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Injustiça

QUEM SEQUESTROU LUCAS?

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Segundo familiares, na última terça (12), o jovem foi raptado da frente de sua casa por policiais e colocado dentro de uma viatura. Até o fechamento dessa reportagem, Lucas continuava desaparecido.
Nesta sexta (15), sua família passou o dia no Instituto Médico Legal de Santo André para realizar exames de DNA, isso porque depois da pressão de reportagens veiculadas do dia do rapto para cá, um corpo de um jovem não identificado foi encontrado na represa Billings, região sul de SP, próximo do local onde Lucas fora sequestrado pela polícia.
Na quarta (13), pela manhã, o irmão de Lucas Eduardo Martins dos Santos registrou depoimento no 6° DP de Santo André, num dos trechos do Boletim consta que:
“por volta de 1h30 o declarante diz ter ouvindo barulho de carros e portas batendo em frente a sua residência, momento em que olhou pela janela e viu tratar-se de policiais militares, que se dirigiram a parte de baixo do imóvel, local onde residem seus irmãos e a madrasta T. Os policiais foram recebidos pela senhora T. (…) que foi indagada sobre quem residida naquela local e se havia algo de errado no interior da residência, e se poderiam adentrar”. Os policiais não entraram na casa, mas perguntaram quem morava lá e em seguida teriam ido embora.
Esses fatos aconteceram no Jardim Santa Cristina, região periférica de Santo André, onde Lucas, um garoto negro, como são os alvos prediletos da polícia brasileira, mora. Ainda no Boletim, o irmão de Lucas declarou que:
“no momento da chegada dos policiais, sua madrasta afirmou ter ouvindo uma voz, que não pode afirmar ser de Lucas, dizendo: eu moro aqui! Logo que os policiais deixaram o local, o declarante e seus familiares passaram a procurar por Lucas”.
Durante a busca avistaram um usuário de entorpecentes que costumeiramente perambula nas proximidades. Esse rapaz vestia uma blusa cinza, de moletom pertencente à Lucas.
O jovem irmão de Lucas questionou o usuário sobre como teria adquirido a blusa e esse respondeu: “encontrei atrás da E.E. Antônio Adib Chammas”. Neste momento familiares de Lucas foram até o local e acharam também um boné que o garoto usava naquela noite.
Na própria quarta moradores do bairro organizaram um ato público nas ruas do bairro, exigindo justiça e solução para o rapto do garoto. A manifestação seguiu pelas ruas próximas da Av São Bernardo, até que foi violentamente reprimido pela PM, com sua habitual resposta de tiros a esmo com bombas de gás e truculência. Na quinta (14) mais um ato de resistência foi realizado. Mais uma vez seguindo pela Av São Bernardo, até o terminal Vila Luzita, passando ela escola onde encontram as roupas de Lucas e finalizado na Av. São Bernardo. A polícia foi obrigada a se controlar, uma vez que o caso já havia sido veiculado por alguns veículos de imprensa.
A ouvidoria da PM já abriu um procedimento para acompanhar o caso. Enquanto isso, no exato momento em que você está lendo esse texto, os familiares do garoto seguem aflitos, fazendo buscas mas, principalmente transtornados com o desaparecimento. Fora o clima de terror, medo e hostilização que vizinhos têm passado com a conduta violenta da Polícia que intensificou as patrulhas, como nunca fora visto antes, com movimentações, olhares ameaçadores. A corporação diz ter afastado os policiais envolvidos. No IML, um corpo que fora exposto hoje à família não foi reconhecido. Os parentes fizeram exame de DNA e o Instituto Médico Legal deu um prazo de 10 dias úteis para o resultado.
Enquanto isso, a aflição e a tristeza são os sentimentos da família e moradores da comunidade de Lucas. Mas o medo de um Estado que deveria proteger, sobretudo crianças e adolescentes é sem dúvida, muito maior do que tudo. O pior é pensar que para talvez solucionar o rapto do garoto, o único meio e equipamento acessível para essa família, seja o próprio Estado. Mas como confiar numa Instituição que hostiliza, sequestra, barbariza e mata?
Sem dúvida, um dilema que de dentro dos espaços de privilégio é quase que invisibilizado por uma grande parcela da população. Um caso como esse, suscita, inclusive, a reforma do sistema de segurança, das alternativas sobre a abolição do tráfico de drogas e outros pontos que fazem com que a justiça seletiva esteja tão normatizada nos quatro cantos do país
A rede de colaboradores dos Jornalistas Livres vai acompanhar o caso, minuto a minuto e trará  atualizações em breve.

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1 Comment

1 Comments

  1. LUANA OLIVEIRA DA SILVA

    01/12/19 at 6:31

    precisa atualizar a reportagem. não deixem de gritar pelo menino Lucas, por favor

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Injustiça

Mais de um ano depois, inocentes por falta de provas

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Mais de um anos depois de serem mandados para a prisão, terem a liberdade provisória concedida e aguardarem a decisão final, jovens foram considerados inocentes. Na decisão a juíza declarou que “JULGO IMPROCEDENTE a denúncia, para o fim de absolver” os quatro jovens. A história dos quatro jovens do Jd São Jorge é exemplar e a decisão de sua inocência sair em meio explosões de manifestações contra o racismo e violência policial no mundo, por conta do assassinato de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos, torna a situação exemplar.

