A MORTE DO RIO

O rio secou, ai dor, não dá mais bossa ou viola de cocho a água que passava aqui. As maracas não tocam mais. Ai, a água sumiu, pranto seco não lava pratos e panelas. Não enche nem cacimba a água. Praia sem fim se faz no Tocantins, areia fina, branquinha.

Eu nadara com os índios Javaé tantas vezes, na Ilha do Bananal, tanta água limpava a tristeza da gente. Agora água não vence a areia, secou o céu para que o espanto da terra mostre sua força de sede e fome, tudo desconsola, nem a criançada tem mais onde pular. Peixe também não pula mais.

O que era rio agora é chão que não se navega ou se banha. O rio, cadê o rio que tava aqui? Índios Javaé se perguntam. Jacaré não ameaça mais, nem piranha, nem ariranha, nem boto passeia, nem tartaruga grande se come mais no fogo de beira d’agua.

Rio Javaés finda, faz do leito sua cova.

Carcaças de jacarés estão às margens da Ilha do Bananal, ilha fluvial definida pelos rios Araguaia e Javaés. Fotografia Cassiano Rolim©

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