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EUA

Policial americano tortura e mata no meio da rua homem negro que estava algemado

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George Floyd: assassinado por policial no meio da rua

“Assistir a esse Policial sufocar George Floyd com o joelho no pescoço dele, algemado e indefeso, gritando por sua vida, com o rosto no chão, é a coisa mais repugnante e comovente que eu vi em muito tempo. Esse policial sabia que estava sendo filmado e mesmo assim assassinou [George Floyd] com arrogância e orgulho.

Isso tem de parar! Até que nós consigamos superar o Racismo na América, ninguém deveria poder portar uma arma na rua. Acima de tudo policiais.

Deus abençoe vc, George Floyd. Lamento muito por vc e pela sua família. E por todos os assassinatos sem sentido que aconteceram antes de vc. Será que isso vai terminar? Eu rezo a DEUS que acabe um dia.

Até lá, foda-se a Polícia!

É, eu disse isso. Eu não estou interessada em ser politicamente correta. Estou interessada em Justiça.”

#georgefloyd #justice #guncontrol

#Justiça #ControleDeArmas

@Madonna

 

 

Foi assim que Madonna protestou, nas redes sociais, contra o assassinato, nesta segunda-feira (25/5) de George Floyd, negro, 46 anos, por um policial de Minnesota, quando já estava rendido, algemado e jogado no chão. (Veja vídeo abaixo)

 

 

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um policial ajoelhado sobre o pescoço de Floyd, enquanto ele suplica várias vezes: “Não consigo respirar”, “não consigo respirar”, “não consigo respirar”… Inútil. A agonia da vítima dura longos minutos: o policial apertando o joelho no pescoço no Floyd, os observadores pedindo para o agente que pare, os demais policiais garantindo que os populares não se aproximem e que o assassino siga torturando. Até que Floyd morre.

Floyd havia sido detido por suspeita de tentar passar um cheque frio em uma loja. Ele foi algemado e jogado no chão, quando o policial monstruoso resolveu posar para os celulares que filmavam a ação como um caçador sobre sua presa caída.

A cena nauseante termina com a chegada de uma ambulância. O policial retira seu joelho e o corpo de Floyd, já sem qualquer sinal de vida, é colocado em uma maca.

 

Em 2014, Eric Garner, morreu ao ser detido em Staten Island, Nova York. No momento da detenção, o homem queixou-se repetidamente, por 11 vezes: “Não consigo respirar”, enquanto um agente da polícia o estrangulava.

Segundo a polícia de Minnesota, Floyd morreu em decorrência de um “incidente médico”, durante uma “interação com a polícia”.

Nenhuma palavra sobre o joelho do policial, sobre asfixia, sobre a tortura e o desespero de Floyd. Os policiais envolvidos na ação foram demitidos sumariamente.

Hoje, centenas de manifestantes protestaram contra mais esse assassinato de um homem negro.

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21 Comments

21 Comments

  1. Gilberto Barros

    26/05/20 at 23:36

    É revoltante, lá como cá é tudo igual. A polícia em geral é paga com o dinheiro do povo para nos proteger. Mas a PM, PC e PF está cheio de bandidos.

  2. Gilberto Barros

    26/05/20 at 23:37

    Eu tenho medo dos bandidos e da polícia.

  3. Alfredo Karras

    27/05/20 at 0:23

    Chegamos a um ponto onde eles não se importam mais de matar a sangue-frio, em plena luz do dia, diante das câmeras. Não adianta gritar “hey bro, hey bro”. A resistência agora tem de ser violenta. Não podemos ter medo das consequências pois é justamente deste medo que eles se utilizam para destruir e assassinar. Vejam o que estas pessoas fizeram com este mundo. Elas o arruinaram. Elas o tornoram intolerável. A injustiça e a morte estão por todo lado. Essas pessoas continuarão a matar e destruir até que nossa civilização acabe. Temos que estar dispostos a pagar o preço se quisermos reverter a situação.

  4. Alexander Robert dos Santos

    27/05/20 at 4:02

    Policiais na ação foram demitidos, em especial o que cometeu o assassinato? Tem que ser expostos!!!

  5. Denise

    27/05/20 at 6:27

    Quando a população teme a polícia, tanto quanto teme os bandidos, fica notório que chegamos ao fundo do poço.

  6. Maria José Campos Martins

    27/05/20 at 9:07

    Este policial assassino tem q pegar pena de morte.

