Cerca de 800 militantes de entidades e movimentos antimanicomiais protestaram ontem (14/1) em Brasília contra a nomeação do novo Coordenador de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, o psiquiatra Valencius Wurch.
Os manifestantes se concentraram na sede do Ministério da Saúde (MS) e depois seguiram em cortejo com muito frevo, batuque e cantorias até o Edifício Premium, onde Valencius poderá vir a efetivamente trabalhar caso consiga reverter o quadro de negação de funcionários, pacientes e até familiares de pacientes ao seu nome.
Na prática esta parece ser uma realidade distante. Para tentar impedir que o psiquiatra tomasse posse, o que acabou acontecendo só na semana passada – mais de um mês depois da exoneração do antigo Coordenador – militantes da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila) e do Movimento Pró-Saúde Mental do Distrito Federal ocuparam a Coordenadoria.
No final da tarde de quarta (13), quando a ocupação completou 30 dias, o acampamento que estava concentrado em uma sala, resistindo desde as festas de fim de ano, tomou mais uma das três em que funciona a coordenação.
“O que motivou (o crescimento da ocupação) foi a chegada de um ônibus de Pernambuco. Todas as áreas do edifício ficaram impedidas de trabalhar por determinação do Ministro com a justificativa de segurança”, explicou uma funcionária do Ministério da Saúde. Depois que Valencius saiu pela porta dos fundos para não encarar os manifestantes o fechamento do prédio foi cancelado.
Desde que o psiquiatra foi anunciado pelo Ministro da Saúde, Marcelo Castro, há resistência dos profissionais e pessoas atendidas pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que alegam que Valencius tem posições contrarias a política nacional de saúde mental sustentada pelos governos Lula e Dilma até 2016.
Segundo a pesquisadora do Observatório Nacional de Pesquisa Mental e militante da Renila, Alyne Alvarez, 19 ônibus de diversos estados se concentraram ontem em Brasília. “Amanhã o grupo de articulação política que construímos esta semana deverá produzir um documento que pretendemos entregar na Secretaria Geral da Presidência”, explicou.
O ex-Coordenador de Saúde Mental do MS, Roberto Tykanori, um dos profissionais mais reconhecidos quando se fala em tratamento de saúde mental fora de manicômios, exonerado em dezembro, conversou com os Jornalistas Livres na última sexta-feira (08). Segundo ele, “não há mais como voltar a trabalhar com o atual Ministro, mas a hora é de apoiar o movimento”.
Tykanori replicou em sua página no Facebook a matéria da Folha de S.Paulo sobre a “gafe” do Ministro da Saúde ao falar com jornalistas das pesquisas para a vacina do zika vírus. “Nós vamos dar (a vacina) para as pessoas em período fértil. E vamos torcer para que as pessoas antes de entrar no período fértil peguem o zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina”, declarou Marcelo Castro.
A fala do ministro foi repercutida em diversos veículos, como O Globo e a Folha de São Paulo, como uma piada, mas na verdade demonstra um enorme desconhecimento sobre o tema. A exposição ao mosquito da dengue uma única vez pode trazer riscos enormes. Não estamos no momento de brincar com esse tema. No Brasil, bebês de 724 municípios podem ter sido acometidos de microcefalia por causa do vírus zika. São mais de 3.500 recém-nascidos que ainda não tiveram o diagnóstico confirmado por exames.
Saiba mais sobre a questão em: https://jornalistaslivres.org/2015/12/diretor-de-manicomio-desumano-e-premiado-com-a-coordenacao-de-saude-mental-do-pais/
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