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O dólar a 4 reais é o final dos tempos?

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Entenda o que significa a desvalorização do real atualmente em comparação com 1999, primeiro semestre do segundo mandato de FHC, em que o dólar chegou a 2 reais.

Toda vez que o dólar sobe, nos lembramos das vezes que o país quebrou. Não tínhamos dólares para pagar nossas dívidas, necessitávamos de importações e não existia saída além de decretar moratória ou nos ajoelhar diante do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sempre que isso acontecia, o FMI passava a ditar a política econômica em nossas terras. O FMI é um organismo internacional que empresta recursos aos países em dificuldade financeira e que é dirigido por representantes dos países desenvolvidos. Podemos, por isso, imaginar quais interesses esse organismo representa, não é mesmo?

Esse é o quadro hoje? Não, não é. Vamos ver o porquê.

O modo mais claro de conseguirmos entender a atual situação brasileira é compará-la com o que ocorreu em 1999, primeiro ano do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando o real sofreu uma desvalorização de 70%. A seguir, vamos analisar nossas reservas cambiais e nossa dívida externa nesses dois momentos para concluir se estamos em um período de maior ou menor gravidade.

Reservas cambiais

Reservas cambiais são os dólares, ouro e outras moedas que usamos para comprar produtos que necessitamos do exterior e para pagar nossas dívidas com outros países. Em abril de 1998, já era claro que a taxa de câmbio não se sustentaria, que era necessário desvalorizar o real, mas havia uma eleição presidencial no caminho. O país tinha quase 75 bilhões de dólares em reservas. O regime era de câmbio fixo, o que significa que o Banco Central (BC) era obrigado a vender dólares a uma taxa fixa. Mesmo que a demanda por dólares aumentasse, o BC mantinha a mesma taxa de câmbio. Dessa data até janeiro de 1999, o BC vendeu quase 40 bilhões de dólares a preços entre 1,15 e 1,21 reais por dólar.

Em janeiro de 1999, o dólar foi de 1,21 a 2 reais e as reservas caíram para 36 bilhões de dólares. Em outras palavras, o felizes compradores ganharam perto de 80 centavos de real sobre cada dólar dos 40 bilhões vendidos. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito e o país teve de recorrer, novamente, ao FMI para cumprir suas obrigações com os credores internacionais.

Ao ficar impossibilitado de continuar importando e pagando nossas dívidas, o receituário do FMI sempre implicava recessão econômica: menos rendas para todos, menos empregos, mais pobreza. Foi o que se seguiu à desvalorização de 1999 e à crise cambial.

Hoje, 2015, o regime é de câmbio flutuante, o que quer dizer que o BC não tem nenhuma obrigação de vender dólares ao preço que for. No regime de câmbio flutuante a moeda estrangeira varia mais, porém as reservas cambiais do país estão protegidas. Nossas reservas cambiais chegam, hoje, a 370 bilhões de dólares. O que nos dá uma segurança muito grande de que não corremos os mesmos riscos de 1999.

Devemos considerar que o BC oferece, há algum tempo, proteção às empresas endividadas em dólares, usando um instrumento chamado swap cambial. Oswap é uma modalidade de contrato que paga à empresa contratante um valor se o dólar subir e cobra dele se o dólar cair. É o instrumento ideal para a empresa que deve em dólares. Os swaps não afetam as reservas porque são pagos em reais e, mesmo que o dólar suba, não há perda de reservas pelo país. Além disso, o BC vendeu menos swaps (108 bi de dólares em julho) do que tem de reservas (370 bi de dólares).

Dívida externa

A dívida externa líquida era de 182 bilhões de dólares em 1999, hoje, segundo trimestre de 2015, é de menos 47 bilhões de dólares. Menos? É isso mesmo.

Hoje, nós temos mais reservas cambiais do que devemos aos credores internacionais. Nós que, tradicionalmente, éramos devedores do resto do mundo, hoje somos credores.

Vamos fazer uma conta aproximada? Se subtrairmos das reservas o total dosswaps e o total da dívida pública externa, o governo ainda tem um saldo de 120 bi de dólares. O que significa que a cada 10 centavos de desvalorização do real, o governo ganha 12 bi de reais. A desvalorização melhora as contas do governo. Assim como a inflação, mas esse é outro assunto.

O dólar abaixo de 2 reais é muito pior.

É preciso lembrar que vários países, a China é o exemplo mais contundente, fazem o possível para manter sua moeda desvalorizada. A razão é que quando a moeda é mais desvalorizada o produto do país fica mais barato no exterior, e, portanto, mais competitivo. Os EUA, que após 2008 inundou o mundo de dólares, fez sua moeda se desvalorizar e passou a fazer superávits comerciais, exportar mais do que importar.

Suponha que uma indústria brasileira precise vender o carro que produz a 20 mil reais. Suas principais despesas são em reais: salários, impostos, compras no mercado nacional e assim por diante. Se o dólar está cotado a 2 reais, o carro precisa ser vendido ao exterior por 10 mil dólares, certo?

Mas, e se o dólar for a 4 reais? Os custos de produção do carro quase não mudam, pois as maiores despesas continuam em reais. Mesmo assim, vamos supor que a empresa precise agora vender o carro por 24 mil reais. Isso significa 6 mil dólares. Ficamos muito mais competitivos só com a desvalorização.

Quando a cotação do dólar estava abaixo de 2 reais, e ficou muito tempo assim, toda a indústria reclamava que era impossível competir, especialmente com o produto chinês. Lembram-se?

Os dados acumulados, entre janeiro e agosto desse ano, revelam que exportamos 9% a mais em peso do que 2014. E recebemos 17% a menos em dólares. Exportamos mais e recebemos menos. Como assim? Bem, o preço internacional das nossas exportações caiu muito pela tibieza da economia mundial. Mas, de todo modo, o Brasil, com a desvalorização, já virou a balança comercial para o azul: voltamos a exportar mais do que importar. E a recuperação da economia brasileira pode vir do comércio exterior.

Conclusão

Percebemos, desse modo, que as desvalorizações do real que tivemos em 1999 e temos agora são de naturezas bastante diferentes. A de hoje encontra o país com muito mais reservas e menor dívida. Com uma posição mais segura do lado cambial será possível sair dessa crise com menos custos sociais, poderemos voltar a crescer mais brevemente e sem a ingerência de organismos internacionais.

*César Locatelli é economista e colaborador dos Jornalistas Livres

#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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Artigo

FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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