GENTE SE APRENDE FUNDINDO

Mãos dadas são apenas mãos em encontro, nem sempre alegam de fato a margem do meio. Há gestos que ocultam opostas intenções, mas convergimos em atenção e intenção. Na terceira margem do Brasil, entidade de tristes palavras, abrem-se clareiras nos últimos dias do ano.

 

Josés correm atrás, pois a eles só resta descobrir como será.  E agora, José? No campo a copaíba soltou seu óleo e o cheiro envolve os reis locais. É chegada a hora. Coisas de cocho e honrarias, casernas, refúgio de quintais, granjas e quintas. É um caldo só, há temperos de quem não presta, grandes gênios, líderes em funil e líderes no broto da planta, refugiados. Outros em ovos chocam-se. É serpente, é jararaca, é carcará, dúvida cruel. 

Duendes abrigam-se das botinas e grandes saltos, pneus de Urutu e tais. Tudo é história, nobre situação na diversidade de estilos. Coração de multidões, bocas banguelas ou cheias de implantes, dentadura que sai dos beiços em tanta ansiedade. Me dá uma preguiça, penso em suspender os serviços da modernidade; internet, o cabo da tv. Até em cortar o cabo da luz ensaio, retirar o botijão de gás, pisar no chip. 

 

De nada me liberto. Além de meu breve muro e o frágil portão no corredor de saída, fácil aos beija flores, me castigo nas evidências do caos. E tudo segue. Pouco sabemos o que são os vestígios da civilização sob nossos pés. O futuro nos surpreende, incerto, tão desacostumados somos em assumir aterros, faltas, pecados e nódoas em nossa história. Antigos profetas nos alertaram, outros indicam falsas escolhas, enganos. Foram tantos os golpes em nosso despertar de povo, que sorrimos banguelas de nós mesmos, mas caboclo duro é assim, não arreda pé e dança seu forró entre lamentos.

Em meus percursos sempre guardei pedaços de papel, desenhos antigos, vestígios de civilização. Onde há gente pisando em cantos, qualquer buraco remoto, solidão de alma sei, é meu país. Onde há gente, há nação, mesmo que o Estado não se revele abrigo transparente, ausente a todo dedo longo de mercado ou benefícios. Mas é gente, tem mesmo berço.

 

Mandaram o vermelho para Cuba, mas ele invade, deletando incêndios, fogueira de vaidades, alvoroço entre as bestas, nossa acupuntura latina. Entre banqueiros, garçons e poetas a única diferença é acreditar em discos voadores ou solicitar as devidas porcentagens. É como entre sabiás, bem-te-vis ou urubus, cada qual com seu interesse e quinhão. Entre instinto, destino e vontade existe um grande labirinto. Ideologia é assunto de letrados. Para os que disputam sobras de felicidade, pega-se a melhor oferta.

 

Toda verdade há  de ser fotografada, além de ti, de mim, na mais viva tocaia dos engodos. Nada escapa à história, não duvide, nem da fotografia. Dos fotógrafos depende  estar no lugar e hora certos, e com a máquina na mão ou nos bolsos. O que é a fotografia senão um não querer chorar sozinho? Amar, verbo escasso em 2018, teve também suas entranhas reveladas, uma caçada às bruxas. Fotógrafos ameaçam algumas, guardando tantas outras multidões. Objetivas são armas que carrega-se sob unha afiada; arranham em profundo apego.

 

 

 

Viva a fotografia e o fotojornalismo, valente atitude entre a cegueira em metástase. Teu crime é tua intenção, absinto ou parto.

 

 

*recortes de imagens de MARK RIGHTMIRE, FRANCISCO PRONER, RAYSA CAMPOS LEITE, GO NAKAMURA. Detalhe de capa KOREA SUMMIT PRESS POOL. Fotografias por Helio Carlos Mello.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. EFEITO BOLSONARO

