Massacre sem fim

Foto: Gabriel Bicho / Mídia NINJA

Lançada nesta terça-feira (11) a plataforma Cartografia dos Ataques Contra o Povo Indígena (CACI) registrou 60 assassinatos de indígenas, entre 1985 e 2015, no Amazonas. O projeto foi desenvolvido pela Fundação Rosa Luxemburgo, em parceria com Armazém Memória e InfoAmazonia.

No mapeamento, destaca-se o massacre de 14 indígenas no Vale do Javari, terra indígena regulamentada e localizada no sudoeste do Amazonas, que abrange os municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Jutaí e São Paulo de Olivença e ocupada pelos povos Kulina Páno, Matis e Matses. De acordo com o estudo, 13 das vítimas (entre adultos, adolescentes e crianças) foram assassinadas na mesma ocasião, em 1989. Relato de um sobrevivente dá conta de que as crianças brincavam na área da aldeia quando os acusados, um madeireiro e 20 homens a ele subordinados, começaram a atirar. Aos indígenas só restou correr.

Em 1993, na terra indígena Kulina do Médio Juruá – municípios de Eirunepé, Ipixuna, Envira (AM) e Tarauacá (AC) –, Saulo de Souza Cunha foi assassinado por enforcamento como resultado de uma vingança. José Thomé foi morto a pauladas, em 1996, na área do Caititu, no município de Lábrea, no sul do estado. Ainda foi aberto um inquérito policial para apurar o caso, mas a investigação não foi adiante por falta de provas. Em ambos os casos, o acusado é não indígena.

Dos casos mais recentes, uma adolescente Tikuna, de identidade desconhecida, estuprada e espancada até a morte, em 2014, na terra indígena Évare I, município de São Paulo de Olivença. Um dos acusados foi preso.

Estes e outras centenas de casos foram registrados nos relatórios A violência contra os povos indígenas no Brasil, 1994 e 1996 e entre 2003 e 2015, elaborados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e Conflitos no Campo, publicados entre 1985 e 2015, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), utilizados como base do projeto.

Foto: Andrés Pascal.

“Não é um levantamento completo. Infelizmente, o número de assassinatos no período é muito maior do que os registrados pelas duas organizações. Mas trata-se de uma base sólida que, por si só, é um registro histórico que pode servir como ponto de partida para pesquisas e análises aprofundadas”, explica Daniel Santini, coordenador de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, no texto de apresentação da plataforma.

De acordo com Santini, “é a primeira vez que as informações foram sistematizadas e georreferenciadas em uma visualização que permite olhar os casos em sua dimensão territorial”. A plataforma mapeou e sistematizou dados de 947 casos em todo o Brasil e se apresenta como um “primeiro passo em uma tentativa de mobilizar um grupo de atores para reunir, sistematizar e visibilizar informações sobre assassinatos de indígenas, tema que nem sempre ganha a atenção que merece”, enfatiza.

Num país que massacra os indígenas, o registro e a divulgação de casos como estes é crucial para manter viva a luta por dias melhores e mais justos com nossos povos nativos e não se deixar esquecer apesar da “dor”, representada em Guarany pela palavra Caci.

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