  7. Gardy flayon

    27/05/20 at 9:31

    Onde eu moro, os policias entram nas casas sem mandado e roubam os dinheiros das pessoas. Não prendem ninguém, só vão pegar o dinheiro

  8. Marco

    27/05/20 at 10:23

    Jeremias 17:10. Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações. – Bíblia

    Deus tenha misericórdia de nós 😔

  9. Niva

    27/05/20 at 10:58

    É muito revoltante ver eata cena o rapaz implorando para que o policial deixe ele respirar , e mesmo assim ele não é atendido e acaba morrendo, este policial não é um policial, na verdade é mais bandido do que o rapaz que ele prendeu, tem que ser demitido e penalizado, no mínimo prisão perpetua

  10. Viviane

    27/05/20 at 15:48

    Ele precisa ser julgado esse mostro preconceituoso. Esse mal policial, até quando?
    Quantos mais
    Eric em2014
    George em 2020
    Entre outros

  11. ZéZé

    27/05/20 at 16:29

    That cop will answer for his attitude to good…. Good luck officer…

  12. Ligia Rocha

    27/05/20 at 19:22

    Eu só peço a Deus uma coisa, uma única coisa, JUSTIÇA. Esse miserável desse infeliz tem que pagar por esse crime.

  13. Jonatas Giacomelli

    28/05/20 at 14:49

    Acho que diante da repercussão do fato, e da comoção nacional e mundial, o policial, especialmente o que agiu de maneira tão violenta, já está tendo que responder pelo que fez, e isso vai muito longe. Vai ter vergonha do ato e terá que se explicar para justiça, família, enfim, deve estar arrependido. Mas merece uma punição exemplar da justiça americana.

  14. ANA PAULA NASCIMENTO FIAIS

    28/05/20 at 16:11

    Meu Deus que maldade desse policial! Tem gente que usa muito mal seu livre-arbítrio. Vai prestar contas a Deus.

  15. Floriano Marques Costa

    28/05/20 at 20:59

    Infelizmente há sempre algum tipo de imbecil fardado em tudo que policia, e claro que existem bons policiais mas esse idiota além de se ferrar ferrou mais 3 colegas que em parte mereceram também pq não fizeram nada , a gora ele não pensou na familia dele daqui pra frente né ! é só mais um imbecil fardado sem cerebro mesmo.

  16. Vânia

    29/05/20 at 0:14

    O capitalismo mesmo em meio a sua crise, não para de lançar as opressões racistas, machistas, xenófabas e homofóbicas. O capitalismo mostra cada vez mais a seu lado desumano, que não serve como meio de organizar e sim de destruição da sociedade.
    A humanidade precisa destruir o capitalismo antes que ele destrua toda a humanidade.

  17. Judite Lino

    29/05/20 at 7:57

    Que se foda a polícia mesmo, como diz Madonna, são piores ainda doque os bandidos ou ladrões… SACANAS DE MERDA

  18. Jamile

    29/05/20 at 9:55

    Eu apoio os protestos, que quebrem tudo, que queimem tudo!

  19. Alex Rosa (Lekinho)

    29/05/20 at 14:22

    Assassino.

  20. Renato Grebrekcuz

    30/05/20 at 19:04

    Que horror… Isso é pavoroso!!

  21. Renato Grebrekcuz

    30/05/20 at 19:07

    Dá vontade de gritar ASSASSINO!!! bem alto! Que horror!!!!

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Arte

“…E o Vento Levou” deve ser visto pelo que é: uma fantasia perversa sobre a Guerra Civil Americana

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As atrizes Viven Leigh Hattie McDaniel em cena de “E o vento Levou” (Foto: Reprodução)

Por James Cimino*

 

Esta semana foi marcada por uma nova polêmica racial, desta vez não envolvendo a polícia, mas a indústria do entretenimento dos Estados Unidos. O serviço de streaming HBO Max, que pertence ao grupo Warner Brothers, decidiu retirar de seu catálogo o clássico de 1939, vencedor de oito Oscar, inclusive de melhor filme, “…E o Vento Levou”.

A decisão foi tomada após John Ridley, roteirista do filme “12 Anos de Escravidão”, publicar um artigo no jornal Los Angeles Times, em que pedia que o filme fosse retirado do catálogo “PELO MENOS POR ENQUANTO”. Essa informação vem em caixa alta porque ela é muito importante e tem sido ignorada no debate.

No mesmo artigo, Ridley disse não acreditar em censura nem que gostaria que o filme fosse “enfiado em um cofre em Burbank”, cidade do condado de Los Angeles onde se encontram os estúdios da Warner. Seu pedido era que, em respeito ao que está acontecendo neste momento nos Estados Unidos, o filme fosse retirado e depois reinserido com outros filmes e documentários que retratassem a Guerra da Secessão com mais fidelidade ao seu contexto histórico.

Segundo Ridley, o clássico dirigido por Victor Fleming e estrelado por Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland e Hattie McDaniel “romantiza os horrores da escravidão”. E ele está certo. Tanto que a produtora, que detém os direitos sobre o filme, decidiu acatar o pedido do diretor.

 

Por que não se trata de censura

 

Imediatamente um debate infundado sobre censura tomou conta das redes sociais. Infundado porque a HBO Max realmente pretende remover o filme apenas temporariamente. Segundo porque a ação da produtora e de sua plataforma de streaming não configuram censura. Não foi o governo dos Estados Unidos que exigiu a remoção da obra do catálogo nem tampouco determinou sua destruição.

Não podemos esquecer que censura é sempre estatal e institucional. Pelo menos é isso que sugere a professora Cristina Costa, diretora do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP (Obcom), em uma série de reportagens sobre a censura às novelas durante a ditadura militar publicada em 2013 no UOL.

A professora inclusive destaca que a sociedade civil “pode e tem o direito de não querer ver certas coisas na TV, mas não pode ser um órgão do governo que irá decidir isso”. Foi o que aconteceu. Um representante da sociedade civil fez o pedido e a produtora e proprietária do filme resolveu acatá-lo em consideração ao momento político pelo qual o país está passando. E nunca é problema adicionar informação, contanto que o filme seja mantido em sua edição original.

Mas por que este filme que aprendemos a amar por ser um dos primeiros épicos do cinema falado e em cores é tão ofensivo aos descendentes de escravos dos Estados Unidos?

Muita gente que defende o retorno do longa-metragem ao catálogo da HBO Max acusa o estúdio de promover revisionismo histórico, pois o filme faz o “retrato de uma época”. Outra falácia. O pedido de John Ridley se baseia exatamente no caráter revisionista e romantizado que o filme faz sobre a história americana, mais especificamente sobre a Guerra de Secessão (1861 — 1865).

Tanto que não é de hoje que o filme tem gerado polêmica. Sua exibição tem sido cancelada em diversos cinemas do sul dos Estados Unidos desde pelo menos 2017, quando começou o movimento #OscarSoWhite, que criticava a ausência de artistas negros entre os indicados aos prêmios da Academia. Naquele ano, um cinema de Memphis, Tennessee, que sempre exibia o filme anualmente, cancelou a sessão por considerá-lo “insensível”.

As verdadeiras vítimas

Sua insensibilidade reside no fato de que o filme mostra o sul americano como uma vítima da Guerra de Secessão, a guerra civil americana, quando na verdade foram os sulistas, motivados pelo racismo e por seu suposto “direito” a comercializar pessoas, além de torturá-las e obrigá-las a trabalhos forçados. As vítimas dessa época, portanto, eram os negros, que são praticamente apagados do filme ou retratados de forma cômica e servil.

A Guerra Civil Americana começa em 1861 quando Abraham Lincoln é eleito presidente pelo Partido Republicano. Sua principal plataforma era acabar com a escravidão nos Estados Unidos. Lincoln não era de família escravocrata, mas desde criança aprendeu a odiar a escravidão — diferentemente da maioria dos Pais Fundadores da América (John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, John Jay, Thomas Jefferson, James Madison, and George Washington). Destes, apenas o advogado John Adams, que depois da independência se tornaria o segundo presidente americano, e Benjamin Franklin não tinham escravos.

Thomas Jefferson, que foi o terceiro presidente, que escreveu a Declaração de Independência e cujo memorial em Washington, D.C., mostra um texto seu chamando o tráfico negreiro de crueldade, tinha 607 escravos, além de pelo menos cinco filhos bastardos com uma escrava chamada Sally Hemings. Seus filhos com ela eram seus escravos, não tiveram direito a herança depois de sua morte, e Sally começou seu “romance” com Jefferson quando tinha apenas 14 anos.

Pelos padrões de hoje, o terceiro presidente americano, responsável pela primeira grande expansão americana em direção ao oeste, era um pedófilo. Fora isso, investigações genealógicas sobre os herdeiros negros dele mostram que alguns dos filhos de Sally poderiam ser, na verdade, filhos do irmão mais novo de Jefferson.

Ou seja, ela era estuprada em família. Há quem diga que o que houve entre eles não foi abuso sexual, mas um romance. Outra mentira histórica, afinal, quando uma pessoa é propriedade de outra, que detém poder de vida e morte sobre ela, a psicologia chama de síndrome de Estocolmo, não de amor.

