Esta semana o Frente Favela Brasil lançou uma nota se posicionando no episodio do julgamento do presidente Lula, dia 24 de janeiro no TRF-4, em Porto Alegre.
Antes de falar sobre a nota oficial, acreditamos ser importante explicar para nossos leitores e leitoras um pouco sobre quais são as motivações, objetivos e quem compõe a base do Frente Favela Brasil. Para isso conversamos com o Ederaldo Nascimento, o Deco, e o Luiz de Jesus, vice-presidente da nacional, do Frente, Algo que de pronto eles sempre pretendem lembrar é que todos e todas são voluntários(as).
Seus ativistas e militantes sempre enfatizam que o Frente ainda busca assinaturas para se tornar um partido, como diz um dos seus colaboradores, o Deco, E completou informando que jovens sempre serão mais assistidos por se entender que são a parte mais vulnerável da população.
Já Luís de Jesus esclarece (ou enegrece, no vocabulário preto) algumas dúvidas que ainda pairem sobre que partido pretendem formar no que toca seus valores e objetivos:
“O Frente Favela Brasil é um partido “pós-ideológico”, de vocação popular e com um viés democrático, que se dedica a produzir os meios para que o estado brasileiro reconheça a falta de negras e negros, moradores das favelas, de periferias nos espaços de poder e nas esferas de representação política.
Diferente do que alguns dizem, não somos um partido só para pretas e pretos, e sim, um partido que está sendo formado por todas as pessoas da sociedade brasileira que desejam um Brasil mais justo e com oportunidades de igualdade. Ou seja, defendemos que moradores de favelas, em sua maioria negras e negros, possam ter a possibilidade de olhar para a política de uma forma mais inclusiva. Que se vejam dentro da política, representados por ela. Sendo assim, é natural que o protagonismo sejam de negras e negros, dentro do partido.
A nossa proposta é construir uma plataforma em que as negras e os negros favelados não somente votem, mas que principalmente sejam votados.
Cansamos de ficar passando pires. As cotas são matéria vencida. Hoje nós queremos o poder, pois sabemos que somos maioria da população brasileira e não nos vemos representados nas esferas de poder municipal, estadual e federal. Sem contar o judiciário.
Mas não queremos o poder pelo poder e sim desejamos ter a real possibilidade de mudar a vida de uma população historicamente excluída: preta e favelada. Entendemos que houve avanços, porém ainda carecemos de um modelo político que nos contemple por inteiro.
O partido é feito por voluntários, que na sua grande maioria não vieram de partidos políticos, A ideia é que nos transformemos num movimento que nasce do desejo de defender e representar uma pauta. Um recorte específico. E para isso precisamos estar na mesa que é de quem decide, ou seja, termos voz.
Já nascemos, no Frente, com representatividade real, pois a mulher tem 50% em todos os cargos. É uma forma de manter a paridade na prática. Outro fator importante é salientar que reservamos 50% das cadeiras para menores de 35 anos, ou seja, metade das nossas candidaturas será de mulheres jovens e negras. Isso é uma revolução.
E a nossa diversidade não para por aí. Na copresidência do partido estão Patrícia Alencar, do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, educadora e candomblecista, e Wanderson Maia, cientista político, católico, homossexual, criado nos subúrbios do Rio. Os vice-presidentes são uma indígena do Pelourinho, no centro de Salvador, e um pastor evangélico da favela de Vila Clara, em São Paulo (Eu).
Por fim, nós enquanto negras e negros sempre estivermos nos bastidores da política e por isso entendemos que chegou a hora de subirmos ao palco e contarmos a nossa própria história.”
Não percam em breve uma entrevista com Celso Athayde, idealizador do Frente Favela Brasil. Abaixo, a nota oficial do futuro partido, sobre a participação do ex-presidente Lula nas Eleições 2018.
“QUEM É VÍTIMA DA DESIGUALDADE NÃO SERÁ CÚMPLICE DA INJUSTIÇA!”
Vivemos em um país desigual. Crescemos vendo os filhos dos negros e favelados tendo que se esforçar muito mais do que um branco para chegar no mesmo lugar. Ser senhor do próprio destino não é uma tarefa fácil no Brasil!
Aqueles que, desde a escravidão mandam em nosso país, fazem de tudo para garantir seus privilégios. Primeiro tentaram impedir o voto universal. Quando a democracia se tornou inevitável, criaram currais eleitorais e passaram a usar da corrupção e da compra de votos para se manterem no poder. Do alto de suas coberturas, de dentro de seus clubes privados, onde mulheres negras só entram servindo e vestidas de branco, os verdadeiros beneficiados de nossa desigualdade acreditam que só eles, que se consideram os mais preparados e instruídos, devem decidir os rumos da nação. No fundo, acreditam que o voto direto nada mais é do que a representação política daquela velha máxima de “entregar os anéis para não perder os dedos”. Um mal necessário, para dar ao povo uma ilusão de poder.
Em nossa batalha diária em busca de igualdade de oportunidades, conquistamos a constituição de 88 e consolidamos um modelo democrático que garante, ao menos no dia da eleição, que brancos e negros tenham igual direito de decidir por quem devem ser governados.
De lá pra cá, acertamos e erramos, mas pagamos com nosso suor e nossos impostos cada um dos nossos erros. Até nisso o Brasil foi desigual. Sabemos que quando se rouba do Estado são os mais pobres que pagam a conta.
O Frente Favela Brasil acredita que na democracia o maior juiz é o povo! Somos as maiores vítimas dos escandalosos desvios feitos por lideranças de praticamente todos os partidos mas acreditamos que só o povo, e ninguém mais, pode decidir quem será o próximo presidente da República.
Impedir a candidatura do Ex- Presidente Lula, de um migrante nordestino que é líder absoluto em todas as pesquisas, é hoje o maior risco para nossa democracia.
O Frente Favela Brasil surgiu para romper com a crise de representatividade que vivemos. Exatamente por isso, não iremos retroceder no princípio fundamental da nossa Carta Magna que é explícita em afirmar que “Todo o poder emana do povo”.
Quem sempre foi vítima de preconceito, quem deu o sangue para garantir o direito de votar e decidir o seu próprio destino, quem acredita que só o voto pode romper com o abismo que existe entre governantes e governados, não pode ser cúmplice de nenhuma tentativa de ganhar uma eleição no ‘tapetão’.
Temos várias críticas ao Lula e ao PT e por isso criamos nosso movimento para romper com as velhas práticas da política tradicional, mas acreditamos que o direito do povo escolher seus governantes não se trata de uma batalha entre a esquerda e a direita. É uma luta entre a civilização democrática e a barbárie autoritária, que finge mudar para permanecer como está.
Frente Favela Brasil ??. 21 / janeiro / 2018