    Já são 54 anos desde o golpe militar que tirou do poder o presidente eleito João Goulart. Este golpe, que os militares insistem em chamar de revolução, teve o apoio massivo da classe média, dos partidos de direita, da grande imprensa e de parte da igreja católica, e obviamente, dos militares que achavam que o governo de João Goulart seria um governo de comunista. Vinte anos depois os militares voltaram para os quarteis e, enfim, foi restabelecida a democracia com a volta das “Diretas Já”.
    Depois de seis eleições consecutivas, estamos ás portas da sétima eleições e o burburinho da volta da ditadura começa a rondar sorrateiramente como se isso fosse possível e necessário. Não é.
    Entretanto, infelizmente, depois de 34 anos de democratização em nosso país, por causa de governos e empresários corruptos e ladrões, nossa jovem democracia volta a ser ameaçada e volta dos militares sempre é cogitada. Ano passado o general Antonio Hamilton Martins Mourão(PRTB-RS) disse “que companheiros do alto comando do Exército” entendem que uma intervenção militar poderia ser adotado se o judiciário “não solucionasse o problema político” e que o Exército teria planejamentos muito bem feitos sobre o assunto”, (ele se referia á corrupção).
    A pretensa ameaça do general Mourão era um recado ao judiciário caso este votasse pela soltura de Luis Inácio Lula da Silva(PT-SP). Se isto acontecesse Lula deixaria de ser ficha suja, ficaria elegível e era possível que viesse a ganhar eleição ainda no primeiro turno. Como sabemos o judiciário entendeu o recado, Lula continuou preso e se tornou ficha suja, não podendo com isso concorrer ás eleições, deixando o caminho livre para Fernando Haddad ser o candidato do PT. Seu nome só foi confirmado quando faltavam 15min para o encerramento do prazo legal.
    Como a vitória de Jair Bolsonaro, eis que começam as especulações sobre quem comporia os ministérios. E como é de costume nomes pipocaram por toda imprensa até que estes foram sendo divulgados, à conta gotas, pelas redes sociais como é do feitio do presidente eleito. Interessante é que os indicados fogem do padrão, ou melhor, de como sempre foram escolhidos os ministeriáveis, e Bolsonaro cumpriu regiamente o que tinha dito em campanha e não adotou o toma lá dá cá para compor sua equipe, deixando os partidos tradicionais de fora desta composição principalmente o MDB, partido baba ovo de quem sempre está no poder, e que desta vez só ficou com um ministério da Cidadania para Osmar Terra(MDB-RS).
    Infelizmente Jair Bolsonaro militarizou seu governo, compondo seu ministério com sete ministros militares e estranhamente os partidos políticos, a imprensa, a sociedade organizada e suas entidades de classes, sindicais, movimentos sociais, igreja e a estupefata oposição até então não se posicionaram. Todos parecem ainda atordoados com a retumbante derrota nas urnas para um candidato que até o mês de setembro era tido apenas como mais um aventureiro.
    Para Jair Bolsonaro a disputa presidencial se deu exatamente como numa corrida de maratonistas, dessas que acontecem todos os anos, onde os corredores são divididos por grupos: na frente vai o primeiro pelotão, que são os mais cotados para ganhar a corrida; depois o segundo pelotão e em seguida o terceiro pelotão que é onde está concentrada uma multidão que mal sabe se chegará ao final da corrida. No primeiro pelotão da corrida presidencial havia um monte de medalhões já se achando presidente, com discursos e práticas repetitivas e viciadas fazendo as mesmas concessões, conchavos e alianças nefastas para chegar a qualquer custo à frente da corrida presidencial, mostrando que não aprenderam nada com o tempo e com as manifestações populares que começaram em junho de 2013 por causa de um aumento de passagem de ônibus, dando origem a outras manifestações que clamavam por outras demandas reprimidas da sociedade, e que se multiplicaram profusamente em todas as grandes cidades brasileira com o povo indo para as ruas gritar contra as impunidades, contra corrupções, contra o toma lá dá cá, contra a conivência, omissão e morosidade da justiça; contra o envolvimento de políticos em quase todos os escândalos de corrupções denunciados pelo ministério público e delações premiadas.
    Enfim, a população deu seu grito de guerra e disse “Chega”, gritou “Fora Lula”; “Fora Dilma Rousseff”; “Fora Temer” e os gritos ecoaram por todo País até o pedido e julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mais as prisões de alguns barões da política brasileira como o presidente do congresso Dep. Eduardo Cunha(PMDB-RJ); governador Sérgio Cabral(PMDB-RJ); José Dirceu(PT-SP); Marcelo Odebrecht, dono do grupo Odebrecht, dos ex-ministros Antonio Palloci(PT-SP) e Geddel Vieira Lima(MDB-BA), pego com cerca de 51 milhões de reais dentro de um apartamento em uma área nobre do bairro de Salvador(dizem as más línguas que este dinheiro era pra bancar campanha oposicionista ao governo da Bahia) e por fim a prisão do chefe maior da quadrilha, Luis Inácio Lula da Silva.
