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O criminoso na Cracolândia é o Doria. Não é o nóia

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Por Paulo Faria, diretor da Cia Pessoal do Faroeste, especial para os Jornalistas Livres

“O criminoso na Cracolândia é o Doria. Não é o nóia.” Foi isso o que ouvi em coro quando cheguei à Cracolândia para ver e entender o que está acontecendo ali. São famílias pobres que pedem escola, habitação, segurança, limpeza e água, que Doria mandou tirar do Braços Abertos, para que os usuários não tenham água pra beber.

É vil demais.

Passei o final de semana fora e voltei ontem à noite. Após a manhã no Faroeste em reunião, fui em seguida até a Cracolândia. Presenciei mais uma cena inescrupulosa, criminosa e doentia do prefeito. Doria foi até a Rua Dino Bueno, na hora do almoço, acompanhado de uma caravana de bombeiros, polícia – com um caminhão cheio de cães farejadores. Em alguns momentos, os cachorros eram chutados pelos próprios policiais. Ah, havia ainda caminhões de construtoras.

Não sei se Doria foi vestido de bombeiro, ou de polícia americana, como ele foi no domingo. Mas estava com seu cabelo acaju, que teve ter pintado em NY, para onde viajou em companhia do deputado Rocha Loures, do PMDB-PR –aquele que recebeu a mala de R$ 500 mil da JBS, e foi afastado do Congresso Nacional.

Doria derrubou uma parede de um casarão histórico, acompanhado da Rede Globo, que não usa mais em seus equipamentos a logomarca da empresa, mas somente um jaleco azul em que se lê “imprensa”.

Quando ele foi filmado, inaugurando a quebradeira que iniciou, a escavadeira derrubou uma parede. Atrás dela, famílias de um cortiço, que moram ali há mais de 30 anos, receberam sobre suas cabeças, em sua morada, em sua cama, os entulhos. Logo, Doria foi escorraçado pela população. Encaminharam-se os seres humanos feridos para um hospital.

Quando cheguei, essa cena já tinha sido filmada e passada na Globo. Um ao vivo à custa de mortos. Estavam na rua a ouvidora, a defensoria, o conselho tutelar e militantes de direitos humanos. Havia rumores que ainda tinha gente no prédio que começou a ser demolido. Mas o corpo de bombeiro não permitiu que ninguém, nem a defensoria, nem a ouvidoria e nem o conselho tutelar, entrasse ali. Disse que não tinha ninguém, e que o prédio estava em risco de desabar.

Parte dos moradores queria entrar para tirar seus parcos pertences, que Doria chama de “lixo”. A mãe da rua Lucia Freire Moreau me levou pra ver o seu quarto num cortiço ao lado que também deve ser demolido. Ela queria me mostrar o painel que estava construindo. Entrei. Fiquei parado em lágrimas diante do que ela criou. Havia ali algo de religioso. Aquela obra deveria ser preservada e estar num museu de humanidades. Uma cartografia construída, um resumo dos seus 30 anos vivendo na Cracolândia. Imagens fortes e genialmente enredadas. Tudo ali. Tudo.

Ao sair de lá, vi que três casarões do inicio do século, que eram cortiços, foram incendiados pelo prefeito. Um art déco e dois neoclássicos. Todo o entorno do Largo Sagrado Coração de Jesus é histórico. Um dos poucos conjuntos arquitetônicos dessa época preservado. E é isso o que está por trás da ação que pretende comover a plateia bestial com a derrubada da cracolândia pra construir o projeto Nova Luz, seu e de todos os vampiros desta cidade, incluindo o governador não menos monstruoso, Geraldo Alckmin.

Doria não pode destruir aqueles prédios. É a história da cidade.

No domingo, a assessoria do prefeito, ligou pra Rede Globo, às 4 da manhã para informar que às 6h haveria a ação criminosa. E a Globo foi. A TV agora tem comunicação direta com o prefeito, pois assim ele fica na mídia nacional, pra alavancar seu nome à presidência do País.

Globo criminosa

Não à toa, Doria fez isso durante a Virada Cultural, pra ocupar mais o espaço na mídia. Perdeu e a decência e a dignidade.

Saio dali e vou até a praça Princesa Isabel, onde fica a estátua do Duque de Caxias. Bem no meio, vejo uma roda com 500 usuários. Em volta, muita polícia. Wellington, um morador do entorno, me fala que eles vão atacar os usuários a qualquer momento. A PM diz que ali concentram-se armas e traficantes. A polícia persiste com essa mentira para justificar os ataques. Wellington me fala que desde domingo todos estão em pânico. O comércio abre a meia porta e fecha antes das seis. E ninguém sai de casa depois.

