O massacre de servidores públicos do Paraná, nesta quarta-feira no Centro Cívico de Curitiba, em uma tentativa desesperada de o governador Beto Richa (PSDB) aprovar mudanças nos fundo de previdência do funcionalismo estadual, mostra muito mais que as cenas de barbárie.
Depois de um primeiro governo sem oposição e com a mídia estadual “adestrada” com grandes verbas publicitárias, Richa não teve dificuldades em se reeleger, em primeiro turno, para um segundo mandato. Mas, mesmo antes de ser empossado em sua segunda gestão, as contas públicas vazaram e o governo iniciou 2015 sem caixa. Nem mesmo aquela para manter a mídia como sua aliada.
E, na falta de oposição, foram homens de seu próprio staff que colocaram Richa nas cordas, qual um pugilista à beira do nocaute. Uma sucessão de escândalos, desde abuso sexual de meninas e adolescentes a corrupção na Receita Estadual, que balançaram as estruturas do palácio Iguaçu. E todos os escândalos levam a Richa.
Vale recordar esses escândalos: o assessor direto de Beto Richa, Marcelo Caramori, é preso em flagrante por abuso sexual de meninas em Londrina. Chello Caramori, que se intitulava fotógrafo oficial e amigo pessoal de Beto é exonerado. E isso só agrava o problema, pois Caramori vira “delator premiado”.
Logo caem novos envolvidos no esquema de prostituição de meninas e adolescentes. Entre eles, auditores da Receita Estadual. O esquema, investigado pelo Gaeco, é gigantesco e tem como líder Márcio Albuquerque de Lima e sua mulher. Ele, além de chefe geral de fiscalização da Receita Estadual tem um laço esportivo com Richa: são colegas de equipe em corridas de automobilismo.
As investigações do Gaeco de Londrina chegam ao primo de Richa, Luiz Abe Antoun, compadre e “mentor político” do governador. Para se ter uma ideia da importância de Luiz Abe, Avelino Vieira Neto, cunhado de Richa _é irmão de Fernanda Richa_ postou, nas redes sociais, em dezembro passado, que quem mandava “mesmo” no governo era o primo, não Richa.
As investigações do Gaeco mostram mais. Luiz Abe, o primo-forte como é conhecido no Paraná, comandaria um esquema maior de corrupção, em vários órgãos do governo, além da Receita Estadual.
Com as investigações a chegar perigosamente perto do Palácio Iguaçu, até mesmo a morte do repórter James Alberti, produtor da RPC (afiliada da Globo no PR) é tramada. Alberti está hoje fora do Estado. De novo, investigações mostram que a tentativa de atentado foi planejada dentro do governo.
Com um rombo nas contas públicas, obras paradas e a começar a sofrer críticas da mídia paranaense, antes tão cordial a ele, Richa só tem um caminho. Mandar uma pacotaço à Assembléia Legislativa para retirar R$ 8 bilhões do Paraná Previdência, dinheiro do fundo de previdência do funcionalismo estadual.
Contava o governador, para isso, com a base aliada sempre fiel ao seu governo. Só não esperava a reação do funcionalismo, especialmente professores da Rede Estadual de Ensino e professores das universidades estaduais.
Soma-se a esse quadro de desespero de Richa, a presença do delegado Fernando Francischini (PSDB) na Secretaria de Segurança Pública. Francischini, um aprendiz de Mussolini, conhecido por suas bravatas e destemperos, convocou PMs de todo o Estado, em um aparato repressivo-militar só visto na Ditadura Militar, para confrontar os manifestantes.
O resultado está aí. Um massacre do governo tucano-paranaense contra os servidores públicos. Ato semelhante só ocorrera no Paraná, em 1988, quando o então governador Álvaro Dias, também tucano, colocou a cavalaria contra professores em greve. A diferença é que hoje, Richa se esmerou em suplantar seu colega de partido e optou pelo massacre puro e simples dos seus oponentes, diga-se, desarmados.
#JornalistasLivres em defesa da democracia. Mais textos e fotos em facebook.com/jornalistaslivres