Por Orlando Silva(*)
Bolsonaro assumiu a presidência da República em meio a uma onda de euforia dos agentes econômicos. Pudera, sua candidatura foi o desaguadouro do apoio da banca financista e do grande empresariado nacional e internacional, ávidos pela imposição de uma nova ordem econômica, política e jurídica que enterrasse as conquistas e garantias expressas na Constituição de 1988.
Para a turma do bilhão, a vantagem adicional no apoio a Bolsonaro foi que, como a campanha eleitoral passou ao largo do debate programático, o candidato da extrema-direita não precisou firmar compromisso ou negar medidas que viria a tomar no governo. Representou, por assim dizer, um livro aberto para que o ultraliberalismo selvagem pudesse escrever suas páginas, sem quaisquer pruridos que mitigassem os reflexos antissociais de sua agenda. A hora e a vez do mercado puro sangue dar as cartas na economia.
Desde logo, os economistas ventríloquos de banqueiros se apressaram a cravar crescimento de 2,5% em 2019. Talvez mais, caso se privatizasse até o Palácio do Planalto, como disse Paulo Guedes, e todo o cardápio de reformas usurpadoras de direitos do povo fosse aprovado. Quem não se lembra das previsões edulcoradas – ou mentiras deslavadas – com a aprovação da Reforma da Previdência?
Pois bem, a dura realidade começa a se impor. Os números divulgados pelo IBGE sobre o PIB de 2019 – 1,1%, abaixo até mesmo do 1,3% de Michel Temer, em 2017 e 2018 – falam por si e jogam água no chope de quem comemorava uma “retomada vigorosa” da atividade econômica. Mesmo no último trimestre, quando há a alavancagem natural das festas de fim de ano, o avanço foi pífio: 0,5% frente ao anterior.
O miserê do pibinho foi tal que atingiu até a Agropecuária, com avanço módico de 1,3%, ladeada pelo setor de Serviços (1,3%) e pela semi-estagnada Indústria, que se arrastou a 0,5%. Registre-se que estamos tratando de crescimento medíocre e sobre uma base bastante depreciada, uma vez que o histórico recente do país é de um biênio de recessão (2015/2016) e outro de estagnação (2017/2018).
Outro dado que chama atenção no quadro desolador é que, no que diz respeito ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços sofreram queda de 2,5%, ao passo que as Importações de Bens e Serviços se ampliaram em 1,1%. Se a tendência se projetar para 2020, estaremos diante de uma situação tétrica, pois o dólar atingiu estratosféricos R$ 4,65, após altas sucessivas.
Os ilusionistas do Planalto iniciaram o ano projetando novamente crescimento superior a 2%, no que receberam o apoio cúmplice dos analistas da banca, viciados nas jogatinas da Bolsa e alheios à economia da vida real. Não se sabe com base em que são feitas tais projeções, já que um dos esportes preferidos dessa turma é revisar, para baixo, a estimativa de crescimento a cada boletim Focus.
Como pode voltar a crescer um país que virou pária internacional e que tem um presidente sem nenhuma credibilidade? Como voltar a crescer se o governo dobra a aposta numa receita recessiva insana? Quem fala não sou eu, deputado de oposição. Os números estão aí. O Brasil sofreu uma debandada de 44,7 bilhões de dólares em 2019 – os tais “investidores”, presume-se -, o pior resultado em 38 anos! Por outro lado, a taxa de investimento segue ao rés do chão, na base de 15,4% do PIB.
Bolsonaro e Paulo Guedes venderam ao povo que as reformas ultraliberais gerariam crescimento econômico e empregos. Nem um nem outro. O resultado é o desastre de 2019, que se projeta também para 2020, com os efeitos conhecidos de desemprego, subemprego, degradação do tecido social e ruína das contas públicas. Como bem afirmou Daniel Pereira de Andrade, professor de Sociologia da FGV, “para os neoliberais, se a economia não funciona como o previsto, não é porque seus modelos lógico-dedutivos não são capazes de explicar a realidade, mas, inversamente, é porque a realidade política e social está atrapalhando o funcionando idealmente previsto do mercado”.
Sem ter o que mostrar, Bolsonaro agora ocupa o centro do picadeiro para distribuir bananas e culpar o Corona vírus pelo baixo crescimento que já se antevê para este ano. Não! A verdadeira ameaça que paira sobre nossa economia é o vírus da incompetência, cujos sintomas estão evidentes no pibinho de 2019.
(*) Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP