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Por que eles querem tomar o poder: Salário Mínimo

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A economia é uma ciência social, embora muitos economistas tentem nos convencer que preços, salários, juros, etc. sejam frutos de leis, como as leis da natureza, como as leis da física. Houve até o grupo de fisiocratas que comparava o funcionamento da economia com o funcionamento do corpo humano.

A verdade é que o salário mínimo e a taxa de juros, por exemplo, são determinados pela sociedade, fazem parte de um acordo social, são convenções, contratos sociais.

Falam de taxa natural de desemprego e de taxa natural de juros para convencer as pessoas da inevitabilidade de condições que prejudicam a maioria: se não há remédio, se foi a “natureza” que determinou, não temos nada o que fazer. Em verdade, a natureza nada tem a ver com decisões tomadas para favorecer grupos com maior poder político e econômico.

Imagine que você tenha muito dinheiro e o empreste para o governo. Seria extremamente confortável fixar uma taxa de juros num nível altíssimo, destinar montanhas de recursos para seus bolsos e, ainda por cima, dizer que a taxa é um dado da natureza. “Não há nada a fazer. A taxa natural de juros no Brasil é alta mesmo, sempre foi e sempre será.” Simples, não é?

Exatamente o mesmo se dá na determinação do salário mínimo. “O mercado, com suas leis naturais, é quem determina os salários e qualquer interferência leva a desequilíbrios e ineficiências que no longo prazo prejudicam o próprio trabalhador.” Você certamente já ouviu essa ladainha. No fundo o que estão dizendo é: aceite seu salário baixo da mesma forma que aceita a chuva ou a falta dela. Misturar decisões e acordos feitos por pessoas com forças da natureza serve muito bem ao propósito de convencer a maioria de que não tem saída, que só se pode aceitar, afinal é impossível fazer chover ou deter a chuva.

Vejam esse gráfico elaborado pelo Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos:

Elaborado pelo Dieese, Nota Técnica 153

Gostaria de, primeiro, dar uma explicação e depois fazer três proposições sobre o gráfico.

Os valores do salário mínimo mostrados ano a ano são “valores reais”, isto é, foi retirado deles o efeito da inflação. Dessa forma podemos encarar os valores, de fato, como o poder de compra do salário mínimo em cada momento. Quem recebia salário mínimo durante esses anos teve o pior ano em 1995, ano quando o poder de compra foi o menor da série. O que equivale a dizer que, nesses 34 anos, o menor salário mínimo foi no ano em que foi implantado o Plano Real. Sim, o plano Real arrochou salários.

A primeira proposição é que o salário mínimo é determinado pelas forças políticas dominantes em cada momento. Reparem como é fácil diferenciar a política salarial dos governos dos Fernandos (Collor e Cardoso) e dos governos de Lula e Dilma. Os Fernandos adotaram a cartilha neoliberal: cada qual que negocie seu salário com seu empregador, o governo lava suas mãos. Enquanto que Lula e Dilma fizeram a balança pender ligeiramente para o lado dos trabalhadores.

A segunda proposição é que o movimento de valorização do salário mínimo feito por Lula e Dilma não contém nenhum absurdo: apenas fez seu valor retornar ao nível de 34 anos atrás. Não há nenhum radicalismo em crescer a remuneração mínima, conforme cresce a produção do país. A desigualdade, que foi aprofundada nos governos dos Fernandos, regrediu nos governos Lula e Dilma. E nada há de “bolivariano” aqui.

A terceira proposição é que o aumento dos salários em geral, e do salário mínimo em particular, ajuda a economia do país a crescer. Os salários vão quase completamente para o consumo. Como o Dieese afirma, “a valorização do Salário Mínimo induz a ampliação do mercado consumidor interno e, em consequência, fortalece a economia brasileira”. Deve e precisa ter continuidade, sobretudo porque o país segue profunda e resistentemente desigual.

Temer e o PMDB publicaram um documento em que enumeram as políticas econômicas que defendem para o Brasil. Nesse documento, eles propõem o “fim de todas as indexações, seja para salários, benefícios previdenciários e tudo o mais”. O que isso significa? Significa que as regras de reajuste, como a do salário mínimo que usa a inflação mais o crescimento do PIB, seriam eliminadas. Não garantindo, portanto, que não teríamos uma nova queda como a mostrada no gráfico.

Sob o discurso de que o trabalhador vai ganhar no futuro, eles propõem retirar direitos no presente. Da mesma forma, sob o discurso de combater a corrupção, querem mesmo é privilegiar os capitalistas, os mais ricos às custas dos trabalhadores, dos que ganham salário mínimo ou têm seu rendimento ligado ao valor do salário mínimo. No Brasil, segundo o Dieese, 48 milhões de pessoas, um quarto da população, recebem seus rendimentos conforme o valor do salário mínimo. A economia brasileira cresceu nesses 34 anos e esses 48 milhões só voltaram a ganhar o que já se ganhava em 1983. A luta tem que continuar por mais direitos, mesmo tendo progredido nos últimos anos, seguimos sendo um país muito injusto e desigual.

Para ler a Nota Técnica 153 do Dieese: http://www.dieese.org.br/notatecnica/2015/notaTec153SalarioMinimo2016.pdf

#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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Artigo

FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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