais causados à memória ancestral e coletiva daquelas comunidades, agravados com este novo processo de desterritorialização representado pela Resolução nº 11/20.

Em verdade, a resolução fere frontalmente a Convenção nº 169 da OIT, ao inviabilizar qualquer processo de consulta livre, prévia e informada às comunidades envolvidas; a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, que estabelecem o pleno respeito aos modos de criar, fazer e viver de comunidades tradicionais e grupos formadores da sociedade brasileira; e ao artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que assegura direitos às comunidades quilombolas ao reconhecimento da propriedade definitiva dos seus territórios.

Ressaltamos que o documento é sorrateiramente imposto em um momento de grave crise global provocada pela pandemia do COVID-19. A medida do governo federal agrava mais ainda a situação de vulnerabilidade e insegurança a que estão sujeitos os quilombolas de Alcântara após a assinatura do Acordo de Salvaguarda. Assim, mobilizamos toda a solidariedade em favor das comunidades quilombolas atingidas pela medida para manifestar nossa profunda discordância com o teor do documento e exigir sua imediata revogação.

Assinem e divulguem!

 

https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/gabinete_de_seguranca_institucional_da_presidencia_nao_a_remocao_das_comunidades_quilombolas_de_alcantara_e_seus_espacos_sagrados/?ltlqOob

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