Essa história está documentada não apenas no Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana inaugurado em Washington DC, em 2016, pelo presidente Barack Obama, mas até o museu de Monticello, Virgínia, que foi a propriedade onde Jefferson viveu, cansou de esconder a história de Sally Hemings com o presidente e tem um espaço dedicado a ela.

Enfim, quando Lincoln chegou ao poder, a escravidão e o tráfico negreiro já tinham entrado em declínio. Em 1804, o Haiti declarou independência da França e se tornou o primeiro país a abolir a escravidão. A Inglaterra, que havia começado uma revolução, a industrial, faria o mesmo em 1833.

Lincoln era republicano e os republicanos eram abolicionistas porque queriam trazer para os Estados Unidos a revolução industrial inglesa. Sociedades industriais não utilizam mão de obra escrava, mas assalariada, porque o escravo, embora não receba salário, é muito caro ao senhor, que tem que lhe dar de comer, beber, roupa e abrigo, além de pagar pelo escravo, que naquelas condições de trabalho e tortura não passavam dos 30 anos de vida. Ou seja, embora a narrativa sobre a abolição nos EUA e no Brasil seja romantizada e sempre mostrada como produto de um humanismo que se impôs, não foi nada disso. Ela acaba porque passou a não ser mais lucrativa.

O 16º presidente americano encontrou resistência nos 13 Estados ao sul do Distrito de Columbia, onde está localizada a capital Washington. Estes Estados eram predominantemente agrícolas e não queriam mudar sua matriz econômica, a plantation (monocultura do algodão e do tabaco), cuja mão de obra era escrava.

O que o vento levou

Uma série do jornal The New York Times chamada 1619, que saiu no ano passado, mostra que a escravidão foi responsável pelo início da riqueza americana e que alguns de seus elementos ainda existem em nossa sociedade, como, por exemplo, as cotas de vendas no comércio. Isso vem da plantation, onde os escravos tinham cotas de algodão a colher.

Quem não atingisse a cota tomava o número de libras faltantes em chibatadas. E quem cumprisse a cota, no dia seguinte, receberia uma cota maior. Aliás, essa série do New York Times pretendia fazer um revisionismo histórico ao declarar que a fundação dos Estados Unidos acontecera, de fato, em 1619, quando aportou aqui o primeiro navio negreiro, não em 1776 com a Declaração de Independência.

Apesar da postura dos sulistas quanto à escravidão, Lincoln ofereceu a eles 7 anos para que se adaptassem à nova matriz econômica, mas eles se recusaram. Declararam guerra contra a União e passaram a se autointitular Estados Confederados da América, cheios de empáfia, nacionalismo e muito racismo, mesmo sendo militarmente inferiores. E isso originou um dos conflitos mais sanguinários da história americana, que matou mais de 600 mil americanos e que durou quatro anos — Lincoln estimava que a guerra não duraria mais de seis meses.

A história de “…E o Vento Levou” se passa no período desta guerra, mas mostra os confederados como patriotas que se negam a respeitar as imposições do norte. Isso e a ocultação dos horrores da escravidão no filme consistem, sim, em um revisionismo histórico desonesto, pois seu roteiro, desde a primeira cena, se propõe a mostrar essa “civilização que o vento levou”.

Por isso o pedido do diretor de “12 Anos de Escravidão” para que o filme seja apresentado no catálogo em um contexto mais amplo é importante, já que os efeitos desta guerra se refletem até hoje na vida e nos costumes, inclusive na violência policial contra cidadãos afro-americanos.

Ao fim desses quatro anos de guerra civil, Lincoln foi reeleito e conseguiu fazer lobby para que o Congresso aprovasse a 13ª emenda que proíbe a escravidão em território nacional. Logo depois do fim da guerra, no entanto, um filho de um proprietário de escravos, o ator John Wilkes Booth, assassinou Lincoln enquanto ele assistia a uma peça no Teatro Ford, em DC. Booth achava que, se matasse o presidente, a abolição seria cancelada, o que é uma estupidez, já que quem aboliu de fato a escravidão foi o Congresso. Mas a morte precoce de Lincoln impediu que ele cumprisse seu projeto de reunificação da nação. Ele reunificou o território, mas as perdas do sul na guerra apenas aprofundaram suas cicatrizes.

A nova segregação

Os Estados sulistas resolveram que, como não podiam cancelar uma emenda constitucional, iriam criar leis em seus parlamentos locais para manter a população negra segregada. Leis que impediam os negros de ir ao mesmo banheiro dos brancos, de ter propriedade, de votar, de estudar nas mesmas escolas dos brancos, de dividir espaço com brancos nos restaurantes, no transporte público.

