Por que eles querem tomar o poder: Bolsa Família

Ilustração por Joana Brasileiro

As cenas mais chocantes da história do Brasil no século XX são aquelas da seca, especialmente no Nordeste. Fome, morte, subnutrição e migração para o Sudeste compunham o triste quadro. Revisitar essas cenas é indignar-se com a desigualdade que sempre foi, e ainda é, marca do nosso país. Embora a seca no Nordeste chamasse mais nossa atenção, a fome esteve espalhada por todo o território brasileiro.

 

Esse povo é pobre por que é vagabundo, dizem alguns. A verdade é que há um nível de pobreza, um nível de miséria, do qual é impossível sair sem alguma ajuda externa. Uma condição que passa de pais e mães para filhos e assim por diante numa reprodução sem fim da penúria. A criação e a disseminação do Bolsa Família foi a ajuda que fez o quadro mudar radicalmente nesses últimos anos. Foi a quebra do ciclo vicioso.

Dona Zabé da Loca, tocadora de pífanos, em Monteiro, Cariri, 2001. Foto de Hélio Carlos Mello.

Pesquisas mostram aumento na altura média de crianças no Brasil: quem passa fome na primeira infância cresce menos. Censos do IBGE demonstram com toda clareza a passagem de milhões de brasileiros para cima da linha de pobreza. O mapa da fome da ONU retirou, em 2014, o Brasil de sua lista de países que não conseguem garantir o mínimo de alimentos à seus habitantes. Órgãos das Nações Unidas, governos de outros países e imprensa internacional reconhecem a efetividade do programa adotado pelo Brasil a partir do governo Lula. Quem quiser, encontrará inúmeros dados comprovando esse fato.

O custo do Bolsa Família quebrou o país, repetem outros. Nada mais falso do que atribuir as dificuldades no orçamento do governo federal ao Bolsa Família. Para termos uma idéia: o pagamento de juros sobre a dívida do governo consumiu R$ 513 bilhões, nos 12 meses terminados em fevereiro de 2016, segundo o Banco Central do Brasil.

Se dividirmos esses 513 bilhões por 12 meses, concluímos que o governo federal gastou, em média, R$ 42 bilhões por mês de juros. Em março de 2016, o Bolsa Família pagou R$ 2,2 bilhões a 13,8 milhões de famílias.

Compare 42 bilhões de reais de gastos com juros e 2,2 bilhões de reais com o Bolsa Família e diga qual dos dois pode quebrar o país.

Dos dois dados do Bolsa Família podemos tirar outros dois.

O primeiro é que se as famílias têm em média 4 pessoas, o Bolsa Família ajuda 55 milhões de pessoas, ou seja, um quarto da população brasileira.

A segunda informação é que o Bolsa Família paga, na média, R$ 160 por família, um valor muito baixo, mas que pode ser a ajuda que se precisava para quebrar o círculo da miséria.

Em matéria sobre o programa Ponte para o Futuro do PMDB, o jornal O Estado de São Paulo de 27/03/2016 disse que: “ Segundo o Estado apurou, o combate à desigualdade será mantido, mas vai se concentrar no atendimento nos 10% mais pobres, que estão abaixo da linha de pobreza (por critérios internacionais, quem vivem com menos de US$ 1 dólar por dia)”.

Se hoje 25% da população é assistida pelo Bolsa Família e o PMDB quer restringir aos 10% mais pobres, haverá um corte significativo no programa mais barato e que mais tirou gente da miséria. O golpe quer cortar direitos, não quer apenas depor a presidenta Dilma ou incriminar o ex-presidente Lula.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Eu não entendo bem de política, nem de economia,
    O que que vou expô aqui são fatos constatados, vividos e infelizmente esquecidos. O que achei mais terrível desta seca de 79 á 85 foi o esquadrão de morte no sul do país. Isto foi a tragédia mais grande de nosso país, uma vergonha! Será que só eu me lembro? Ele foi causado pela a fome, certo mas ordenado pelos os começos. Aquele total desprezo e o total desempenhamento do governo da época em vez estas crianças e sua população que morriam de fome. Foi um horror, uma vergonha! Eu estava no estrangeiro na época e nunca tive tanta vergonha de ser brasileira…
    Então sem me entender muito de pólica, penso que este governo fez muito para sua população pobre, bem que aproveitou também pra enriquecer, mas se for honestamente e´o direito de todos.

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