Mente quem diz

 

 

 

 

 

 

 

 

Era noite na cidade. Vazia, saio com o carro para mudar de ano sobre rodas. Os homens abandonaram as calçadas e a via. Toda solidão é minha, noite de festa e passagem.

O templo fechado anuncia que há vagas para futuros negócios. Um Oriente, transverso de primeiro ministro, invade minha praia e asfalto. Nessas horas nem sei mais se é questão de utopia, direito, fé ou acordos . Sei que a paisagem é assim há séculos, negociatas. Tantas assinaturas impõem-se nos cais e paradas de ônibus, e há árvores cheias de luz na beira do lago.  Homens sorriem com suas famílias, comendo todos hot dogs possíveis e aquela pipoca que cheira bem onde há povo, querendo um ano novo.

Pulsa a onça e um menino nu em minha alma, antigos territórios, onde o novo algoz anuncia suas pretensões e a nação nem sabe de si.


 

Dispo-me das roupas e é branca a dor entre a nudez castigada, como luz reflexa em prata de faca. Insuportável. Previsível.

 

Promessas demais pontuam o céu, discursos e anseios. É alta a expectativa entre os homens, a bolsa dispara em novas pretensões e promessas.

 

 Mente quem diz.

 

 

 

O rio de meu amigo não passa naquela fazenda, corre mais ao norte, em diferentes fusos das horas. Quando na capital dá meio dia,  lá ainda aprecia seu café. Que país é esse e qual seu tempo?

 

Agora sei que falta pouco para tudo virar um pampa, um reordenamento de cursos e correntezas. Se as águas fogem, cata-se no laço, por mais irracional que seja laçar líquidos.  Eles querem rimas fáceis, não sabem o que fazem; tende piedade do que escrevem e profetizam.

Andamos à flor da pele e sabemos que astronautas vivem no mundo da lua. Se temos ministros do espaço em novo governo, há de se acreditar nos alienígenas que habitam entre nós, agora.

 

Nossa herança indígena, puro ouro nessa terra cansada, espoliada da Fundação Nacional do Índio sem dó, depara-se com ameaças aos limites de sua gente. Fazendeiros irão demarcar as invasões de nossos interesses.

Acordo tão triste, tão fundo espinho na mão nesse ritual de iniciação de minha nação, que custa transcender o óbvio.

 

Mais fortes,  mais bravos, sei, ficamos assim.

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