Isso perdurou até 1965, quando foi assinado o ato dos direitos civis pelo presidente Lyndon Johnson, que acabava com a segregação institucional, ou seja, um século depois da abolição estava Martin Luther King Jr. lutando para que os negros tivessem cidadania plena, o que culminou em seu assassinato em 1968, na mesma Memphis que hoje se recusa a exibir o filme. MLK, aliás, aos 10 anos, fez parte de um coral que se apresentou durante a première de “…E o Vento Levou” em Atlanta.

Quando se visita a capital americana, vemos no patamar das escadarias em frente ao Lincoln memorial o exato local onde MLK proferiu seu famoso discurso “I have a dream” em 1963. A escolha do local obviamente não foi por acaso. Em 2010, Obama também inaugurou na mesma cidade o Memorial de Martin Luther King Jr., cuja estátua não tem parte das pernas nem os pés esculpidos. Segundo o artista que projetou o monumento, o chinês Lei Yixin, ele quis simbolizar que, apesar de os afro-americanos terem conquistado muitos direitos, ainda há trabalho a ser feito. De fato, quando se olha para os protestos anti-violência policial contra negros, conclui-se que Yixin estava certo.

A glorificação do passado vergonhoso

Por fim, é muito importante que “…E o Vento Levou” seja visto pelo que ele é e sob a luz do que foi e ainda é a história do racismo americano. E é importante também não esquecermos da pior história envolvendo esse filme, que é o Oscar de atriz coadjuvante para Hattie McDaniel, a Mammy, que nem sequer pôde se sentar com o elenco do filme durante a premiação por causa das leis de segregação racial. Muitos negros, depois disso, a criticavam por aceitar interpretar papéis de empregada a vida toda. Uma vez, ela respondeu: “Prefiro interpretar uma empregada a ser uma.”

Portanto, essa retirada temporária do filme do catálogo da HBO Max é uma boa oportunidade para que se pare de glorificar o passado vergonhoso da humanidade, de lamentar pelas estátuas de senhores de escravos removidas de praças públicas. Esses monumentos são, em última instância, homenagens a esses homens. E qualquer pessoa que veja uma estátua de um escravagista não vai vê-lo pelo que ele foi, mas achar que, se ele está ali, é porque foi um grande homem.

E filmes não são apenas “obras de ficção”? Essa é outra interpretação rasa das artes cênicas. Quantas pessoas veem “…E o Vento Levou” e acham que tudo aquilo é verdade? Filmes históricos são interpretados como fatos por quem não tem as ferramentas intelectuais para analisá-los com profundidade.

Não nos esqueçamos que hoje 30% dos americanos (cerca de 107 milhões de pessoas) duvidam que 6 milhões de judeus tenham morrido no Holocausto, enquanto 3% da população dos Estados Unidos (cerca de 23 milhões de pessoas) acham que o leite achocolatado vem de vacas marrons, sem falar nos que insistem que a Terra seja plana.

Alguém poderia argumentar que grandes filmes fazem revisionismo histórico, como “Bastardos Inglórios” de Quentin Tarantino. A diferença é que, neste filme, o revisionismo histórico é o ponto de partida da narrativa e ele é apresentado ao espectador desde o lançamento. É uma sátira e é vendido como tal.

E outro apontamento importante sobre revisionismo histórico deve ser feito. Sempre vemos historiadores dizendo que a gente não pode julgar a escravidão com os valores de hoje. Não apenas podemos, como devemos. Mas vamos dar um salto em direção ao passado, mais especificamente à Idade Antiga.

Todo mundo que leu a Bíblia sabe por que aconteceu o Êxodo dos hebreus do Egito, certo? Os hebreus eram escravos dos egípcios e tratados com crueldade imensa, o que levou Deus a designar Moisés como seu libertador, certo? Considerando a  Bíblia como um código moral, não como um registro histórico, pode-se concluir que, pela moral do Velho Testamento, a escravidão já era algo intrinsecamente perverso e cruel.

Por que então, de repente, no fim da Idade Média e começo da Idade Moderna, essa prática se tornou algo moralmente aceito? Porque era uma atividade econômica lucrativa. Então essa lenda de que a escravidão acabou porque “o mundo evoluiu” é pura falácia. Se o mundo tivesse evoluído tanto, não teria incorrido em um erro que, segundo a Bíblia, foi punido com dez pragas. Portanto, podemos e devemos julgar a escravidão não apenas pelos valores de hoje, mas também pelos valores de antes de Cristo.

Quanto a “…E o Vento Levou”, não deixemos nossa memória afetiva confundir nosso julgamento. O filme não vai ser queimado em praça pública e merece, sim, ser visto por seus atributos artísticos. Mas a inserção do contexto histórico vai apenas enriquecer a experiência de assisti-lo, não pelo que acreditávamos que fosse, mas pelo que realmente é.