Wellington já fez as compras para hoje e amanhã, pois não sabe o que vai acontecer, se ficará sitiado novamente em sua casa. Cada vez mais helicópteros sobrevoam a área e a avenida já está com trânsito parado. Vou andando até em casa e perguntando a todos o que acham. Pela primeira vez, ouvi de todos e todas, que o Doria é um louco, que essa ação foi desastrosa. A avaliação é compartilhada mesmo por pessoas que votaram nele. Ninguém quer uma Cracolândia aqui, mas todos querem ajudar a resolver a questão que é humana e de saúde. Nunca ouvi isso antes ali. Todos estavam contra o prefeito, que nunca foi à região antes e mandou a polícia pra cuidar dos doentes com bombas. Alguns eram seus eleitores arrependidos.

Doria é um criminoso, um fascista, e São Paulo não pode permitir que esse monstro continue à frente da cidade. A Câmara tem que fazer alguma coisa. O Ministério Público tem que fazer algo. A Defensoria tem que defender o povo. Ele está matando os munícipes da cidade. Seja quando ele volta com a velocidade alta nas marginais, o que aumentou o número de mortos em desastres e atropelamentos. Temos gravada na nossa retina a cena dele jogando a flor da gentil mulher que foi pedir em nome das vidas que se perderam.

Ao derrubar todo o nosso bairro, ele está matando os pobres que aqui vivem. Que tanto já sofreram. Excluídos dos direitos básicos garantidos na Constituição. Cinquenta milhões de brasileiros quase escolheram o Aécio Neves pra presidência. Não acreditando em todas as provas que o envolveram em roubos, tráfico de drogas e assassinatos. E agora, a maioria da cidade de São Paulo escolheu outro criminoso pra administrar essa cidade tão linda e tão acolhedora, com um povo deslumbrante, feito de todas as partes do mundo.

Eu clamo aqui pra que nos revoltemos com o prefeito e que peçamos a quem possa nos salvar que tire esse verme da prefeitura. Dória não pode seguir à frente da cidade. E nem seguir seu objetivo de chegar a presidência do Brasil.

São Paulo não pode permitir. A cidade é mais do que ele. Somos todos nós. O criminoso é o Doria, não é o nóia.

 

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1 Comment

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  1. Ronildo

    08/06/17 at 14:40

    Gostaria de dizer que sou morador da região da cracolândia e não concordo totalmente com a opinião expressa pelo autor do texto acima. Acho equivocado polarizar o problema de décadas de anos em somente dois lados, prefeito e nóia. Em nenhum momento o autor cita um dos principais causadores deste problema, o traficante. Também discordo da ideia de que todos os moradores da região foram contra a ação na cracolândia. Tem muitos a favor. Porém quero ressaltar que, como morador da região e cidadão de bem, acho que a cracolândia tem que ter um fim sim. Se somarmos força poderemos acabar com este mal. Cada um faça a sua parte de acordo com a sua formação e consciência. Todos podemos ajudar, e cito como exemplo, o seguinte texto que vocês podem ler em: http://noticias.r7.com/sao-paulo/carioca-encontrado-por-amigos-de-infancia-na-cracolandia-de-sp-morre-em-clinica-08062017

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Cracolândia: Guarda Municipal joga bomba na fila para pegar comida

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TRETA NA CRACOLANDIA, EM SP.

A Guarda Civil Metropolitana atacou com bombas uma fila de pessoas que aguardava a distribuição de marmitas, por um grupo de voluntários na Cracolândia hoje (23/4).

Depois de fecharem todos os equipamentos de atendimento à população vulnerável na região, Covas e Doria aumentaram a repressão policial na Luz. A ordem é matar de fome, de sede e de doença.

Imagens feitas pelo Irmão do Pão

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Arte

Poesia: Angústia da certeza

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Poesia: Fábio Rodrigues

Esta poesia que dá luz a realidade da população em situação de rua, é de Fábio Rodrigues (@prazer.poeta) – poeta e morador do território da Cracolândia.

Fábio decidiu viver de sua poesia, – poesia de rua, do fluxo. E agora, em tempos de pandemia, vê-se em quarentena a força criadora da poesia. Sem poder transitar e manguear, sua sobrevivência está em xeque.

O poeta necessita do apoio de corações carinhosos para que possa continuar ajudando, escrevendo e sobrevivendo em meio ao caos.