Washington Almeida da Silva, os irmãos Pedro e Fabrício Batista e Leandro Alencar de Lima e Silva foram presos em dezembro de 2018, após terem sido acusados de roubar um Uber na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Eles foram para a prisão em seguida. Enquanto estiveram na prisão suas famílias passaram a lutar para provar sua inocência. Depois se organizaram e reuniram provas que demonstraram a inocência dos quatro. Com apoio da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, organizaram atos para mobilizar as pessoas do bairro onde os jovens nascerem e crescerem, Jd São Jorge, na Zona Oeste da cidade.

As famílias reunidas
Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres (Abril de 2019)

Em março do ano passado a juíza Cynthia Torres Cristofaro, da 23ª Vara Criminal, concedeu liberdade provisória para os quatro. Desde então os jovens apresentaram as provas que as famílias e o advogado Luiz Toledo Piza juntaram ao longo do processo e aguardaram a decisão da juíza. Na última quinta feira, 4, veio então a decisão.

Nela a juíza Cristofaro, depois de retomar os pontos do processo, afirma que “ao exame da prova dos autos persiste dúvida insuperável quanto à hipótese acusatória, mal esclarecida” e lembra que “em relação à identificação dos réus não foi possível tomar da vítima”, sendo que esta não compareceu nas audiências. E conclui com a absolvição dos quatro.

Para o advogado o caso se faz exemplar uma vez que a “realidade mais uma vez traz à tona, o despreparo da nossa polícia e a falta de interesse do Estado em investigar os reais fatos de uma malfadada acusação contra inocentes” e recomenda “que as autoridades tomem maiores cuidados, mais cautela e promovam investigações mais profundas, antes de atirarem pessoas inocentes nos calabouços da prisão”.

Relembre o caso 

No dia 10 de dezembro de 2018, os jovens foram abordados por Policiais Militares que haviam encontrado um carro de um Uber, roubado numa rua próxima. Os quatro alegaram inocência ao serem presos pelo roubo. Mas mesmo assim foram mandados para a prisão.

Além de organizar atos pela comunidade a família juntou provas para demonstrar a inocência dos quatro, como:

  • Uma testemunha que afirma ter visto os rapazes ali até por volta das 23:40h, enquanto o roubo estaria acontecendo (no B.O. a ocorrência está registrada como iniciada às 23:45h).
  • As roupas que a vítima descreveu não combinavam com as dos quatro na noite do crime.
  • Nenhum dos jovens estava com os itens roubados, o reconhecimento da vítima ter sido realizado de forma avessa ao código penal.
  • E um roubo muito parecido ter ocorrido pouco tempo depois, próximo do local.

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fotografia

#JustiçaPorMiguel. Ato em Recife, clama por justiça

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#JustiçaPorMiguel

Respeitando as regras de distanciamento social, os manifestantes se reuniram às 13h em frente ao Palácio da Justiça e saíram em passeata até as “Torres Gêmeas”, onde Miguel morreu. De maneira pacífica, gritaram palavras de ordem e pediam a responsabilização de Sari Gaspar Corte-Real, a patroa que negligenciou Miguel.

Fotos: Pedro Caldas Ramos

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Conheça mais o trabalho do fotógrafo:

https://www.instagram.com/caldaspedr/

 

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Comportamento

É muita Coisa, muito Símbolo!

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“Esse horror que é a morte do menino Miguel é a história com mais símbolos de que eu tenho lembrança:⁣

A empregada que trabalha durante a pandemia;⁣
A empregada, mãe solo, que não tem com quem deixar o filho;⁣
A empregada é negra;⁣
A patroa é loura;⁣
A patroa é casada com um prefeito;⁣
O prefeito tem uma residência em outro município, que não é o que governa;⁣
A patroa tem um cachorro, mas não leva ele pra passear, delega;⁣
A patroa está fazendo as unhas em plena pandemia, expondo outra trabalhadora; ⁣
A patroa despacha sem remorso o menino no elevador;⁣
O menino se chama Miguel, nome de anjo;⁣
O sobrenome da patroa é Corte Real;⁣
A empregada pegou Covid com o patrão;⁣
A empregada consta como funcionária da Prefeitura de Tamandaré;⁣
Tudo isso acontece nas torres gêmeas, ícone do processo e verticalização desenfreada, especulação imobiliária e segregação da cidade do Recife;⁣
Tudo isso acontece em meio aos protestos Vidas Negras Importam;⁣
Tudo isso acontece no dia em que se completaram cinco anos da sanção da lei que regulamentou o trabalho doméstico no Brasil; ⁣

É muita coisa, muito símbolo.”⁣

Texto por Joana Rozowykwiat (@joanagr) (@JoanaRozowyk)

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