 

 

James Cimino é jornalista graduado pela Universidade Estadual de Londrina (PR). Mora nos EUA há cinco e escreve sobre filmes e séries paras diversos veículos de comunicação do Brasil, tendo entrevistado as personalidades mais emblemáticas do entretenimento mundial. No Facebook jamescimino, no Intagram @james_cimino e no Twitter @rei_da_selfie.

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Desigualdade

Barack Obama: “Como tornar este momento o ponto de virada para mudanças reais”

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Segunda-Feira dia 1 de junho de 2020 Barack Obama compartilha em seu Medium (Medium é uma plataforma de publicação online) um texto cujo título:

 

“How to Make this Moment the Turning Point for Real Change” 

 

 

 

Em tradução livre:

“Como tornar este momento o ponto de virada para mudanças reais”

 

“À medida que milhões de pessoas em todo o país saem às ruas e levantam suas vozes em resposta ao assassinato de George Floyd e ao problema contínuo de justiça desigual, muitas pessoas se perguntam como podemos sustentar o momento para provocar mudanças reais”


Barack Obama No Twitter

 

Após o discurso de Trump em Rose Garden na segunda-feira, BarackObama voltou ao Twitter, citando o irmão de George Floyd, que falou no início do dia em Minneapolis.

“Vamos fazer isso de outra maneira. Vamos parar de pensar que nossa   voz não importa e vota. Não apenas para o presidente … eduque-se e saiba em quem você está votando. E é assim que vamos atingi-los […] “

 

 

  Obama escreveu, anexando um clipe da NBC News do discurso de Terrence Floyd.

https://twitter.com/BarackObama/status/1267606608953192449?s=20

 

 

 

 

 

“Por fim, caberá a uma nova geração de ativistas moldar estratégias que melhor se ajustem aos tempos. Mas acredito que há algumas lições básicas a serem tiradas dos esforços passados ​​que merecem ser lembradas. […]

[…] Artistas e Ativistas como Kylie Jenner, Beyoncé, Madonna e  Lady Gaga, Dr Dre, Anitta, Snoop Dogg se manifestaram através do instagram, Chance the Rapper se manifestou na rua, Jordan, a marca do esportista Michael Jordan postou no seu instagram “faça parte da mudança. […]

[…] Primeiro, as ondas de protestos em todo o país representam uma frustração genuína e legítima ao longo de décadas de falha na reforma das práticas policiais e no sistema de justiça criminal mais amplo nos Estados Unidos. A esmagadora maioria dos participantes tem sido pacífica, corajosa, responsável e inspiradora. Eles merecem nosso respeito e apoio, não condenação – algo que a polícia de cidades como Camden e Flint compreendeu louvável.”Barack Obama no the Medium

 

 

 

O chefe de polícia do condado de Camden, Joe Wysocki, que trabalha na cidade há décadas, juntou-se à linha de frente de uma marcha em Camden na tarde de sábado, ostentando seu uniforme, uma máscara protetora e um sinal de paz. Wysocki em comunicado por e-mail à Associated Press, disse:

 

“Ontem foi outro exemplo de nosso compromisso contínuo e um diálogo muito real que estamos tendo com os moradores de Camden que tornaram nossa agência parte da estrutura desta cidade” […]

[…] Por outro lado, a pequena minoria de pessoas que recorreram à violência de várias formas, seja por raiva genuína ou por mero oportunismo, está colocando em risco pessoas inocentes, agravando a destruição de bairros que costumam ter poucos serviços e investimentos. e prejudicando a causa maior. Vi uma negra idosa sendo entrevistada hoje em prantos, porque o único supermercado do bairro havia sido destruído… o objetivo do protesto é aumentar a conscientização do público, destacar as injustiças e tornar desconfortáveis ​​os poderes… – e em uma democracia, que só acontece quando elegemos funcionários do governo que respondem às nossas demandas.

[…] Além disso, é importante entendermos quais níveis de governo têm maior impacto em nosso sistema de justiça criminal e nas práticas policiais…São prefeitos e executivos do condado que nomeiam a maioria dos chefes de polícia e negociam acordos coletivos com sindicatos policiais….Portanto, a questão é: se queremos trazer mudanças reais, a escolha não é entre protesto e política. Temos que fazer as duas coisas. Temos que nos mobilizar para aumentar a conscientização, e precisamos organizar e votar para garantir que elegemos candidatos que atuarão em reforma.”