    Mesmo diante deste grande movimento social que não tinha à frente partidos, nem sindicatos ou movimentos estudantil e social é que emerge de trás da multidão, saindo do terceiro pelotão, a figura emblemática e criticada por aqueles que sempre mamaram nas tetas do Estado, o deputado e candidato presidencial Jair Bolsonaro. Sem nenhum apoio partidário ou de políticos tradicionais; nem dos segmentos artísticos, intelectuais, da imprensa, dos analistas políticos e econômicos metidos a sábios que acham que sabem tudo da área econômica; Bolsonaro segue avançando nas pesquisas e se aproximando do pelotão da frente enquanto seus concorrentes, que esbanjavam soberba o tempo todo, não se apercebiam de sua aproximação. Era como se nada de anormal estivesse acontecendo no desenho eleitoral.
    Essa turma, além de alienada e desligada do que voz rouca das ruas grita, simplesmente seguiram fazendo coligações entre compadrios sem combinar com os leitores se era isso o que eles queriam: fazer a velha política. Eles não perguntaram nadica de nada ao eleitor. Simplesmente fecharam os olhos e se negaram a enxergar o que estava acontecendo nas ruas. Enquanto isso Bolsonaro aproveitava para botar o pé na estrada e caminhou pelas grandes e pequenas cidades do País; pelos aeroportos, praças, ruas, igrejas e foi conversar com o povo que queria ouvir o que ele tinha a dizer, o que ele tinha a propor e ele disse o que o povo queria ouvir (ainda que não concorde com tudo que ele dizia e diz), e deixou o povo eufórico, assanhado. Afinal o povo estava cansado de tudo que estava acontecendo no País e o sentimento era de mudança.
    Efetivamente o povo estava cansado dos desmandos, da corrupção correndo solta; de ver dinheiro da corrupção circulando das formas mais bizarras de dentro de cuecas, dentro de apartamentos, malas de carros e em aeroportos; em pizzaria e helicópteros e para financiamentos de ONGs, MST, CUT, UNE, músicos, atores e atrizes e os partidos políticos como se tudo fosse algo normal, não era. O povo também estava cansado de ver o dinheiro público financiar países estrangeiros, com dinheiro do BNDES, governados por ditadores sanguinários empunhando bandeiras socialistas e ou comunistas. Estava na hora de acabar com esta festa com o dinheiro público e com esse sistema viciado que estava tirando dinheiro do bolso dos brasileiros e enchendo os bolsos de maia dúzia de apaniguados políticos e empresários salafrários que mamavam nas tetas do Estado.
    Atentos aos anseios do povo Bolsonaro dá um Sprint nas pesquisas e se aproxima do pelotão da frente onde estavam seus concorrentes que, assustados e perplexos, tentam uma reação disseminando ódios sobre ele, taxando-o de extremista, fascista, ditador e outras coisitas mais, até um atentado contra sua vida tentaram, tudo em vão. O povo já havia decidido quem seria o homem a ser eleito para o exercício de 2019, enquanto de dentro da prisão Lula, que teve tudo para fazer uma grande revolução e se eternizar como um grande líder do bem pelo País, também via assustado à aproximação de Bolsonaro à frente do primeiro pelotão e o desespero tomava conta dele e de sua turma do PT, PCdoB e PSOL. Enfim, a confusão estava formada.
    Como candidato “azarão” Jair Bolsonaro ganha à eleição sem nenhum plano claro de governo, mas mantendo seu discurso que chegou a virar uma mantra: que vai combater a violência, a corrupção e a velha política que se implantou ao longo de décadas e se apoderou das estatais, instituições o órgãos públicos para assaltar seus cofres como se tudo lhes pertencessem.
    Como ele não tinha planejamento era de se imaginar que ele também não tinha nomes técnicos ou políticos para formação ministerial, a prova disso é que quando se lançou candidato nem um nome pra vice ele tinha, só alguns nomes cogitados e que se recusaram a marchar com ele como a advogada Janaina Paschoal, o senador Magno Malta(PR-ES), que agora esta sendo punido por Bolsonaro(não sabemos bem porque e só o tempo para dizer o que aconteceu entre eles) ao dizer que “dar ministério a Magno não é adequado no momento”(Estadão 05/12/2-18); também cogitou-se o nome do astronauta Marcos Pontes e o de Luiz Philippe Orleans e Bragança. Entre todos estes candidatos surgiu inesperadamente o nome do general Hamilton Mourão, a quem ele se referiu “ter pouco conhecimento”, ou seja, ele não o conhecia muito bem e não era sua primeira opção. A forma como fez deferência a Mourão era uma prova que o general não foi convidado por ele e que talvez tal indicação ou imposição tenha sido feita por um grupo militar. Não sabemos exatamente como isso se deu. Esta pode ser uma segunda incógnita que também só o tempo dirá como essa indicação se deu.
