O ser que habita e come

 

 

É época de anjos no céu, dias em que as pessoas se abraçam. Mais um ano e os santos estão quietos nos altares e vitrais da cidade. Outros brindam  suas taças , apesar dos castigos em curso. O caldo do mocotó.

 

Olho o céu e é vento. Tudo é fome de nós.

 

Sei que tatu é bicho de toca, sei também que entre os mutuns, bela ave de penachos, é o macho que alimenta a fêmea. Digo também que tudo que gruda na língua é comida para tamanduá.

 

Aqueles que não entendem o país, que andem e despertem, que caminhem nas matas. Não só Jesus anda entre goiabeiras, mas sacis, orixás, pajés e a bicharada toda povoa os cantos e distâncias de nossas carências e crenças. E também João Cabral, Carlos Drummond ou Manoel de Barros. Nem só de fé vive o homem.

Que se atente o cidadão, nesse mundo,  só a tolerância pode produzir um país, ou a onça nos devora.

Aproxima-se o dia de novas posses, divisas e redentores. Tudo é história, perfídia ou revelação. Sei apenas que o Cristo Redentor, estático e sereno sobre a pedra, imóvel recebe. Pura teimosia. A tolerância é o sangue em nós e nada se cansa. Tudo aventura-se aqui.

 

Teimosia e toda violência é nosso nome, sertão entre bananeiras, bananas que nos nutrem.

 

Vejo a anta cruzando o rio, fugindo da onça. Piranha no anzol, arco e tinta fresca no corpo. Tudo segue a língua e o apetite dos homens, há sede e tantos buscam.

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