 

 

Cardi B no seu Twitter fala a respeito das saques que ocorrem nos Estados Unidos em resposta a morte de George Floyd

 

“Eles saquearam em Minnesota e, por mais que eu não goste desse tipo de violência, é isso: marchas pacíficas demais, muitas hashtags de tendências e SEM SOLUÇÕES! As pessoas ficam sem escolha.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

https://twitter.com/iamcardib/status/1265831359425073153?s=20

 

Barack Obama:

 

“Por fim, quanto mais específicos pudermos exigir demandas por justiça criminal e reforma da polícia, mais difícil será para os funcionários eleitos oferecerem apenas elogios à causa e depois voltarem aos negóciosE se você estiver interessado em tomar medidas concretas, também criamos um site dedicado na Obama Foundation para agregar e direcionar você a recursos e organizações úteis que lutam pela boa luta nos níveis local e nacional há anos… Se, daqui para frente, pudermos canalizar nossa raiva justificável em ações pacíficas, sustentadas e efetivas, esse momento poderá ser um verdadeiro ponto de virada na longa jornada de nossa nação para cumprir nossos ideais mais elevados.”

Barack Obama se dirige também no seu Twitter no dia 29 de maio e publica sua declaração sobre a morte de George Floyd:

https://twitter.com/BarackObama/status/1266400635429310466?s=20

“Eu chorei quando vi o vídeo. Ele me quebrou. O’ joelho no pescoço ‘é uma metáfora de como o sistema detém tão negativamente os negros, ignorando os pedidos de ajuda”.

– Barack Obama

 

Seguindo o texto diz:

 

“Isso não deveria ser ‘normal’ na América de 2020”. Barack Obama

 


LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO EM:

 

Policial americano tortura e mata no meio da rua homem negro que estava algemado

Protestos se intensificam contra o assassinato de George Floyd

 

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#EleNão

A quem interessa ser profeta do caos?