    Para nossa surpresa o general Mourão começou a chamar atenção para si quando fez declarações paralelas aos do candidato capitão Jair Bolsonaro durante a campanha quando chamou o 13º salário de “jabuticaba brasileira”. Num segundo momento quando disse que as mazelas brasileiras eram “indolência dos índios” e à “malandragem dos negros” e a orgulhar-se do “branqueamento das raças”. Radicalizou mais seu discurso preconceituoso quando chamou as famílias sem homens, comandas por mães e avós, de “fabricas de desajustados”.
    Tais declarações estapafúrdias causou um mal estar na campanha que Bolsonaro foi obrigado a se posicionar e chamá-lo a atenção dizendo que no quartel Mourão era o general e ele capitão, mas que naquele momento ele era o candidato a presidente (tipo sou eu quem manda) e que tais comentários eram desnecessários, que deixasse os comentários para ele. Paulo Guedes, candidato à ministro da economia, foi outro que teve que ser contido quando tentou se envolver em assuntos políticos e Bolsonaro também teve que chamá-lo a atenção. Ali começaram as primeiras divergências. Era só o começo.
    No início do mês de dezembro um escândalo envolvendo um de seus filhos, Senador eleito Flávio Bolsonaro(PSL-RJ), onde foram encontradas estranhas movimentações de R$ 1.2 milhão por parte de Fabricio de Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro. Este mesmo ex-assessor depositou R$ 24 mil na conta da primeira dama Michelle, esposa de Jair Bolsonaro. Depois o Coaf fez outra revelação onde depósitos na conta de Queiroz em datas coincidentes com os pagamentos de salários na Assembleia Legislativa do Rio, o que lembra os chamados mensalinhos do PT. Esta é uma prática da velha política e que é disseminada pelo País a fora, inclusive entre os partidos de esquerda.
    Como funciona, servidores devolvem parte do salário recebido para o político que o contratou, caracterizando uma extorsão, prática muito parecida com que o governo cubano faz com os médicos contratados para o programa “Mais Médicos”. Prática tão contestada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro.
    Como bem podemos observar o presidente eleito também faz mais do mesmo quando condenou o que chamou de acordos ideológicos de esquerda feitos pelo PT e faz o mesmo quando tenta chamar atenção(nome disso é puxar o saco) do presidente Donald Trump (EUA) dizendo que vai transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, em Israel, e mais recentemente desfaz os convites para sua posse aos países da Venezuela e Cuba, esquecendo-se de fazer o mesmo com países antidemocráticos como China, Hungria, Guiné Equatorial, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Nicarágua e outros.
    Tomara que o efeito Bolsonaro não seja mais um engodo para aqueles que acreditaram nele, quer sejam seus adeptos ou apenas os que deram o voto ante Lula, e que ele consiga fazer um governo diferente dos adeptos da velha política; sem o toma lá dá cá e do fisiologismo que sempre caracterizaram a forma de fazer política em nosso País. Também não cabe mais aceitar erros de aliados políticos e, principalmente de seus filhos que parecem prontos para jogar merda no ventilador. Ou seu governo faz o dever de casa e bem feito e passa a punir seus apaniguados quando estes pisarem na bola, mesmos que estes sejam seus filhos ou, caso contrário, seu governo estará fadado ao fracasso e o povo que o elegeu, sentindo-se enganado, irá para as ruas gritar “Fora Bolsonaro”. Se isto acontecer a partir daí é que saberemos por que de tantos militares ocupando cargos nos ministérios. Talvez esta seja uma articulada manobra para um possível plano B caso o governo de Jair Bolsonaro naufrague e os saudosistas de 64 resolvam tomar as rédeas do poder para não permitir um possível volta Lula ou de algum comunista de plantão.
    A intervenção militar também é vista no judiciário quando alguns deles parecem ter influenciado na decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do STF, quando este revogou a liminar do ministro Marco Aurélio Mello(STF) que suspendia a prisão em 2ª instância que visava, principalmente, libertar Lula da prisão.
    É sabido que antes da revogação da liminar o Alto Comando do Exército se reuniu em videoconferência para discutir os impactos da liberação do ex-presidente. Está reunião, assim como a militarização do governo Bolsonaro, é estranha, muito estranha. Tomara que o futuro presidente cumpra seu mandato e não seja apeado do poder antes do tempo, como tudo parece acontecer.
    Será que isto será apenas uma mera preocupação minha e sem maiores consequências?
    De qualquer forma ditadura nunca mais!

    Juarez Cruz
    Escritor e cronista
    [email protected]
    Salvador-BA

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