“Qual a saída para o poeta

que prioritariamente se apoia no comunicar,

se o momento pede distância –

até pelo simples ato de falar.

E o mais urgente premente,

onde poder recluso ficar,

se esse mesmo poeta,

por sinal mambembe

não dispõe do advento de um lar”

Ajude Fábio na caminhada, por mais poesia e informação nas ruas.
Qualquer quantia é válida!

Conta:
Pedro Bernardino Martine S
Bradesco: 237
Agência: 1236
C/c: 4603-5
CPF: 391.666.828/51

Texto: @prazer.poeta
Vídeo: @gustavoluizon, @_pedrosanti, @tarikelzein
Áudio: @606gama606

Fábio Rodrigues

Fábio Rodrigues

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Assistência Social

Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

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Gentrificação: tangidos como animais, povo pobre que vive na Cracolândia foi enviado para a Várzea do Glicério - Foto de Lina Marinelli

Por Laura Capriglione e Katia Passos

 

A Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, desfechou hoje mais uma ação com o propósito de “limpar” a região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack. Assim, cerca de 160 seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos, foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. Outras 50 pessoas preferiram ir a pé, seguindo para o mesmo endereço dos primeiros: Rua Prefeito Passos, 25, em um dos bairros mais degradados da cidade, região de cortiços, alta concentração de moradores de rua, de imigrantes e refugiados. O Glicério fica a dois quilômetros de distância da atual Cracolândia.

 

Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O atual governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma delas e que ficaram feridas. Covas aproveita-se do fato de todos estarem focados na pandemia de Covid-19 para tentar mais uma vez.

Chama-se “gentrificação” o processo de transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes. A idéia é expulsar a população de baixa renda e substituí-la por moradores de camadas mais ricas. É isso o que está em curso no centro de São Paulo: Gen-tri-fi-ca-ção.

Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje

Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje – Foto de Lina Marinelli

Para acabar de uma vez com a Cracolândia, a idéia dos “geniais” urbanistas que trabalham para a Prefeitura foi simples: retiraram de lá o único equipamento ainda existente para acolhimento, higiene, alimentação e encaminhamento médico para dependentes químicos vivendo em situação de rua no centro da cidade. Era chamado de Atende-2, e ficava na rua Helvétia, epicentro dos usuários de crack.

Crueldade das crueldades, fecharam o Atende-2, que atendia 185 pessoas, e fizeram isso em plena pandemia de Covid-19. Nem uma pia restou para lavar as mãos naquele pedaço. Segundo a Prefeitura, o mesmo serviço que era feito pelo Atende-2 será oferecido na Baixada do Glicério, agora rebatizado de Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).

Resta saber se o tráfico de drogas, que acontece hoje nas barbas das polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Metropolitana e do Corpo de Bombeiros, todos com bases no território da Cracolândia, topará também migrar seu negócio milionário para o Glicério. Se não topar, se continuar havendo oferta de drogas baratas nas ruas da Cracolândia, o fluxo de usuários certamente voltará para lá –agora, sem banho, sem lugar para dormir, sem pia, sem médicos. E isso em plena pandemia, quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Será morticínio certo.

Se o tráfico topar mudar o rolê para o Glicério, haverá alguma chance de que se torne realidade o sonho tucano de restaurar um pouco que seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território onde hoje se situa a Cracolândia.

Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois, “limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como “vencedores”.

A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes. Só terão mudado de endereço. Em vez do Centro, a várzea invisível. Mais do que Doria e Covas gostariam de admitir, o futuro do território onde está a Cracolândia depende muito mais do tráfico de drogas do que do poder público. E é o tráfico o próximo a jogar os dados…

EM TEMPO:

Quando essa reportagem estava concluída, a juíza Celina Kiyomi Toyoshima decidiu liminarmente impedir o fechamento da unidade Atende-2, situada na rua Helvétia. Ela determinou o restabelecimento das atividades na unidade fechada. A Prefeitura ainda pode pedir a revisão dessa decisão.

Aqui a decisão da juíza:

“Tendo em vista que o estabelecimento em questão é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis, e tendo em vista o perigo da demora, já que a medida está prevista para a data de hoje, defiro por ora a liminar, para que não sejam tomadas quaisquer medidas visando o fechamento da unidade ATENDE, localizado na Rua Helvétia, nº 57.
Caso já tenha se iniciado o fechamento, as atividades deverão ser, por ora, reestabelecidas.
Oficie-se.
Após a vinda da contestação, a medida poderá ser revista.”

 

Leia também:

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