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Por Jacqueline Muniz, Ana Paula Miranda e Rosiane Rodrigues
Imagens de autoria dos Jornalistas Livres, capturadas em protestos, no último final de semana, em São Paulo e na França
A advertência de não realização de manifestações políticas, fundada no medo e na promoção do pânico social, é um atentado à democracia, uma forma de extorsão de poderes, de dirigismo monopolista das pautas plurais e das reivindicações divergentes de sujeitos que são diversos em cor, classe, renda, gênero, orientação sexual, instrução, etc. A advertência sob a forma de ameaça produz paralisia decisória de lideranças, imobilismo social e lugares resignados de fala, que seguem aprisionados nas redes sociais, na política emoticon do “estamos juntos” até o próximo bloqueio, diante da comunhão de princípios com diferença de opiniões: “você deve ir ao shopping, mas não a passeata”.
A fabricação de conjecturas apocalípticas e suposições catastróficas com roupagem analítica é um recurso de persuasão de via única, impositiva, que aponta para um sentido hierárquico e, até mesmo autoritário, de quem se acha portador de uma verdade ‘revelada’ sobre os atos políticos e de uma razão superior sobre os fatos da política. A fala profética é uma fala moralista, ilusionista, que, por meio do uso da fé e do afeto, inocula nas pessoas uma culpa antecipada por suas escolhas para desqualificar seus arbítrios e fazê-las rebanho dependente de um guia despachante do juízo final. Este projeto de poder necessita fazer crer que o pessimismo visionário e proselitista é mais real que a própria realidade vivida e que deve fazer parte do cálculo das ovelhas boas e más, dos aliados e opositores de ocasião. A fala profética serve aos senhores da paz, da guerra e do mercado, sem distinção. É um jogo ardiloso do ganha ou ganha em qualquer circunstância ou resultado obtido.
A quem interessa ser o profeta do caos? Ao próprio profeta que, inventor do jogo do quanto pior melhor, sacrifica seus seguidores feito gado, gasta a tinta das representações com seu próprio manifesto e promove a tensão entre espadas para se manter como o grande  conselheiro conciliador.  
Os profetas do caos são como uma fênix que ressurgem da crise que criam. Eles se apresentam como proprietários das representações políticas, à direita ou à esquerda, em cima e embaixo. Eles se oferecem como mediadores dos conflitos que provocaram, como tradutores intérpretes na Torre de Babel que criaram entre nós.  A ameaça (do caos, da morte e do cerceamento da liberdade) não serve como advertência. Os profetas do caos produzem o medo, moeda de troca fundamental para a construção de milícias, para vender os seus remédios (previsíveis, amargos e inócuos). Para eles, não importa se os doentes morrem ou vivem, o que importa é que, doentes ou não, consumam suas previsões do passado.
É notório que as polícias no Brasil têm tradição em policiar eficazmente o entretenimento lucrativo dos blocos de carnaval, shows e aglomerações em campeonatos de futebol. Nesses casos, sua atuação se dá na manutenção do status quo dos públicos, constituída a partir das atividades de contenção e dispersão das multidões. Já para o controle de pessoas que ocupam o espaço público sob a forma de protestos de todos os matizes políticos, apesar de ser um fenômeno relativamente recente e não haver protocolos policiais escritos e validados, sabemos que esses eventos se tornam encenações, nas quais janelas são abertas para oportunistas de todas as ordens, para acertos de contas da polícia dos bens com a polícia do bem, incluindo os ‘caroneiros’ de manifestação que comparecem por motivos completamente alheios às pautas dos protestos.
Nesses espetáculos públicos que encenam os jogos da política aprendemos coisas muito básicas, sejamos nós manifestantes ou espectadores: sempre haverá a presença de agentes infiltrados (que ajudam na contenção) e de provocadores, para providenciar a dispersão. A infiltração de agentes de inteligência por dentro dos movimentos sociais remonta uma antiga estratégia estadunidense da década de 1960. Ou seja, muito antes do surgimento dos Black Bloc. Nos últimos 60 anos, acumulou-se um aprendizado sobre o uso do espaço
público relativo ao círculo do protesto (aglomeração, deslocamento,  ato de encerramento e dispersão) que permite que os movimentos saibam lidar com esses elementos internos. 
Neste mesmo período aprendemos, também, que o que torna legítimo um protesto não é a quantidade de indivíduos reunidos em um território específico por um período de tempo determinado, mas os modos de ocupação do espaço público e a construção coletiva de uma agenda política que os mobilize e tenha impacto na sociedade. A produção de dossiês intimidatórios, com a participação de agentes públicos, também não é novidade. Os constrangimentos da exposição de dados acabam por jogar na lama do “tribunal digital” os adversários, fortalecendo a promoção de linchamentos virtuais, de direita ou de esquerda.
O governo Bolsonaro não é o único que tem disseminado o medo para sabotar os mecanismos de cooperação e mobilização sociais, substituindo práticas de coesão por coerções e cruzadas moralistas vindas de cima, de baixo e ao redor. Discursos do medo contra ou a favor de Bolsonaro são péssimos conselheiros porque dão a #Elenão um tamanho e uma agilidade política irreal, retirando-o do isolamento político em que se encontra para nos fazer acreditar que, quando chegarmos às ruas, imediatamente um cabo e um soldado fecharão o Congresso, o STF e tirarão as emissoras e os portais de internet do ar. O medo transforma Bolsonaro num bicho papão, num monstro mítico incontrolável que atira hordas de zumbis (com cabelos tingidos de acaju) contra todos nós.
O medo disseminado faz com que as pessoas vejam gigantes onde há sombras e abram mão de seus direitos e garantias em favor de um ‘libertário do agora’ que prometa proteção. Mas o profeta-liberador de hoje será o seu tirano de amanhã!
O rigor científico não permite que nós, pesquisadores, determinemos como os movimentos sociais devem se comportar, nem que sejam pautados por oráculos que anunciam profecias que se autorrealizam. A contemporaneidade produziu os ativismos acadêmicos, mas eles não devem substituir jamais a liberdade dos sujeitos de decidir suas agendas, nem servir de chofer dos movimentos sociais em direção à “Terra sem Males”, um mundo idílico sem conflitos e, por sua vez, sem a política. A ciência pode contribuir com diagnósticos da realidade e oferecer alternativas que considerem, inclusive, que a negação dos conflitos monopoliza o debate e as representações, obscurecendo as negociações dos interesses em disputa. Quando a decisão científica está acima da pactuação social ela deixa de ser ciência e passa a ser doutrina, retira da sociedade a responsabilidade pelas escolhas que faz, para o bem e para o mal.
Ao  olharmos a história vemos que os discursos de “lei e ordem” são utilizados sempre a serviço dos interesses do Estado e seus grupos de poder. Viver sob o jugo da espada não é novidade para as pessoas para quem o isolamento social é uma prisão histórica dos direitos de cidadania, e não um privilégio de classes. A juventude, principalmente a negra, conhece de perto a violência policial, e sabe que nem em casa está protegida.
Sobre as autoras do texto: 
JACQUELINE MUNIZ,antropóloga, professora da UFF.
ANA PAULA MIRANDA, antropóloga, professora da UFF
ROSIANE RODRIGUES, antropóloga, pesquisadora do INEAC/UFF.

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