As cenas mais chocantes da história do Brasil no século XX são aquelas da seca, especialmente no Nordeste. Fome, morte, subnutrição e migração para o Sudeste compunham o triste quadro. Revisitar essas cenas é indignar-se com a desigualdade que sempre foi, e ainda é, marca do nosso país. Embora a seca no Nordeste chamasse mais nossa atenção, a fome esteve espalhada por todo o território brasileiro.
Esse povo é pobre por que é vagabundo, dizem alguns. A verdade é que há um nível de pobreza, um nível de miséria, do qual é impossível sair sem alguma ajuda externa. Uma condição que passa de pais e mães para filhos e assim por diante numa reprodução sem fim da penúria. A criação e a disseminação do Bolsa Família foi a ajuda que fez o quadro mudar radicalmente nesses últimos anos. Foi a quebra do ciclo vicioso.

Pesquisas mostram aumento na altura média de crianças no Brasil: quem passa fome na primeira infância cresce menos. Censos do IBGE demonstram com toda clareza a passagem de milhões de brasileiros para cima da linha de pobreza. O mapa da fome da ONU retirou, em 2014, o Brasil de sua lista de países que não conseguem garantir o mínimo de alimentos à seus habitantes. Órgãos das Nações Unidas, governos de outros países e imprensa internacional reconhecem a efetividade do programa adotado pelo Brasil a partir do governo Lula. Quem quiser, encontrará inúmeros dados comprovando esse fato.
O custo do Bolsa Família quebrou o país, repetem outros. Nada mais falso do que atribuir as dificuldades no orçamento do governo federal ao Bolsa Família. Para termos uma idéia: o pagamento de juros sobre a dívida do governo consumiu R$ 513 bilhões, nos 12 meses terminados em fevereiro de 2016, segundo o Banco Central do Brasil.
Se dividirmos esses 513 bilhões por 12 meses, concluímos que o governo federal gastou, em média, R$ 42 bilhões por mês de juros. Em março de 2016, o Bolsa Família pagou R$ 2,2 bilhões a 13,8 milhões de famílias.
Compare 42 bilhões de reais de gastos com juros e 2,2 bilhões de reais com o Bolsa Família e diga qual dos dois pode quebrar o país.
Dos dois dados do Bolsa Família podemos tirar outros dois.
O primeiro é que se as famílias têm em média 4 pessoas, o Bolsa Família ajuda 55 milhões de pessoas, ou seja, um quarto da população brasileira.
A segunda informação é que o Bolsa Família paga, na média, R$ 160 por família, um valor muito baixo, mas que pode ser a ajuda que se precisava para quebrar o círculo da miséria.
Em matéria sobre o programa Ponte para o Futuro do PMDB, o jornal O Estado de São Paulo de 27/03/2016 disse que: “ Segundo o Estado apurou, o combate à desigualdade será mantido, mas vai se concentrar no atendimento nos 10% mais pobres, que estão abaixo da linha de pobreza (por critérios internacionais, quem vivem com menos de US$ 1 dólar por dia)”.
Se hoje 25% da população é assistida pelo Bolsa Família e o PMDB quer restringir aos 10% mais pobres, haverá um corte significativo no programa mais barato e que mais tirou gente da miséria. O golpe quer cortar direitos, não quer apenas depor a presidenta Dilma ou incriminar o ex-presidente Lula.
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